Os dois artistas viviam na Itália no mesmo período e foram os principais nomes do renascentismo - e se odiavam mais do que tudo
Yolanda Reis Publicado em 18/12/2019, às 19h33
Na tarde desta quarta, 18, um assunto potencialmente peculiar viralizou na internet: o renascentismo italiano do século XVI. Mais especificamente, a rivalidade entre Michelangelo e Leonardo Da Vinci, que ao lado de Rafael e Donatello foram (além das Tartarugas Ninjas) alguns dos principais artistas do período artístico.
O assunto começou quando Ari Noert, pesquisadora de História da Arte, compartilhou um fato histórico interessante no Twitter: “Da Vinci e Michelangelo viveram na mesma época e no mesmo lugar. Tinha tudo pra ser uma amizade linda e produtiva trocando receitinha de pintura e indo juntos comprar pincel na papelaria. Mas não foi: eles se odiavam ao ponto de não conseguir ficar nem PERTO um do outro.”
Em seguida, detalhou todas as picuinhas entre os artistas que agitaram a cidade de Florença, Itália, a partir de quando Michelangelo, um jovem pintor de 28 anos, se mudou para lá, e conheceu o veterano Da Vinci, de 51.
Um torcia o nariz para o outro, e viviam se cutucando. Leonardo, esnobe, dizia que a pintura (seu forte) era arte superior à escultura (especialidade de Michelangelo); também se gabava de ser organizado, limpo e “de classe,” ao passo que Michelangelo, religioso, preferia uma vida simples, e seu ateliê pendia para a zona.
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Tudo chegou ao ápice quando a cidade - que valorizava bastante a arte clássica naquela época - percebeu que os dois não se davam e decidiram fazer uma competição saudável (ou, como foi chamado no Twitter, uma “rinha de pintores renascentistas”).
Os dois artistas foram convidados para decorar uma parede do Palazzo (Palácio) Vecchio com afrescos que retratassem vitórias de Florença em batalhas. Os dois, trabalhando juntinhos, um ao lado do outro… Por anos…
Não deu certo. Da Vinci desistiu; Michelangelo se mudou para Roma. Para os amantes da arte, sobraram alguns esboços e ideias fracas do que seriam os afrescos, como mostra o Tweet de Ari:
Deu certo? CLARO QUE NÃO! E quem perdeu fomos nós
— ari noert (@arinoert) December 17, 2019
Da Vinci chutou os pincel depois muitas tentativas e Michelangelo fugiu pra Roma
Não tem nada dos afrescos pra mostrar exceto esboços e cópias feitas por outros artistas ou assistentes deles
Mas seria assim:
(Leo/Mich) pic.twitter.com/DHGQ07blnk
Antes da separação fatídica, Da Vinci e Michelangelo tiveram uma briga no meio da praça Santa Trinitá. Leonardo estava por lá, conversando com alguns jovens sobre A Divina Comédia, peça de Dante Alighieri, quando Michelangelo passou.
O realizador de "Monalisa" provocou o escultor, pedindo que ele passasse um trecho da peça. Recebeu uma patada de Michelangelo: “Por que não a comenta você, que nem é capaz de terminar um cavalo de bronze em Milão?”
Fez alusão, na frase, a uma escultura encomendada por Ludovico Sforza, duque de Milão, a Da Vinci - um cavalo de bronze de 15 metros de altura - que nunca chegou a ser entregue para a corte dos Sforza, embora o pintor tenha ficado 12 anos projetando a obra (foi interrompido pois Ludovico usou todo o bronze disponível para fabricar armamento e se preparar para uma invasão da França).
Para quem não lembra, uma das características do renascentismo, tanto nas pinturas quanto nas esculturas, é o realismo anatômico. As pessoas nas obras pareciam, de fato, pessoas, e os artistas prestavam atenção aos músculos, veias, tendões e cada detalhe do corpo humano.
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E então, chega um outro impasse entre Da Vinci e Michelangelo: o primeiro era especializado em pintura, e apresentou obras magníficas ao mundo, como a Última Ceia, Monalisa, A Anunciação, Dama com Arminho e, mais específico na anatomia, o Homem Vitruviano - estudo matemático e anatômico de precisão sem precedentes à época.
Michelangelo, embora fosse especialista em esculturas, também mandava bem com pincéis. E tinha uma predileção: homens fortes, sarados, musculosos - e nus. O que, aos olhos de Da Vinci, era extremamente vulgar. Não que Michelangelo ligasse - como prova, esculpiu o gigantesco "Davi", completamente nu.
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Mas "Davi", desde a época em que foi concluída, era considerada obra-prima, e seria exposta na Piazza della Signoria, um dos principais pontos de Florença. Porém, era uma escultura gigantesca - no alto de seus cinco metros de altura e dois de largura. Não sabiam onde colocar, e convidaram diversos artistas de renome para escolher um ponto.
Agora, imagine o horror do pudico Da Vinci ao ver a estátua de Davi - a qual, olhando de baixo, o pênis do homem esculpido fica extremamente aparente. Revoltado, fez duas sugestões: a primeira, que a peça fosse colocado num local escondido da praça. A segunda, que o pênis fosse coberto por uma folhinha.
O primeiro pedido foi negado - "Davi" foi alocado em local de destaque, em frente ao Palazzo Vecchio (onde está até hoje) - mas a cobertura foi aceita, e o pênis de Davi ficou escondido debaixo de uma folha pelos 50 anos seguintes, para desgosto de Michelangelo. Atualmente, você pode vê-lo do jeito que veio ao mundo: completamente nu.
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