“Queria ser uma rapper”, diz Theresa Wayman, do Warpaint, que se apresenta em São Paulo

Banda é atração desta sexta, 3, e sábado, 4, no Art of Heineken, que acontece no Museu de Arte Contemporânea da USP

Lucas Brêda

Publicado em 03/02/2017, às 19h54 - Atualizado às 20h41
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Emily Kokal (guitarra e voz) Jenny Lee Linberg (baixo e voz), Stella Mozgawa (bateria e voz) e Theresa Wayman (guitarra e voz) formam o Warpaint - Divulgação

Na última segunda, 30, um anúncio pegou os fãs brasileiros do Warpaint de surpresa. A instalação Art of Heineken, que acontece no Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo, durante o primeiro semestre do ano, anunciou dois eventos com shows do quarteto norte-americano, nesta sexta, 3, e sábado, 4.

Os ingressos, como era de se esperar, esgotaram-se rapidamente. “Não penso, na verdade”, conta a guitarrista e vocalista do grupo, Theresa Wayman, referindo-se à fatia brasileira do público do Warpaint. “Eu deveria pensar um pouco mais no alcance da nossa música, o quão longe ela pode chegar. Não acredito que nos faria mudar alguma decisão artística, musical, mas é legal lembrar disso. O que fazemos não vai durar para sempre, é uma questão de aproveitar o momento.”

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Theresa, uma das mais desenvoltas integrantes da banda, concedeu entrevista à Rolling Stone Brasil no hotel que a banda está hospedada, na região da Avenida Paulista, horas antes do primeiro show na capital paulista. Ela elogiou o Parque do Ibirapuera, próximo ao local da apresentação do Warpaint, depois de mencionar que fez uma visita ao espaço.

O conhecimento da guitarrista em relação a referências brasileiras, contudo, limitou-se a poucos comentários. “Sei que vocês não estão passando por um momento político muito bom, certo?”, sugeriu, depois passando a falar – e pedir indicações – da música do país: “Não conheço praticamente nada. Sei da ‘Garota de Ipanema’, pessoas com violões.”

De volta ao Brasil depois de quase seis anos, o Warpaint lançou em 2016 o terceiro disco da carreira, Heads Up, depois de um tempo em que as integrantes se dedicaram a projetos paralelos. “Foi interessante quando nos reencontramos”, recorda. “Nós sempre mudamos e é muito interessante ver essas mudanças em cada uma.”

O terceiro álbum de estúdio do quarteto dá novas direções à sonoridade hipnotizante da banda, com abordagem mais limpa e crua na produção e músicas como o single “New Song”, de batida dançante e refrão contagiante. Parte das novidades sonoras surgiram a partir de um método diferente de trabalho, no qual elas compuseram em pares ou sozinhas, para depois juntar fragmentos e tomar decisões em relação ao produto final.

“Cada uma pôde desenvolver as próprias ideias de um jeito mais aguçado”, explica Theresa. As mudanças remetem a uma das fases mais conturbadas – e, ao mesmo tempo mais ricas criativamente – dos Beatles, quando o quarteto fez The Beatles (o Álbum Branco) praticamente em salas separadas de estúdio. Com quatro integrantes suficientemente ativas no desenvolvimento da sonoridade da banda – além de Theresa, integram o Warpaint Emily Kokal (guitarra e voz), Jenny Lee Linberg (baixo e voz) e Stella Mozgawa (bateria e voz) –, parece natural a necessidade de espaço com o passar do tempo.

“Eu consigo entender [o que aconteceu com os Beatles]: personalidades diferentes, disputa de poder, não entender perspectivas diferentes, há sentimentos, você está se colocando para fora musicalmente e, às vezes, você não quer ouvir que outra pessoa não acha aquilo certo”, teoriza. “Consigo claramente entender como as pessoas param de trabalhar juntos. Não é tão fácil como deveria.”

Perguntada se o exemplo se aplicava ao Warpaint, ela disse: “É assim: você volta para esse grupo onde você tem que se comprometer com tudo e discutir para tomar decisões. Fazemos isso ou aquilo? Como fazemos? Às vezes isso pode ser desgastante. Não nos vejo chegando no ponto onde não vamos conseguir falar umas com as outras, mas com certeza fazendo coisas que não sejam tão difíceis.”

“Somos uma banda há muito tempo e, por mais que eu saiba que temos uma voz única quando estamos juntas, nem sempre é prazeroso trabalhar junto”, confessa a guitarrista. “Então, não sei, vamos ver. Por outro lado, creio que ainda há muita coisa que podemos dizer pela música, então, não sei, é difícil.”

“Queria ser uma rapper”

“Quando eu era adolescente, eu ouvia muito Outkast e Wu-Tang Clan”, revela Theresa, comentando a influência de hip-hop e R&B na sonoridade do Warpaint. “Eu ouvia rap o tempo inteiro. Muito, muito do hip-hop fez parte da minha adolescência. E atualmente eles estão elevando isso a outro nível.”

Apesar de ser um assunto periférico no atual estágio do Warpaint, a ligação da guitarrista norte-americana com o gênero é certamente o que mais a interessou durante a entrevista. “Tenho a sensação de que a música que eles estão fazendo é a forma perfeita da expressão musical”, diz. “É uma plataforma incrível.”

“É sensual, é repetitivo, mas é profundo”, acrescenta, com certo brilho nos olhos. “Nessa lógica de repetição, você pode ter uma formação complexa de acordes ou algo muito simples que de todo jeito funciona. Além disso, eles têm muito o que dizer pelo rap. Tipo, não consigo me imaginar cantando sobre política, mas, se eu fosse uma rapper, eu me inclinaria à política em um segundo! Eu queria ser uma rapper: amo fazer beats, amo esse jeito de compor.”

Theresa pode não ser e nem nunca ser uma rapper, mas, segundo ela, a criação de músicas a partir de loops, ganchos e repetições já foi incorporado no estilo de tocar guitarra. "Quando você pega uma guitarra para compor, é normal fazer riffs e pontes e refrãos", explica. "Mas tenho tentado fazer como o rap: ter uma ideia que seja muito boa, tão boa que você pode repetir por minutos e construir uma canção em cima daquilo."

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