O segundo ano da série da Amazon cumpre a difícil missão de superar a primeira parte e ainda acrescenta temas mais complexos
Vinicius Santos | @vini_ls13 Publicado em 04/09/2020, às 07h00
The Boys chegou quebrando tudo em 2019. Enquanto a Netflix emplacava The Umbrella Academy após o término da colaboração com a Marvel e a HBO apresentava uma continuação honrosa a história de Watchmen, a Amazon Prime Video não ficou para trás e também trouxe uma série de super-heróis mais crítica e madura.
A primeira temporada da história de Hughie (Jack Quaid), Billy Butcher (Karl Urban), Mother's Milk (Laz Alonso) e Frenchie (Tomer Capon) e a luta desesperada do grupo contra os heróis corruptos liderados por Homelander (Anthony Starr) teve a vantagem de chegar quase que de surpresa no público, exceto por aqueles que já haviam lido a aclamada HQ de Garth Ennis.
O elemento surpresa foi aproveitado ao máximo. Com grande fidelidade as críticas sociais e principalmente a violência extrema mostrada nas páginas dos quadrinhos, a série conquistou um espaço de destaque no disputado mercado de super-heróis e deixou um gancho sensacional para a segunda temporada.
Restava ainda um pouco de dúvida se a segunda temporada, já com grandes expectativas em cima dela, conseguiria manter o alto nível. Felizmente, The Boys superou o hype sem deixar de tocar em feridas dolorosas da sociedade contemporânea.
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O nível de sátira e humor ácido na segunda parte aumenta muito, mas sem deixar o dever de contar uma história boa e divertida de lado. Enquanto a primeira temporada se concentra mais em construir a sociedade desse mundo hiper-realista no qual existem super-humanos, a continuação mergulha nos dramas e traumas dos protagonistas.
O maior mérito do showrunner Eric Kripke nessa mudança de foco narrativo é o timing. Todas as figuras centrais da série tem uma hora de brilhar. Mother's Milk e Frenchie, que na primeira parte eram coadjuvantes e alívio cômico, ganham detalhes do passado deles antes dos eventos da série necessários para justificar a motivação deles de ajudar Butcher.
Mesmo com momentos de holofote nos personagens secundários, isso não significa que a dupla Billy Butcher e Hughie ficam de lado. A relação de 'quase irmãos' deles dá passos interessantes enquanto questionam cada vez mais quem são à medida que perseguem vingança contra os 'supes'.
Falando nos super-heróis, esse é o aspecto onde a paródia corrosiva de The Boys se concretiza de maneira fascinante. O Homelander segue ainda mais insano e humano, enquanto Anthony Starr dá um show de atuação megalomaníaca, o enredo coloca o personagem na pele de ora figura messiânica corrompida, ora político norte-americano conservador.
Nenhum tema complicado fica sem ser abordado pelo arco do líder dos Sete: violência sexual, abuso de poder, corporativismo, xenofobia, fascismo, supremacia branca e por aí vai. A série parece se recusar a não falar de temas polêmicos e isso é ótimo.
Outra figura importante é a Stormfront de Aya Cash. A nova 'número 2' do time da Vought chega para colocar uma nova camada de complexidade na equipe: o de controle da imagem e opinião pública. O uso das redes sociais e posicionamento da marca dos 'supes' acrescenta um novo nível de crítica a cultura das celebridades e dos grandes grupos de mídia. Sim, qualquer semelhança da Vought com empresas como a Disney ou até a própria Amazon não é coincidência.
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Além da nova 'heroína', o elenco feminino da série ganha um destaque relevante. Enquanto a Starlight de Erin Moriarty está em conflito sobre quem ela é nesse mundo louco, a Rainha Maeve (Dominique McElligott) protagoniza debates sobre orientação sexual e principalmente a apropriação da mídia desse tema na busca por lucro fácil. A Kimiko de Karen Fukuhara evolui e amadurece também, mesmo sem dizer uma palavra.
Porém, os personagens que deixam a desejar são A-Train (Jessie T. Usher) e The Deep (Chace Crawford). Ambos parecem afundados demais no próprio egocentrismo enquanto o enredo não dá rumos significativos para eles.
Mesmo assim, a série compensa os personagens que aparentam perdidos com algumas excelentes participações especiais, como o chefão corporativo Stan Edgar ( Giancarlo Esposito), que brinca novamente de ser o Gus Fring de Breaking Bad e Shawn Ashmore, conhecido pelo papel do Homem de Gelo nos X-Men, parodia o próprio fim de carreira nos filmes de herói como o Lamplighter.
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A produção está obstinada a criticar tudo o que gostamos na cultura dos super-heróis e das celebridades, sem nunca perder a graça e, ao mesmo tempo, sendo uma história exemplar fruto desse mesmo nicho. É uma tentativa de ser a paródia definitiva do gênero que acerta em diversos aspectos.
Vale a pena citar que a trilha sonora da série continua ótima, misturando nostalgia de rock, hip-hop e pop para embalar os absurdos mostrados na tela. E nós da Rolling Stone Brasil não conseguimos deixar de reparar que o grupo de Butcher, apesar de não possuir uniformes, compensa com várias camisetas clássicas de bandas: Hughie veste estampas do Nirvana, Journey, Ramones, Billy Joel (é claro) e outros, enquanto Mother's Milk representa hip-hop com Run-D.M.C., De La Soul e Wu-Tang Clan.
Mas, não deixe a miríade de temas apresentados te enganar, ainda tem violência sádica e palavrões de sobra. O estilo brutal de The Boys de imaginar como super-humanos usariam os poderes para massacrar as pessoas continua muito presente, com uma criatividade diabólica e certamente chocante. Parece um pouco tarde para avisar, mas a produção continua não-recomendável para menores de idade e pessoas sensíveis.
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Com um equilíbrio perfeito entre diversão e crítica, a segunda temporada de The Boys cumpre com louvor a missão de superar a primeira parte e prepara o terreno para a já confirmada terceira temporada de maneira instigante. Para quem está cansado dos clichês super-heróis, a série é (arrisco dizer) a fuga ideal da frustração, com pitadas de insanidade.
Os primeiros 3 episódios de The Boys 2 estão disponíveis na Amazon Prime Video e o restante dos capítulos serão lançados toda semana, na sexta-feira.
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