Aos 81 anos, Chuck Berry faz show simples e cheio de clássicos, em SP
Por Bruna Veloso Publicado em 19/06/2008, às 10h16 - Atualizado às 19h00
"Se você tentasse dar outro nome ao rock'n roll, poderia chamá-lo de 'Chuck Berry'". As palavras de John Lennon são a síntese da importância de um norte-americano nascido em 1926, em St. Louis, para um dos ritmos mais conhecidos, difundidos e reinventados da música.
Chuck Berry está hoje com 81 anos - e no palco, a idade já começa a mostrar os seus sinais. Que Berry é um dos precursores do rock, para alguns, o "pai" do estilo, todo mundo sabe. Mas hoje, seu nome tem mais peso do que sua performance. O que não significa exatamente uma crítica, levando-se em conta os mais de 50 anos passados desde o início de sua carreira musical.
O show em São Paulo começou cinco minutos antes do horário marcado, às 9h25. O guitarrista, de blusa vermelha com lantejoulas e o indefectível quepe de marinheiro, iniciou a apresentação com "Memphis, Tennessee" para uma platéia variada - jovens, rapazes de topete e roupas no estilo rockabilly, casais e toda sorte de gente que queria ver, talvez pela última vez no Brasil, uma lenda viva do rock. Berry, que durante anos viajou sozinho, contratando músicos nas cidades onde tocava, dessa vez foi acompanhado por uma banda "fixa" (à exceção do baterista brasileiro Maguinho Alcântara): Bob Lohr no piano eletrônico, Jimmy Bassala no baixo, e o filho Charles Berry Jr. na guitarra.
O refrão do clássico "Sweet Little Sixteen" foi cantado em coro pelo público. Seguiram-se "You Never Can Tell", "Key to the Highway" e "Nadine". Berry então perguntou: "How about 'Rock'n Roll Music'?". Era o que todos esperavam ouvir de um dos maiores ícones do gênero. A música estava mais lenta e sem a potência da versão original, mas o público parecia compreender - e reverenciava a presença do cantor, sem se importar com os vários erros nos acordes e riffs de guitarra. "If you love it, you ain't never too old", constatou Berry, para em seguida receber os gritos da platéia.
Charles Berry Jr. amparou o pai, tentando fazer com que seus problemas com as cordas fossem menos perceptíveis. Mas em "Johnny B. Goode", o palco foi inteiro de Chuck, que deixou sua guitarra semi-acústica vermelha para receber o instrumento do filho. Jr. aproveitou para chamar palmas - o público levantou, e Berry retribuiu fazendo o "Duck Walk", passo de dança criado por ele, e conhecido também em uma versão requentada por Angus Young, guitarrista do AC/DC.
Logo depois de "My Ding a Ling", Berry iniciou "Reelin' and Rockin'", pedindo a presença de algumas mulheres no palco - em certo momento, deixou que elas tomassem conta do show, retirando-se para o canto direito. Ele avisou que a apresentação estava chegando ao fim, e foi para o backstage ainda tocando.
Berry Jr. vai ao centro, agradece ao público e apresenta a banda, fazendo a platéia acreditar num bis que não veio. Quem esperava por um retorno com "Roll Over Beethoven" e "Maybellene" saiu decepcionado.
Foram pouco mais de 60 minutos de clássicos sem data de validade, que inspiraram bandas como Beatles, Rolling Stones e Beach Boys. Os erros e o cansaço aparente ao final da apresentação ficaram em segundo plano diante da figura de Chuck Berry, que mesmo depois de tanto tempo, continua simbolizando o rock'n roll com simplicidade e descontração, seja na técnica ou na postura no palco.
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