Mike Watt - Divulgação

“Quero fazer alguma homenagem ao Lou Reed, a morte dele mexeu muito comigo”, diz Mike Watt sobre os shows no Brasil

Baixista do Minutemen e do Firehose, volta ao Brasil depois de duas passagens com o Stooges e promete tocar músicas de toda a carreira

Carlos Eduardo Freitas Publicado em 06/11/2013, às 16h36 - Atualizado às 16h43

Pode causar estranheza para os entendidos, mas muita gente talvez não saiba diferenciar o que é um contrabaixo de uma guitarra. Por mais que gostasse de rock, Michael David Watt, aos 13 anos, era uma dessas pessoas em meados dos anos 70. Só descobriu que se tratava de dois instrumentos quando seu amigo D. Boon resolveu que os dois iriam fazer música. E Mike ficou com o baixo. Os dois formaram o Minutemen, uma das bandas mais influentes surgidas na cena punk californiana nos anos 80.

Aos 55 anos, prestes a completar 56, Watt vem ao Brasil pela terceira vez. Tocou aqui em 2005 e 2009 com Iggy Pop e o Stooges, com quem está desde 2003. Agora, ele faz dois shows com o Missingmen, banda que o acompanha desde 2006, no Rio de Janeiro, dia 11 de novembro, e em São Paulo, dia 12, para tocar na festa #GETLOUD, série de eventos da marca Converse (veja mais informações abaixo).

Watt conversou com a Rolling Stone Brasil por telefone, da casa dele em San Pedro, Califórnia, e prometeu tocar ao público brasileiro os clássicos de seus 33 anos de carreira no Minutemen, Firehose, Dos, entre outros tantos projetos.

Depois de duas vezes no Brasil com Iggy e o Stooges, você finalmente vem com seu trabalho solo. O que o público de Rio e São Paulo podem esperar nessa sua primeira visita solo?

Como nunca estive aí com minha própria música, quero levar um pouco de cada fase da minha carreira, dos meus trabalhos ao longo desses 33 anos.

Então quer dizer que vocês vão tocar músicas do Minutemen e do Firehose?

Sim! Mas preciso deixar claro que não somos uma banda tributo ao Minutemen ou ao Firehose. Tom e Raul entenderam bem o espírito da coisa. E George Hurley e D. Boon não esperariam que eu copiasse o que já fizemos. Ainda que eu tenha composto muitas das músicas, eu não era responsável por tudo. Mas as pessoas ainda se lembram de mim pelo que fiz no Minutemen. Além disso, agora já são 125 meses que estou tocando com o Stooges. A única banda em que estive tanto tempo foi o Dos, em que tocamos com dois baixos por 28 anos. A ideia é pegar o que temos e tentar contar uma história. Essa é a essência do punk. Talvez eu possa trazer Hyphenated-man em uma próxima oportunidade, quando as pessoas já estiverem iniciadas.

Desta vez não terá nada da sua terceira ópera, Hyphenated-man?

Ela, na verdade, é uma música só, dividida em 30 partes. Não tem o menor sentido separada. Como nunca tocamos aí, o contexto será um pouco particular para tocá-la desta vez. Prefiro levar um pouco dos meus outros trabalhos. Mas também quero fazer alguma homenagem ao Lou Reed. A morte dele mexeu muito comigo.

Muita gente nova não conhece o Minutemen, mas vocês influenciaram gerações de bandas. Qual o principal legado que deixaram?

Pode parecer curioso, mas tem tudo a ver com o baixo. Em todo o rock and roll nos Estados Unidos, colocam o baixo lá para trás. Como se fosse aquele seu amigo estúpido, enquanto o guitarrista é o rei de tudo. No punk, todo mundo está em cima, igual. D. Boon achava exatamente isso, o que explica muito do som que o Minutemen fazia. Ele queria colocar ideias e políticas igualitárias em um power trio. E ele conseguiu. George [Hurley, baterista] tinha um estilo bem lírico de tocar bateria, enquanto eu fazia as melodias no baixo e ele colocava a guitarra para baixo, bem aguda, para deixar espaço para nós dois. Ele fez acontecer essa coisa de igualdade, não a deixou se tornar apenas um slogan, coisa que nós, humanos, adoramos deixar acontecer.

Em seu primeiro trabalho solo após o fim do Firehose, você lançou o disco Ball-Hog or Tugboat? (1995) e excursionou com uma banda que tinha Dave Grohl na bateria e Eddie Vedder na guitarra. Como foi tocar com eles?

Foi curioso, porque muita gente acabou me conhecendo porque toquei com eles. Fiquei um pouco mais em evidência do que quando estava no Minutemen. Afinal, eles eram os caras do momento. Aquele foi um disco estranho. Eu não tinha uma banda – e isso é estranho sob o ponto de vista de um baixista. Eu pensava: se o baixista conhecer as músicas, qualquer um poderia tocar bateria, guitarra ou cantar. Montei 17 bandas, com 45 caras diferentes e gravei o disco. Quando ele foi lançado, Dave tinha acabado de começar uma banda chamada Foo Fighters. Ele estava falando com Eddie [Vedder], que também estava no Hovercraft. Eles me perguntaram: "Por que não fazemos uma turnê juntos? Nossas bandas abrem e a gente toca com você". Foi uma turnê bastante esquisita para mim, dirigindo uma van sem ter uma banda. [Risos] Mas Dave Grohl… Cara, ele é um dos bateristas mais rock and roll de todos os tempos. Nossa, como aquele cara toca!

Hyphenated-man, sua terceira ópera, fala sobre um punk de meia-idade. Como é ser um punk aos 55 anos?

O segredo é não tirar o pé do chão e não se deixar enganar. Quando você vai ficando velho, vai achando que já sabe de tudo. E temos de lutar contra isso. Eu realmente acredito que todo mundo tem algo a nos ensinar. E outra coisa importante é sempre se manter aberto. Essa tem sido minha principal filosofia de vida. É disso que fala Hyphenated-man: a vida é para aprender. É no mínimo curioso, porque o Minutemen jamais cantaria sobre qualquer coisa do tipo. As pessoas ainda vêm com alguns clichês sobre o punk.

O que significa ser punk, então?

Não quero dizer que tenho a definição final, mas o punk, para mim, nunca foi um estilo musical, mas sim um estado de espírito. Um estilo que afeta tudo, como a pintura, a poesia, a literatura, mexe com toda a forma de expressão. O que eu gostava é que quando você não sentia que pertencia a algum lugar, você precisava procurar pessoas que pensavam da mesma maneira e criar seu próprio mundo, um universo paralelo. Isso era o punk para a gente – no meu caso, eu e D. Boon. É isso para mim agora. É por isso que acho que o punk não vai morrer: porque não é um gênero musical, não é um estilo. Pode até ser na cabeça de muita gente, mas não é a verdade. Existem muitas e muitas maneiras de ser punk. Cada um tem seu próprio olhar sobre isso, o que torna as coisas mais interessantes. O que eu mais gostava quando entrei nisso era a imprevisibilidade. Você nunca sabia como as coisas seriam.

Como o caso de ser chamado para tocar no Stooges, por exemplo?

Exato! É como estar num cassino, vendo a bola girar pela roleta. Às vezes você tem sorte; às vezes, azar. Eu perdi D. Boon, acabei no Stooges. Foi engraçado como tudo aconteceu. Era abril de 2003. Estava tocando com o Secondmen em Tallahassee, na Flórida, e recebi um telefonema. Era Ig [Iggy Pop]. "Ei, Mike, Ronnie [Asheton] me disse que você é o cara." Jamais poderia esperar um telefonema como aquele. "Você poderia me fazer apenas um favor? Vestir camiseta em vez de camisas de flanela?" Eu respondi: "Fuck yeah! Não se preocupe" [risos]. "E se importa de usar All Stars em vez de sapatos?" [Risos] Depois ele ficou me falando sobre roupa, luzes e como os shows seriam. Duas semanas depois, deixei minha banda em Memphis e voei para a Califórnia, pois tocaríamos no Coachella. Fiquei doente no voo e fui para o ensaio em North Hollywood, mas não falei para ninguém que estava mal. No dia seguinte foi o show. E foi incrível. Meu resfriado sumiu. Mais de dez anos, 125 meses depois, tudo segue da mesma maneira, como naquele primeiro show. Não é que eu tenha me acostumado a isso ou que tenha virado uma rotina. Mas tocar com o Stooges aquelas músicas me fez voltar à minha cabeça dos tempos de adolescente.

Como é tocar com seus ídolos?

Sinto que devo a eles tudo o que tenho. Cada minuto é precioso ao lado deles. Os shows parecem durar apenas cinco minutos. Eles passam tão rápido! [Risos] Poder tocar as músicas mais antigas, que ficaram na minha cabeça tantas vezes, com os caras que as fizeram… É uma viagem. Algo que nunca, jamais, poderia imaginar na vida. Receber aquele telefonema em Tallahassee. É, a vida é estranha…

Mike Watt no Brasil

Rio de Janeiro

11 de novembro, às 21h

Studio RJ - Av. Vieira Souto, 110 – Ipanema

Informações: (21) 2523-1204

São Paulo

12 de novembro, às 21h

Hangar 110 - R. Rodolfo Miranda, 110 - Bom Retiro

Informações: (11) 3229-7442

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