- O gato Church é o primeiro a voltar ao mundo dos vivos em Cemitério Maldito (Foto: Divulgação)

Remake de Cemitério Maldito muda a trama, mantém a essência e, pasmem, surpreende [Análise]

Nova adaptação do livro de Stephen King revisita a história do cemitério amaldiçoado capaz de ressuscitar quem é enterrado ali

Pedro Antunes Publicado em 12/05/2019, às 18h20

Os trailer estragaram um pouco a surpresa, é verdade, ao mostrar qual dos filhos da família Creed morre para dar início a uma espiral de loucura e destruição que os leva à tomada de decisões insanas, sangue e alguns corpos espalhados pelo caminho. O novo Cemitério Maldito, um remake do filme de 1989 dirigido por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, ainda assim, surpreende.

A versão "Cemitério Maldito 2.0" eleva toda a tragédia criada pelo escritor Stephen King ao quadrado. Os litros de sangue, também. Como os vídeos de divulgação mostravam, não é mais o pequenino Gage quem morre entre os filhos da família Creed e, sim, a pré-adolescente Ellie (Jeté Laurence).

A opção pela morte da criança mais velha dos Creed dá profundidade à trama quando a criança passa a tentar entender como morreu, como ressuscitou e, principalmente, como tudo isso aconteceu. É uma camada que, por fim, também poderia ser mais explorada, mas Cemitério Maldito não busca mergulhar em águas tão profundas assim.

A verdade é que a nova versão do filme clássico, embora traga novidades suficientes para trazer os fãs da velha-guarda para as poltronas de cinema, não faz esforço em criar uma ambiência mais sedutora às novas gerações.

Cemitério Maldito, nas suas três versões (o livro de King e as duas produções para o cinema), é construído sobre a mesma base: a família Creed deixa a agitada cidade de Boston para buscar refúgio na área rural de Maine.


Próximo à casa da família, há um cemitério de animais, no qual os moradores locais fazem marchas fúnebres tenebrosas para enterrar seus bichinhos (completamente desnecessárias para a história, aliás). Adiante dele há um outro terreno, este amaldiçoado com a capacidade de ressuscitar quem ou o que for enterrado ali.

A família passa a ser atormentada por tragédias. O primeiro a morrer atropelado em uma rodovia que corta o terreno deles é o gatinho Church. O novo vizinho Jud Crandall (John Lithgow), diante da tristeza da pequena Ellie, induz o pai da família Louis (Jason Clarke) a enterrar o felino no cemitério amaldiçoado. Eles o fazem e, naquela mesma noite, Church está de volta e mais agressivo.

Na trama original, o pequeno Gage é quem morre na sequência, também atropelado. Na nova versão, Louis é capaz de salvar o filho, mas Ellie acaba no caminho do caminhão desgovernado e morre. Devastado, ele decide trazê-la de volta à vida, como fez com o gato da família.


Seria interessante se os vídeos promocionais não estragassem a virada na trama, mas faz sentido do ponto de vista mercadológico. Os produtores precisavam provar que o novo Cemitério Maldito não seria somente uma cópia do longa lançado 30 anos atrás - eles precisavam atrair o público da versão anterior para as poltronas de cinema mais uma vez. 

A trama e as subtramas (como o tormento da mãe da família, Rachel, com a culpa pela morte da sua irmã, ou do espírito maligno Wendigo) não se conectam. Funcionam muito bem no livro de King, porque na literatura o número de páginas escritas não aumenta exponencialmente o valor da obra. Quando as páginas se tornam minutos de filme, o dinheiro fala mais alto e falta tempo para costurá-las propriamente.

Kevin Kölsch e Dennis Widmyer também se mostram distantes da ideia de criar uma linguagem própria e autoral para uma obra tão conhecida. Têm-se a impressão que só ligaram a câmera e tentaram recriar o longa de 1989. O fato do longa parecer um frankenstein de linguagens de cinema (narrativa ultrapassada filmada em alta definição) incomoda, mas não passa disso, também.

Para além da falta de identidade própria, o novo Cemitério Maldito também tem qualidades. Além da morte de Ellie, o novo filme derrama mais sangue e aumenta o número de mortos em cena.

As novas decisões de roteiro transformam o terceiro ato do longa em uma corrida pela sobrevivência. Ao trocar o status quo da trama original, o novo Cemitério Maldito abre a possibilidade para que qualquer um seja a próxima vítima. O frescor da dúvida faz bem à trama.

Por fim, Cemitério Maldito surpreende, mas deixa a sensação de que algumas oportunidades perdidas fazem dele só uma homenagem a um clássico, não um filme excelente por si só.

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(em negrito)

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