James "Blood" Ulmer, o guitarrista sentado - Cezar Fernandes

Rio das Ostras: casa do blues e jazz

Festival que terminou domingo é considerado um dos três mais importantes do mundo; a Rolling Stone foi conferir

Por Antônio do Amaral Rocha Publicado em 27/05/2008, às 11h32 - Atualizado às 11h38

O Rio das Ostras Jazz & Blues Festival apresentou neste sábado suas três últimas atrações inéditas. Mas como sempre acontece, duas atrações da noite anterior foram bisadas à tarde: Blues Etílicos na Lagoa do Iriry e Léo Gandelman e a banda The Godfather of Groove, na Praia da Tartaruga, com uma inteiração perfeita entre músicos e a platéia.

À noite, o palco principal Costa Azul abriu com o show do contrabaixista Dudu Lima, do percussionista Marcos Suzano e do saxofonista Jean Pierre Zanela. Foi um show baseado no CD 20 Anos de Pura Música, de Dudu Lima, basicamente com repertório de música brasileira, que incluiu "Aquarela do Brasil", "O Trenzinho Caipira" e uma estonteante execução de "Clube de Esquina n. 2", de Milton Nascimento, com duração de 12 minutos.

Logo em seguida entrou o trio de John Scofield, acompanhado de um sofisticado naipe de metais dos Scohorns, dois saxes barítonos e um trumpete. O repertório do show baseou-se no CD This Meets That. A guitarra de Scofield é executada com técnica refinada, quase que dedilhada, sem distorções, mostrando toda a "arquitetura" da música. O ponto alto foi a execução da balada "Behind Closed Doors", que por pouco não arrancou lágrimas da platéia, e ainda teve lugar para "Satisfaction", com evidente ovação do público de mais de 10 mil pessoas.

James "Blood" Ulmer

O blues com pitadas de free jazz veio logo depois, com a entrada de James "Blood" Ulmer (Memphis Blood) e mais o guitarrista Vernon Reid. O veterano James Blood toca sua guitarra sentado, algo totalmente inusitado para esse instrumento, e o que se ouve é um repertório fortemente influenciado pelas tradições da música afro-americana. Na verdade, é uma grande salada com elementos de funk, jazz, blues, rithm&blues e um vozeirão, típica dos melhores bluseiros. Sua banda inclui harmônica, violino, além de baixo, bateria e teclados. Neste show também teve a forte presença da guitarra de Vernon Reid, mais um integrante do Living Colour a participar do Festival.

A cargo do encerramento da noite ficou o Bonerama, banda de New Orleans composta de quatro trombones com afinações distintas, tuba, guitarra e bateria. Liderado pelos trombonistas Mark Mullins e Craig Harris, que também fazem vocais, o Bonerama é um caldeirão sonoro que reverte o som das big-bands, tocando sempre em uníssono com forte marcação da tuba e bateria. Foi uma sessão bem humorada de soul, funk e rock, num repertório que inclui Led Zeppelin, Black Sabbath, Jimi Hendrix e Allman Brothers. O único elemento negro da banda, o baterista Eric Bolívar, é um apaixonado pela música brasileira, e demonstrou, num encontro em off com jornalistas regado à cerveja, na sala de imprensa do hotel, que durou até às seis da manhã do domingo, saber solfejar João Bosco, Djavan e Tom Jobim e topou ouvir o grupo de jornalistas cantar parte desse repertório, acompanhado de um violão tocado toscamente por um dos colegas. Quando alguém ameaçou cantar algo como um soul, ele disse: "No, oh, no! Brazilian music". Eric também venera Elis Regina e César Camargo Mariano e nesse dia foi dormir sabendo um pouco mais até de mamãe Oxum, rainha das águas e, talvez, de um pouco mais de Brasil.

No domingo, James "Blood" Ulmer com o guitarrista Vernon Reid e o trio de John Scofield mais os naipes de metais encerraram a festa, respectivamente na Lagoa de Iriry e na Praia da Tartaruga.

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