O show, que deve ter sido o último da banda no Rio de Janeiro, encerrou o primeiro dia do segundo fim de semana do festival
Lucas Brêda, do Rio de Janeiro Publicado em 22/09/2017, às 04h28 - Atualizado às 04h54
O Aerosmith subiu ao palco do Rock in Rio em situação uma particular. Com a aposentadoria das turnês já anunciada, a banda sabe que vive os momentos derradeiros em cima do palco: faz um show para se divertir – e em que se diverte.
Sem o peso do "disco novo" para divulgar (o último álbum da banda, o fraco Music from Another Dimension!, de 2012, praticamente sepultou a discografia da banda), o Aerosmith esteve "livre". Recheou o show de hits e baladas sem culpa, equilibrando jams alongadas com refrães repetidos e até abrindo espaço para a cover apropriada de "Come Together", dos Beatles.
Só que não foi apenas o setlist segurou a multidão, que preencheu monstruosamente os arredores do palco Mundo. Steven Tyler, aos 69 anos, tem um timbre diferenciado, uma voz mais suja que é ao mesmo tempo potente e frágil, roçando infalivelmente os agudos que a marcaram. Joe Perry também está em forma, não só por reproduzir os solos e riffs quase incrustados em suas mãos, mas também segurando jams e demonstrando vigor incansável. O guitarrista e o vocalista, uma vez brigados, até se enalteceram em cima do palco, no que parecia um reconhecimento inevitavelmente genuíno da interdependência histórica deles (o nome de um se tornou tão grande graças ao outro).
Era o dia (na verdade, o fim de semana) dos dinossauros do rock, e o Aerosmith se encaixou no ambiente de uma forma como o Def Leppard não conseguiu. Se o show anterior se perdeu ao abrir espaço para músicas novas (que soam como antigas) e entediou o público geral com hits não tão fortes assim, o headliner foi direto ao ponto, de "Cryin'" a "Crazy", de "Sweet Emotion" a "Dream On", de "Eat the Rich" a "Walk This Way". "I Don't Wanna Miss a Thing" gerou um daqueles momentos estrondosos do Rock in Rio 2017.
O Aerosmith não soa exatamente como a reedição de uma franquia que há muito não faz sentido (o Kiss, por exemplo, caminha cada vez mais para repetir robótica e lucrativamente uma fórmula que funcionou décadas atrás), e sim uma banda disposta a se despedir e aproveitar os últimos resquícios do legado de uma vida. Se tiver sido a última vez dos cariocas, pelo menos não ficou nada para uma próxima.
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