Os integrantes do Temples - Reprodução/Facebook

Revelação britânica, Temples busca o “atemporal” por meio da psicodelia

“Queríamos que as pessoas ouvissem independente de ser um disco novo ou velho”, diz baixista, que toca com a banda neste sábado, 16, em São Paulo

Lucas Brêda Publicado em 16/05/2015, às 10h07

Após alguns encontros no estúdio, por volta do meio de 2012, o Temples decidiu colocar suas músicas na internet sem muitas informações adicionais. “Queríamos passar a impressão de ser uma gravação obscura, desconhecida”, diz o baixista fundador da banda, Thomas Walmsley. “Colocamos uma capa para parecer que aquilo poderia ter sido feito em qualquer momento das últimas quatro ou cinco décadas.”

Veja as capas das 100 primeiras edições publicadas pela Rolling Stone Brasil.

Uma das faixas postadas no YouTube, “Shelter Song”, saiu como single em 2013, antecedendo o álbum de estreia do Temples, Sun Structures, lançado em 2014. Pouco mais de um ano depois, o quarteto traz ao Brasil o rock psicodélico de garagem, com uma apresentação que acontece em São Paulo, no Estúdio, neste sábado, 16.

“‘Shelter Song’ foi a primeira música que escrevemos”, diz Walmsley, que formava a banda com James Bagshaw na época. “Foi composta no estúdio, gravada na mesma hora, incrivelmente influenciada por ecos, delays, um certo ritmo e, claro, a guitarra de 12 cordas, com aquela sonoridade do Byrds e do Beatles [risos].”

O baixista ri ao falar dos Beatles por já ter sido destaque na mídia inglesa ao ridicularizar as comparações com o Fab Four. “Não me incomoda [a comparação]”, explica, ainda dando risadas esporádicas ao telefone. “É uma referência ao jornalismo preguiçoso... Me diga, que música não te faz lembrar dos Beatles?”.

Fato é que a melodia cativante de “Shelter Song” é um claro aceno a faixas como “If I Needed Someone”, de Rubber Soul. Mas Sun Structures não é só nostalgia sessentista, e sim um conjunto etéreo de harmonias coesas e detalhadas, que reúne refrãos bem costurados (“The Golden Throne”, “Mesmerise”, “Move With The Season” e “Sun Structures” são só alguns), indo da psicodelia à lá Tame Impala “Colours To Life” ao pop irreverente de “The Guesser”.

Apesar de ser um quarteto, entretanto, a maioria das canções do Temples foi feita apenas por Walmsley e Bagshaw, à época únicos integrantes da banda. “Estranho!”, ri o baixista ao lembrar-se do primeiro ensaio com o grupo completo. “Foi a coisa mais excitante que já fizemos, pois estávamos vendo as músicas ganharem vida. Aprendemos muito sobre as canções. Foi a partir daí que as lapidamos para a versão final de cada uma delas, para o álbum.”

Eliminando os intermediários

Certamente o mistério dos vídeos vinculados ao YouTube deve ter sido um fatores do sucesso do Temples – que resultou em um contrato com o pequeno selo do Reino Unido Heavenly Records. “Queríamos que as pessoas ouvissem independente se fosse um disco novo ou velho”, explica Walmsley.

“Tentamos fazer com as que as pessoas tivessem uma sensação espontânea em relação aquilo”, acrescenta. “Quando você está na internet procurando por discos e coloca algo antigo para tocar, então, nos vídeos relacionados, há coisas que você nunca ouviu. Daí você sai clicando e acha algo parecido com aquilo, sabe?”

Abaixo, uma foto de Walmsley e na gravação de Sun Structures.

Posted by Temples on Sexta, 15 de março de 2013

Apesar de buscar essa sensação “atemporal” – tanto na sonoridade como na forma de divulgação –, o Temples pode ser considerado um produto contemporâneo da internet. Afinal, o quarteto praticamente subverteu a forma tradicional de consumir música, na qual o áudio vem acompanhado das informações de artista, ano, gravadora e adicionais, estabelecida desde a popularização do vinil.

Há pouco mais de uma década, tal método de divulgação seria absolutamente impossível. O Temples eliminou os intermediários: ao se ouvir “Shelter Song” no YouTube, não ficava perceptível que se tratava de uma música de 2013, e muito menos de uma banda de Kettering, na Inglaterra. Atualmente, o clipe de “Shelter Song” tem mais de 1,5 milhão de visualizações no YouTube.

Psicodelia cíclica e o Boogarins

Apontados como parte de uma “nova onda psicodélica” – algo comum de tempos em tempos –, junto a artistas como o Tame Impala, o Temples mostra ceticismo quanto à formação de movimentos, mas Walmsley afirma: a psicodelia é um gênero cíclico.

“Parece que toda década tem seu tipo de psicodelia”, argumenta. “Talvez hoje em dia seja ainda muito mais fácil de ter acesso a isso e descobrir bandas do gênero – muito mais do que dez anos atrás. É a internet fazendo seu trabalho.”

Nos tempos de internet, uma banda brasileira que tem admiração cada vez maior no exterior é o Boogarins. “Tocamos com eles algumas vezes nos Estados Unidos no ano passado”, diz o baixista, elogiando o quarteto goiano. “Já ouvíamos as músicas deles antes de conhecê-los e agora mantemos contato. Estão sempre nos mandando boas canções psicodélicas do Brasil. Caras bacanas.”

Mas conhecimento de música brasileira pelo Temples fica limitado ao Boogarins. “Conhecemos algumas coisas obscuras que eles [o Boogarins] nos mandaram”, diz, rindo novamente. “Mas não faço ideia dos nomes ou como se pronuncia. Temos uma playlist feita por eles.”

O show do Temples em São Paulo acontece às 21h deste sábado, 16, no Estúdio, com abertura da banda The Outs. Os ingressos custam R$ 100 (R$ 80 com a doação de um agasalho ou alimento).

Temples em São Paulo

16 de maio (sábado), às 21h

Estúdio – Rua Pedroso de Morais, 1036 – São Paulo (SP)

Ingressos: R$ 100 (R$ 80 com a doação de um agasalho ou alimento)

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