A apresentação encerrou a turnê comemorativa de 25 anos de carreira dos Racionais e deu início aos trabalhos do novo álbum, Cores & Valores, o oitavo disco de estúdio deles., que foi divulgado no mês de novembro - Pedro Amora

Racionais MC's dá aula de hip-hop em festa de oito anos da Rolling Stone Brasil

Evento aconteceu na noite desta quinta, 4, no Grand Metrópole, em São Paulo

Luciana Rabassallo Publicado em 05/12/2014, às 04h49 - Atualizado em 05/01/2015, às 18h54

O relógio se aproximava da meia-noite quando os beats de “Cores & Valores” ecoaram pelo Grand Metrópole, em São Paulo. No palco montado com exclusividade para a festa de oito anos da Rolling Stone Brasil, “os quatro pretos mais perigosos do Brasil” entraram em cena e animaram o público. O evento, que aconteceu nesta quinta, 4, e teve início por volta das 22h, trouxe ao palco o Racionais MC’s, além do projeto LIVE4DEXX – que esquentou o público com um set recheado com o melhor da sonoridade proveniente da música eletrônica.

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Maior nome do hip-hop nacional, o grupo foi o escolhido para comemorar, além do aniversário da revista, as nossas primeiras 100 edições. A apresentação, que revisitou o vasto repertório do Racionais MC’s, faz parte do show comemorativo de 25 anos de carreira deles, que rodou o país durante o ano de 2014 e lotou os locais pelos quais passou.

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Os hits "Da Ponte pra Cá", "Negro Drama" e "Mil Faces de Um Homem Leal (Marighella)" foram cantados em uníssono pelos 1,5 mil convidados que estavam no Grand Metrópole, enquanto o conhecido desenho do palhaço coloria o palco. A energia da plateia parece ter contagiado o grupo, que se esmerou no flow enquanto KL Jay soltava novas batidas para sucessos como "Negro Drama" e "Vida Loka Pt.1".

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Chegando à oitava edição, a festa de aniversário da Rolling Stone Brasil manteve a tradição de reunir artistas, músicos, produtores e entusiastas do entretenimento brasileiro. Além de trazer as apresentações ao vivo, o evento mostrou-se como uma oportunidade de encontro entre famosos, celebridades e integrantes do meio artístico para troca de experiências.

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Para encerar, "Vida Loka Pt.2" foi acompanhada de muitas garrafas de espumante estouradas em direção ao público e a certeza de que, mesmo sem os famosos discursos do coletivo, a música fala por si. A apresentação encerrou a turnê comemorativa de 25 anos de carreira dos Racionais e deu início aos trabalhos do novo álbum, Cores & Valores, o oitavo disco de estúdio deles., que foi divulgado no mês de novembro

No próximo dia 20 de dezembro, acontece o show de lançamento do álbum. A festa será no Espaços das Américas, em São Paulo. Os ingressos estão à venda no site Ticket 360 e custam R$ 120 (R$ 60 - meia-entrada).

Um pouco de história:

O ano era 1990 e chegava às lojas o álbum Holocausto Urbano, o disco de estreia do Racionais MC's. Com seis faixas, incluindo "Pânico na Zona Sul" e "Tempos Difíceis", que saíram na coletânea Consciência Black, Vol. I. (1988), o trabalho é, de longe, o mais radical da carreira de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Canções como "Hey Boy", "Mulheres Vulgares" e "Racistas Otários" marcam o ápice das letras de protesto do grupo, que retaram com batidas cruas a realidade das periferias de São Paulo.

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O surgimento do Racionais foi um divisor de águas não apenas para o rap nacional, mas também para a indústria fonográfica e a história da música brasileira. Inspirados no trabalho do coletivo norte-americano Public Enemy, a missão dos jovens rappers era clara: denunciar a pobreza extrema dos cidadãos que vivem à margem da sociedade, retratando de forma contundente e nada romântica o cotidiano deles - uma vida sem esperança de um futuro melhor e driblando a violência policial e urbana. A fórmula funcionou.

Antes que percebessem, eles se tornaram um ponto de referência para milhares de jovens no Brasil. Em 1993, com "Fim de Semana no Parque" e "Homem na Estrada", ambas de Raio-X do Brasil, terceiro disco dos Racionais, o rap nacional começou a tocar em rádios populares de São Paulo. O movimento trouxe à tona uma realidade que, embora fosse a vivida pela maior parte dos brasileiros, permanência invisível.

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A explosão, contudo, aconteceu apenas em 1997, com o seminal "Sobrevivendo no Inferno", lançado pelo Cosa Nostra, selo criado pelos próprios Racionais. Com clássico como "Diário de um Detento", "Capitulo 4, versículo 3" e "Periferia é Periferia", o disco fez sucesso imediato e bateu recordes de vendas para um trabalho do gênero no país: 500 mil cópias. O álbum foi o responsável por colocar o grupo na mídia e apresentá-lo ao grande público.

Com o sucesso, vieram o reconhecimento e os prêmios. O clipe de "Diário de um Detento" ganhou o MTV Video Music Brasil, na categoria escolha da audiência, em 1998. O troféu foi um recado aos que consideravam a música dos Racionais como "som de bandido" e tiravam o mérito do trabalho dos rappers por pertencer a um movimento cultural popular. Além disso, o prêmio foi resultado de um trabalho completamente livre, sem divulgação de gravadoras. O Racionais MC's já eram independentes antes mesmo de as gravadoras se tornarem obsoletas - ensinando o caminho das pedras para as novas gerações.

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Quase três décadas depois, o grupo é o maior nome do hip-hop nacional e da música brasileira. A trajetória deles não apenas evidenciou a dura realidade da periferias, como incentivou a evolução do rap e viu surgir nomes como Sabotage, Criolo, Kamau e Flora Matos, além de Emicida. O maior exemplo da independência que o Racionais viveu lá nos anos 1990 foi ter criado um selo próprio, uma produtora (Laboratório Fantasma) e uma marca que vende camisetas e bonés - que gera capital para novos investimentos e gravações, fazendo a engrenagem girar sozinha.

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