René Sampaio, diretor do filme que leva o nome da música do Legião Urbana, fala sobre a criação do longa-metragem e a tentativa de fugir dos clichês que marcam as adaptações cinematográficas
Bruno Raphael Publicado em 16/11/2011, às 15h57 - Atualizado às 17h32
“São dois projetos muito diferentes. A música respeita métrica, ritmo e rima. O filme, uma obra de ficção que quer contar uma história, respeita o drama e o arco do personagem”, explica o diretor René Sampaio sobre Faroeste Caboclo, filme baseado na canção homônima do Legião Urbana. O diretor falou à Rolling Stone Brasil sobre tudo que levou à produção do filme: sua idolatria por Renato Russo, o contexto da história e o que devem esperar fãs da música e da banda.
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Em fase de edição, o longa-metragem deve chegar aos cinemas do Brasil todo no primeiro semestre de 2012, quando também sairá Somos Tão Jovens, cinebiografia de Renato Russo (leia aqui a matéria publicada na edição 60/novembro 2011 da Rolling Stone Brasil).
“Quando eu ouvi a música, eu vi o drama. A gente buscou trazer o que a música tem de palpável e emocional para dentro de uma história”, explica René. “Na verdade, esse filme começou em 1987, pelo menos pra mim, quando eu ouvi pela primeira vez a música. Eu devia ter uns 13, 14 anos e me empolguei muito com a história. Pensei: ‘Pô, isso daria um filme’. Adaptar foi transformar essa linguagem musical em alguma coisa que respeitasse as regras do cinema.”
As influências da música, na opinião de René, são tão vastas que o papel de comprimi-las em um filme já é uma tarefa árdua. “O ‘Faroeste’ lida com o cordel, com os cantadores da idade média”, reflete o diretor. “Essa coisa de narrativa através da música foi perdida há muito tempo no mainstream: você não liga uma rádio para ouvir uma história. Mas há várias histórias [em músicas], como “The Boxer”, do Simon & Garfunkel, e “Hurricane”, do Bob Dylan, que provavelmente são uma fonte de inspiração [para “Faroeste Caboclo].”
A criação de Faroeste Caboclo, o filme, já tem cinco anos de estrada, incluindo a produção e a filmagem, realizada este ano em Brasília, Pará, Paulínia e, por fim, em um bairro de Recife chamado Pau Ferro. O local foi usado para constituir a infância de João de Santo Cristo, personagem principal do filme, interpretado por Fabrício Boliveira (Ísis Valverde será Maria Lúcia, e Felipe Abib viverá Jeremias; na foto, ela aparece ao lado de René e Fabrício). “A gente faz o filme três vezes: quando escreve o roteiro, e você acha que o filme é aquilo; quando filma, quando você fala: ‘Porra, é isso!’, e a terceira quando você começa a editar, que é onde estamos”, relata René. “O filme diz o tempo que ele tem. Não é um videoclipe da música, mas uma releitura artística. A gente filmou querendo um diálogo com o público, também.”
Os motivos que movem René Sampaio a fazer Faroeste Caboclo, segundo ele mesmo, são os mais sinceros possíveis: é um fã da carreira de Renato Russo e do Legião Urbana. “Fazê-lo mudou minha percepção sobre tudo”, confessa o diretor. “Talvez fosse impossível ser mais admirador [de Renato Russo] do que eu sempre fui. Eu fiz porque acho que a música é uma coisa diferente de tudo que eles fizeram. Focamos no drama humano: no relacionamento com a Maria Lúcia, o grande amor transformador, as fraquezas, por que ele vira bandido. Essa ambiguidade a gente buscou no filme. Longe de querer defender o bandido ou vitimizar, buscamos um ser humano.”
Preocupado com a reação do público, René disse ter se pensado nos fãs da banda quando fez o filme, mas tenta fugir da obviedade. “Num certo sentido, também sou fã”, diz. “Mas, se os outros fãs esperam um clipe da música, eles não vão encontrar. O cara que é fã de verdade procura algo mais profundo. Vão encontrar uma outra leitura sobre algo que eles já escutaram.”
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