Este ano, o cinema deixou um pouco de lado os veteranos do horror e deu espaço para sangue fresco
Rolling Stone EUA Publicado em 22/12/2019, às 14h00
Quando você explora e cria pesadelos coletivos para as telonas, como competir com o horror que acontece fora das salas de cinema? Para os filmes de terror de 2019, a resposta é simples: você não faz isso.
Salvo apenas uma notável exceção, o melhor que o gênero ofereceu em 2019 não tenta conjurar nem se basear em exemplos específicos d’O Mundo Horrível em Que Vivemos; ao invés disso, este ano canalizou aquele tipo de ansiedade livre e focou no pavor característico de ficar com medo de olhar para fora da janela durante a noite.
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E, enquanto ainda houve algumas franquias de terror bem boas (Annabelle: De Volta Para Casa) e as agora obrigatórias adaptações de Stephen King (de Cemitério Maldito, passando pelo superior e meio desbotado It: A Coisa - Capítulo 2 e chegando ao cosplay de Kubrick de Mike Flanagan em Doutor Sono), 2019 será lembrado como o ano em que a recente nova onda de nomes do horror derrotou os veteranos.
Jordan Peele, Ari Aster e Robert Eggers - todos entregaram segundos filmes ótimos e confirmaram que podem continuar em frente (assim como fez Jennifer Kent, de Babadook, cujo filme The Nightingale merece ser visto independente do gênero que se encaixa). Uma horda da próxima geração de escritores/diretores chegou para encher o espaço, também. Existe esse sentimento que estamos prestes a ver sangue fresco espirrando sangue nas telonas.
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Aqui estão escolhas extremamente subjetivas sobre os 10 melhores filmes de terror da década. Menção honrosa também ao genial japonês Plano-Sequência dos Mortos; I Trapped the Devil, debut impressionante do cineasta Josh Lobo; ao riff de Larry Fessenden para o clássico Frankestein, Depraved; e ao vertiginoso e infanto-juvenil Histórias de Terror Para Contar no Escuro.
Me interrompa se já ouviu essa: uma mulher (Julia Riedler) entra num bar. Bate papo com um psicólogo bonitão e o leva até o banheiro, onde parece transformar-se em uma espécie de alma demoníaca cintilante que entra na boca dele. E, se você está imaginando qual é a ligação disso com a protagonista do filme, uma moça chilena (Luana Velis) que está, naquele momento, gritando uma versão obcena de um Pai Nosso no meio de uma delegacia, fica tranquilo - você vai ter sua resposta… Bom, mais ou menos.
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Originalmente um trabalho escolar, a estreia do escritor e diretor alemão Tilma Singer começa como um horror psicossocial e religioso, e então continua até chegar em alguns lugares realmente hipnotizantes e sinistros. Pontos extras para o uso excelente de sombras, fumaça e gelo seco.
Era uma vez… Charlotte (Allison Williams) era uma violoncelista estrela. Então, precisou desistir sob circustâncias semi-misteriosas. Anos depois, conhece Lizzie (Logan Browning), o prodígio musical que tomou seu lugar e ganhou fama. As duas ficam amigas e, então, em uma viagem de ônibus para um show, uma delas começa a ver insetos se arrastando por debaixo da pele e começa a vomitar uma gosma embolorada.
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Cutelos, amputações e loucura entram nesse mix antes de tudo ir de algo meio Cisne Negro para insanidade completa. Um filme sobre vingança apimentado com elementos de slasher-horror e muito sangue; o tipo de filme moderno explorativo que usa uma superfície polida para esconder noções gloriosamente repugnantes e guturais sobre a humanidade. Assista ao filme com alguém que você detesta.
Quem é o homem usando a máscara de couro preta que está matando metodicamente todos os atores de pornô gay empregados por Vanessa Paradis na Paris dos anos 1970? E a nova obra-prima dela foi baseada nesses mesmos assassinos - e inspirou esse homicida depravado?
A “volta no tempo” do diretor e co-autor Yann Gonzalez é duplamente um tributo aos antigos filmes de carnificina e à podridão vintage. Completa-se com uma lembrança do filme Cruising e o uso criativo de um dildo-estilete. Carrega seu senso de lugubridade estilosa como uma faixa de orgulho, assim como um afeto por uma antiga era da cultura queer underground.
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Mesmo quando vai às estrelas para desviar-se do irreal, este incrível e sujo filme de terror ainda é esguio, malvado, e te corta ao meio como um... Bom... Você sabe o quê.
Depois de A Bruxa, Robert Eggers continua com a missão de minerar o passado para um terror meticuloso e psicológico, criando uma crônica sobre dois faroleiros isolados - um fanfarrão veterano (Willem Dafoe, com louvor) e seu jovem aprendiz (Robert Pattinson) - lentamente sucumbindo a crises pessoais e loucuras coletivas.
Ambos os atores souberam quando fazer o silêncio falar e aumentar tudo a ponto do exagero. O apelo bêbado de Dafoe, que pede que Tritão amaldiçoe o companheiro, deve ser os três minutos mais deliciosos oferecidos pelo cinema de 2019.
E, para aqueles que gostam do terror de uma maneira mais tradicional, Eggers acrescenta tentáculos lovecraftianos, sereias predadoras e uma lembrança a Os Pássaros de Hitchcock para agradar. Considere sua estrutura abalada.
Esqueça o vazio - bem vindo ao abismo. A festa infernal de Gaspar Noe começa suficientemente inocente, com Sofia Boutella e uma horda de atores underground dançando vogue e krump para caramba. Não demora, porém, para ficar claro que alguém batizou a bebida delas com alucinógenos poderosos - aí, começa a gritaria. E a paranóia, a depravação, o beat, e uma automutilação extrema.
A segunda metade inteira do filme se desenvolve em um retrato desarranjado de massas, baseada em uma história real em que uma trupe de dança ficou insana depois de ser drograda. Noe queria fazer um documentário sobre essa história, antes de começar a criar uma bad trip sem drogas. Teve sucesso. Resultou em um Busby Berkeley no caminho de Hieronymus Bosch.
Na grande tradição de homenagear Tubarão, o filme de sobrevivência de Alexandre Aja mostra uma nadadora da Universidade da Flórida (Kaya Scodelario, uma ótima rainha do terror em treinamento) e o pai dela (Barry Pepper) contra os fatiadores da mãe natureza - neste caso, jacarés gigantes que saíram diretamente do pântano.
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Não é a primeira vez em que o diretor francês fez mágica com carnívoros aquáticos cheios de dentes (foi esse cara que em 2010 transformou o remake de Piranha em uma festa gore digna de Grand Guignol).
Desta vez, porém, troca a vibe de terror-de-acampamento para pura carnificina, especialmente durante a caça vs caçador do terceiro ato. Como os grandes predadores da história, o filme conclui o trabalho assim que deixa seu instinto mais brutal e primário tomar conta.
Um vestido mal-assombrado, dois clientes, meia dúzia de bruxas e uma quantidade ilimitada de perversidade fetichizada - porque, sim, este é um filme de Peter Strickland! O cineasta britânico que deu ao mundo The Duke of Burgundy continua a escavar os cantos mais escuros do cinema europeu com seu conto sobre uma roupa amaldiçoada que causa estragos sobrenaturais.
Poucas pessoas conseguiriam fazer um vestido parecer assustador e surreal sem soar besta, ou então transformar anúncios de lojas de varejo em algo tanto engraçado quanto enervante. Algo claramente talhado como uma homenagem a Hammer e Amicus, é uma boa lembrança do porquê você não deve comprar roupas de uma loja comandada por um coven - e um filme sobre costuras que você não sabia que precisava.
Como você segue adiante depois do escuro e sombrio sonho febril de Hereditário? Se você for Ari Aster, arraste seus medos para a claridade - mais especificamente, para um festival de verão na Escandinávia onde o sol normalmente não se põe.
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Um grupo de norte-americanos, incluindo uma mulher solitária (viva Florence Pugh!) foi longe assim por uma oportunidade única de estudar o folclore e mitologia local; e mais rápido do que você pode dizer “O Homem de Palha,” a sensação de que há algo errado acontecendo por trás dos sorrisos e felicidade começa a tomar conta.
Você teria trabalho para encontrar um filme que provoca mais a masculinidade tóxica contemporânea, uma parábola mais sinistra sobre é-difícil-terminar-relacionamentos, ou um olhar mais desanimado para os festivais da primavera.
Acima disso tudo, porém, Midsommar é aquele tipo de filme com um desenrolar tão lento que você não tem nem certeza se aquilo é mesmo terror… Até confirmar que, definitivamente, é sim - e te tirar completamente o chão.
Violência de cartel transformou uma cidade do México em uma vila fantasma; durante a madrugada, uma garotinha chamada Estrella (Paola Lora) vira órfã quando a mãe “desaparece.” No mais puro desespero, começa a perambular com um bando de crianças sem teto parecidas com ela, comandadas por um garoto chamado Shine (Juan Ramón López).
Um celular roubado coloca todos eles no radar de uma gangue de drogas. Mas por sorte, Estrella têm espíritos de pessoas mortas ao lado dela - todos eles querendo ter uma palavrinha com o homem que as matou.
Este é um exemplo extremamente brilhante e lamentável de como usar o horror para fazer críticas sociais sem desprezar ninguém. O conto de terror e sobrevivência da autora/diretora Issa López atraiu atenção - Guillermo del Toro é um dos maiores fãs e divulgadores.
Mas, para nós, esta foi a pérola do gênero escondida em 2019, uma maneira peculiar de explorar a manchete-de-todo-dia que mistura o fantástico ao fatal. Mal podemos esperar para saber o que López fará em seguida.
Como essa garotinha simplesmente apareceu na casa de espelhos da feira? Porque as mãos daquele cara parado na orla estão completamente ensanguentadas? Qual é a de todas as tesouras? E quem, exatamente, são as quatro pessoas em macacões vermelhos paradas na entrada da casa - e o que eles querem com Gabe e Adelaide Wilson, o casal de férias, e seus dois filhos?
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O segundo filme de Jordan Peele faz mais do que simplesmente superar a própria estreia, ou provar que Corra! não foi uma simples obra do acaso; é um conto de terror genuíno que se desdobra em como nós sempre conhecemos os inimigos e eles são… Bom, leia o título de novo.
O temível quarteto no centro desta história consegue envolver tanto a família de classe média sitiada quando os dopplegangers psicóticos que os perseguem, mas glória a Lupita Nyong’o por entregar as duas melhores performances dela para o cinema (e, ocasionalmente, até na mesma cena). É uma visão profunda na nossa nação dividida e o retorno de todos os reprimidos. Você nunca mais verá “Hands Across America” da mesma maneira.
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