Há exatos 35 anos, comemorados neste dia 11 de janeiro de 2020, festival mudou o showbusiness brasileiro
Pedro Antunes Publicado em 11/01/2020, às 12h00
Roberto Medina, criador do Rock in Rio, sabia que não seria fácil erguer um festival no Brasil em 1985. Conseguiu, é verdade, criar uma máquina gigantesca, com 20 edições realizadas no Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos (em uma única edição em Las Vegas).
Mas quando Medina começou "era tudo mato" no showbusiness brasileiro. O País estava fora da rota das grandes turnês internacionais, algo que mudou depois de 1985. A verdade é que, goste ou não, o Rock in Rio, ao longo das edições realizadas no Rio de Janeiro, é diretamente responsável pela quantidade de shows gringos vistos por aqui na última década.
E, de verdade, passou o tempo daquela velha reclamação "cadê o rock do Rock in Rio?". O festival já mostrou, há tempos, que não é sobre isso.
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Aqui, relembramos bastidores da primeira e histórica edição do Rock in Rio, em 1985:
Avaliar os números é um método importante de entender o tamanho do Rock in Rio desde a primeira edição, em 1985. Compará-lo com Woodstock, de 1969, é uma heresia por conta da importância histórica do evento realizado na fazenda de Max Yasgur. Eram outros tempos, é claro.
De qualquer forma, a primeira Cidade do Rock recebeu em 1985 um total de 1 milhão e 380 mil pessoas, divididas em 10 dias. Em Woodstock foram menos de 400 mil pessoas em três dias de evento.
Ao longo desses dez dias, o Rock in Rio ofereceu 90 horas de música. Ali, o festival já iniciava um método que segue até hoje, com abertura de bandas nacionais e fechamento com os grandes nomes do pop e do rock - em termos das massas, é claro.
Nomes brasileiros como Os Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil, Barão Vermelho (com Cazuza), Lulu Santos, Elba Ramalho, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, entre outros foram escalados e marcaram época.
Já entre os nomes internacionais do festival estavam: Queen, Iron Maiden, Whitesnake, George Benson, James Taylor, Rod Stewart, Nina Hagen, AC/DC, Scorpions e Ozzy Osbourne.
A edição de 1985 recebeu 54 shows no total. A maioria dos artistas tocou em mais de um dia no festival.
É importante entender que o Brasil era outro em 1985 - será? - e um cardeal da Igreja Católica do Rio de Janeiro pediu para que os fiéis não fossem ao Rock in Rio. O rock, segundo ele, era "uma música alienante e provocatória com consequências de ordem moral e social preocupantes."
Pelo menos 1,4 milhão de pessoas não ouviu ao Cardeal, mas o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, decidiu embargar a obra da Cidade do Rock, em um terreno de 250 mil m² em Jacarepaguá.
Foi o então presidente eleito Tancredo Neves que ligou para o governador e pediu para que "pegasse mais leve" com o Rock in Rio.
Um dos shows mais históricos da carreira do Queen tem bastidores tensos por trás. Freddie Mercury era uma estrela de nível global e não foi simpático com o restante da equipe do Rock in Rio.
Nos bastidores do festival, a atração do primeiro dia de festival exigiu que o camarim tivesse inclusive saquê (servido à temperatura de 20ºC), além de outras mordomias que os produtores brasileiros não estavam acostumados.
O maior problema, contudo, foi que Freddie não queria ser incomodado por ninguém e os camarins do Rock in Rio eram montados lado a lado, formando um corredor. Todos os artistas circulavam ali, conversavam e tudo mais.
Mercury, contudo, não queria ser incomodado ou visto. "Você tem cinco minutos para tirar todos mundo do meu caminho ou meus seguranças farão isso à força", disse ele ao produtor Amin Khader na ocasião.
Ainda sobre Freddie Mercury e Queen, a edição do Rock in Rio mostrou como os integrantes da banda não se suportavam na época. Cada integrante da banda tinha o próprio camarim e não se falavam.
A comunicação entre eles, acredite, era feita por meio de mensageiros que corriam de um camarim para o outro.
Quem curte heavy metal, via de regra, odeia o termo "metaleiro" porque o entende como pejorativo. Sim, nós sabemos que o melhor é dizer "headbanger". Acontece que, em 1985, a TV Globo não sabia disso.
Ao falar da "nova" tribo em rede nacional, a jornalista Leilane Neubarth falou sobre os "metaleiros" e o termo se popularizou. E ficou.
Ozzy Osbourne tinha acabado de deixar a clínica de reabilitação e não conhecia muito sobre o Brasil. Como artista solo em 1985, ele conhecia "Garota de Ipanema" de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, de 1962.
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Então, era isso que o Ozzy esperava encontrar no Rio de Janeiro. Hospedado no Copacabana Palace, ele não viu as tais "garotas". "Haviam crianças pobres correndo pelo lugar como ratos”, disse ele, certa vez.
As vaias para os artistas brasileiros eram muito comuns nas primeiras edições do Rock in Rio. Em 1985, o alvo foi Erasmo Carlos. Em uma entrevista, certa vez, o Tremendão falou como se surpreendeu ao ser vaiado pelo público do festival.
Até então, dizia Erasmos, ele achava que todos gostavam de Jovem Guarda.
O Iron Maiden já gravou um DVD em um Rock in Rio (em 2001), mas a conexão da banda com o festival iniciou em 1985. A passagem dos britânicos pelo Brasil foi, em termos, similar à do Queen no mesmo festival: criou uma conexão inexplicável e inesgotável.
Bruce Dickinson, vocalista do Maiden, agradeceu pessoalmente a Roberto Medina, presidente e criador do Rock in Rio. "Você não fez só uma grande evento, você lançou a minha banda na América Latina. Eu não era conhecido por ninguém."
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