- Agnès Varda no Berlinale em 2019 (Foto: Thomas Niedermueller / Getty Images)

Relembre a trajetória de Agnès Varda, uma das maiores cineastas da história

Agnès Varda, conhecida como a mãe da Nouvelle Vague, completaria 93 anos neste domingo, 30 de maio

Vitória Campos (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 30/05/2021, às 14h00

“O cinema é minha casa, acho que sempre vivi nele,” disse a cineasta Agnès Varda, considerada uma das principais figuras da história do cinema, e a mãe do movimento francês Nouvelle Vague. Nascida em Bruxelas, na Bélgica, a diretora completaria 93 anos neste domingo, 30 de maio.

Sempre com personagens femininas fortes e temas os quais criticavam a sociedade - como machismo e racismo - Agnès Varda gostava de fazer filmes inspirados na realidade, e optou por realizar muitos documentários durante a carreira. Além disso, gostava de filmar ao ar livre, raramente escolhendo um set como locação, algo mais comum na época. 

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Varda acreditava na cine-escrita, ideia a qual defendia que os principais elementos do cinema -  como a edição, composições e movimentos - fossem escolhidos da mesma forma que um escritor escolhe palavras.

A cineasta lutava a favor dos povos marginalizados da sociedade e era apaixonada por mostrar o melhor das pessoas nas produções. No documentário As Praias de Agnès (2008), Varda disse como acreditava que “se abríssemos as pessoas, encontraríamos paisagens.” Foi a única mulher a ganhar a Palma de Ouro Honorária e a primeira diretora a ganhar o Oscar pelo conjunto da obra. 

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Relembre a trajetória da cineasta Agnès Varda, uma das maiores cineastas da história:


Vida totalmente dedicada ao cinema

Agnès Varda, nascida Arlette Varda, dedicou-se ao cinema até os últimos dias de vida. Começou a carreira como fotógrafa, e isso foi essencial quando decidiu dirigir e roteirizar o primeiro longa-metragem, La Pointe Courte (1955), mesmo sem ter nenhuma experiência na área. A produção mostrava um casal retornando à cidade natal do marido, e, enquanto passavam por uma crise, éramos apresentados à momentos de reflexão sobre a relação dos dois. 

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La Pointe Courte (1955) (Foto: Reprodução) 

 

O filme de Varda é considerado por muitos críticos como o pontapé inicial para a Nouvelle Vague, no entanto, os diretores homens como François Truffaut e Jean-Luc Godard recebem muito mais crédito. 

Nouvelle Vague foi um movimento cinematográfico nascido na França nos anos 1950, o qual tinha o intuito de ir contra as produções hollywoodianas. Prezava por realizar um cinema mais pessoal, conhecido como “cinema de autor,” e pretendia ter um menor orçamento, atores pouco conhecidos na época, filmagens na rua ao invés de set e temas cotidianos. 

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Em 1958, a diretora conheceu Jacques Demy, outro cineasta francês apaixonado por musicais, responsável por Os Guarda-Chuvas do Amor (1964) e Duas Garotas Românticas (1967). Três anos depois, casou-se com ele, com quem viveria até os últimos dias do diretor, em 1990.


A Obra-prima de Varda

Corinne Marchand em Cléo das 5 às 7 (1962) (Foto: Reprodução) 

 

No entanto, apenas em 1962, Varda realizou sua obra-prima e o filme pelo qual viria ser mais conhecida, Cléo das 5 às 7 (1962). A produção retrata uma cantora pop (Corinne Marchand) por duas horas enquanto aguarda o resultado de uma biópsia. Além de ter sido selecionado para o Festival de Cannes, o longa junta diversos temas em uma produção só, como as angústias de uma mulher sempre objetificada, o medo da morte e a extrema sensibilidade ao debater temas cotidianos. 

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Varda sempre lutou pelas causas sociais e dedicou-se a representar vidas as quais não recebiam o destaque suficiente na época. Realizou o documentário de curta-metragem Saudações, Cubanos! (1963), o qual reúne 1800 fotografias sobre Cuba quatro anos após a chegada de Fidel Castro. Também dirigiu Os Panteras Negras (1968), filmado no verão de 1968 em Oakland, Califórnia, durante as reuniões organizadas pelo Partido dos Panteras Negras para libertar Huey Newton

Com tantos sucessos na carreira, Varda fundou a própria produtora, chamada Ciné-Tamaris. Lá, realizou vários outros projetos de sucesso, como Uma Canta, a Outra Não (1977), Os Renegados (1985) e Jacquot de Nantes (1991), filme dedicado a contar a vida e morte do marido, Jacques Demy. Também realizou os documentários Os Catadores e Eu (2000) e As Praias de Agnès (2008). 

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Em 2017, recebeu o Oscar Honorário pela longa carreira, sendo a primeira mulher da história a ganhar esse prêmio. No mesmo ano, realizou Visages, Villages (2017), junto ao artista JR, o qual mostrava os dois criando retratos das pessoas as quais encontravam. A produção foi indicada como Melhor Documentário, e, com isso, Varda se tornou a pessoa mais velha a ser nomeada em uma categoria competitiva do Oscar.


O cinema se torna órfão

O documentário Varda por Agnès (2019), o qual conta sobre a própria vida, foi o último filme da cineasta e serviu como uma bela despedida. Agnès Varda morreu em 29 de março de 2019, aos 90 anos, devido a um câncer de mama. 

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Varda deixou dois filhos, Rosalie Varda e Mathieu Demy. Muitos famosos comentaram sobre a morte da cineasta, Madonna contou como Varda era sua diretora favorita, e Martin Scorsese, quem já a havia chamado de "Deus do cinema," disse: “Duvido que Agnès Varda tenha seguido os passos de qualquer outra pessoa, em qualquer área de sua vida e de sua arte, que eram a mesma coisa. Ela fez o próprio caminho, ela e sua câmera. Me sinto tão sortudo por tê-la conhecido. E a todos os jovens cineastas: vocês precisam assistir aos filmes de Agnès Varda.”

Considerada uma mulher à frente de seu tempo, foi responsável por ser a mãe da Nouvelle Vague, criando um estilo totalmente novo de filmar. Também é conhecida por ser a pioneira no uso de personagens femininas fortes e retratar figuras marginalizadas em seus filmes. 

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Não tem como discordar que Agnès Varda sabe contar histórias, e, como dito pela própria cineasta, não há como negar que o cinema foi sua casa, e ela, com certeza, sempre viveu nele.

Agnès Varda em Varda por Agnès (2019) (Foto: Divulgação)

 


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