Artista paulistano fala sobre o novo DVD, 3Fs, começo da carreira, política e críticos do trabalho dele
Lucas Brêda Publicado em 06/07/2016, às 17h35 - Atualizado às 18h14
Quando o tema é hip-hop nacional dos anos 2010, o nome de Criolo e Emicida é quase unanimidade: além de terem lançado discos aclamados pela crítica nos últimos anos, ambos desfrutam de agenda cheia e presença frequente nos maiores festivais país afora. Em termos de quantidade de público, entretanto, outro rapper contemporâneo e conterrâneo deles surge como expoente. Tendo colaboração com Anitta, apoio de uma grande gravadora (Universal) e mais afinidade com temas românticos, Projota chega ao segundo DVD da carreira – o primeiro com investimento significativo em produção – e se estabelece como o nome mais pop do hip-hop brasileiro.
A comparação pode ser simplória, mas, se somadas as quantidades de fãs de Emicida e Criolo no Facebook, o número não alcança o de Projota na mesma rede social. “Eu tenho esse apelo mais popular, povão”, admite o rapper da zona norte paulistana. “Acabou acontecendo por causa das rádios, da TV. Estávamos predestinados a caminhos diferentes. Não opostos, apenas paralelos. Acho que tanto Criolo quanto Emicida partiram para um lance mais cult, mais MPB. Emicida faz som com Caetano [Veloso], Projota com Anitta.”
Amigo há mais de uma década de Projota, Emicida seria um dos participantes do DVD recém-lançado, 3Fs, o que não aconteceu por questão de agenda. Parceiros de músicas com o rapper, Marcelo D2 e Anitta aparecem no registro, assim como Rashid e Kamau. Além deles, o guitarrista do Legião Urbana, Dado Villa-Lobos, que também assina uma música com Projota, iria participar, mas foi impedido após sofrer um acidente de bicicleta.
3Fs fecha o ciclo do primeiro álbum completo de Projota, Foco, Força e Fé (2014), que recebeu disco de ouro. O trabalho deu sequência a uma carreira que já existia pelo menos cinco anos antes, com três mixtapes. Lançado com o investimento da Universal, Foco, Força e Fé marcou também o momento em que a produção de Projota passou a soar mais acessível e, consequentemente, fez com que ele fosse visto como uma espécie de “desertor”.
“Se eu não tivesse escolhido esse caminho, eu não teria voz”, diz. “Agora, minha voz é escutada por muita gente. Por mais que ame fazer música romântica, também faço música política. Mas as românticas fazem meu trabalho ficar muito mais visado. E aí um cara que não tinha nada de repente chega em primeiro lugar nas rádios e o Brasil inteiro ouve essa mensagem.”
Falando de si frequentemente na terceira pessoa, Projota acredita que o trabalho árduo foi fator determinante para o sucesso. “Sou um sonhador”, assume. “Na minha cabeça, já fui desenhista, jogador de futebol, skatista. Mas o rap chegou e eu sempre fui dedicado. Costumava gravar em uma fitinha cinco minutos de violão e batidas em caixa de sapato, e ficava rimando por cima.”
Por volta de 2006, as batidas com régua nas caixas de sapato foram substituídas pelas bases de clássicos do hip-hop norte americano tocadas pela banda Central Acústica, nos eventos com microfone aberto na região da Galeria Olido, no centro de São Paulo. “Ali passou a ser mais sério, toda quinta e sábado eu tinha um compromisso com o rap”, lembra. “E nos outros dias eu determinava: ‘Tenho que acordar cedo para escrever rap’.”
Cantando sobre paixões, entraves e alegrias mundanas, Projota rima sobre “homens de porcelana” (em “Astronauta”), canta que “O ser humano é frágil/ Hoje mesmo eu falhei” (na parceria com Negra Li, “O Homem Que Não Tinha Nada”) e, até para falar de política, exprime vulnerabilidade. “Tem milhões de pessoas como eu, sem posição”, diz, afirmando ser contrário ao impeachment de Dilma Rousse e apartidário (apesar de ex-simpatizante do PT). “Sinto-me completamente desamparado, não sei em quem votar e a quem recorrer.”
“Os caras gostam de ir no Twitter xingar o Projota/ Mas traem a mulher e não abraçam a mãe faz uma cota”, ele rima na autobiográfica “Moleque de Vila”. Tiago, que usa o nome de batismo quando fala dele mesmo no passado, conta que “já torceram muito o nariz” para as músicas que faz. “Mas eu fui perseverante, assim como quando ralei para fazer meus primeiros shows e ninguém sabia que eu existia. O Tiago poderia ter ido para debaixo da ponte e ninguém iria saber. Hoje, ficam desdenhando: ‘O Projota ficou rico’.”
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