Criolo, Elza Soares, Céu, Racionais MC’s, Caetano Veloso, Macaco Bong, Emicida e Tulipa Ruiz comentam participação na lista; veja a lista com todos os discos já escolhidos como "melhores do ano" pela Rolling Stone Brasil
Redação Publicado em 28/10/2016, às 13h35 - Atualizado às 13h44
Neste mês, a Rolling Stone Brasil completa dez anos. Isto é, uma década de incontáveis memórias de uma história de beleza e fúria. Desde que chegou ao Brasil, a RS publicou 122 edições e produziu 144 capas com personalidades da moda, cinema, esporte, TV e, claro, da música. Para comemorar esta edição mais do que especial, revisitamos nossas listas de melhores discos nacionais dos últimos anos e conversamos com alguns dos artistas eleitos.
Veja as capas dos discos eleitos "melhores do ano" na galeria acima
Os Eleitos
Em 2008, o álbum Artista Igual Pedreiro, do trio cuiabano Macaco Bong, conquistou o primeiro lugar. Na história da versão brasileira da revista, ele é o único trabalho instrumental a conseguir alcançar tal feito. “Este prêmio foi divisor de águas não somente na história da banda, mas na história da música underground brasileira”, relembra Bruno Kayapy.
“Artista Igual Pedreiro quebrou preconceitos”, continua o músico. “O disco rompeu aquela barreira que havia entre a música instrumental e a música cantada, entre o underground e o mainstream, aquele velho dilema: ‘Ser ou não ser comercial, eis a questão’ foi de fato desconstruído através da premiação deste álbum pela RS.”
Dois mil e nove foi o ano de a intérprete e compositora Céu ficar com a posição privilegiada. Com Vagarosa, sucessor do debute autointitulado, o álbum da paulistana foi ainda mais fundo nos climas e camadas musicais. A graça é ouvir como se o título fosse uma sugestão: sem pressa, caçando cada um dos muitos detalhes que surgem a cada audição. “Foi extremamente especial”, revela Céu. “Já que aquele foi um ano de muitos discos lindos e inspiradores. Fui pega de surpresa…”
"Esse álbum é mais ousado”, disse a cantora em entrevista à Rolling Stone Brasil na época do lançamento do segundo disco da carreira. “Não tinha muitos planos de reconhecimento de larga escala. Foi [um trabalho] extremamente sincero. Fiz sem pensar no peso de ser o segundo álbum. Outra ousadia é a ausência de instrumentação. É aquela temática de 'Cangote': o ócio, o vagar, o vagaroso. Um pouco de leseira não é pecado. A Jamaica é uma influência que sempre tive. Quis trazer essa ideologia para a música, sua estrutura. Queria que soasse mais tocado de banda, não de produtora."
Eleita em 2010 pelo debute Efêmera, Tulipa Ruiz não esconde a o apego sentimental por ter conquistado o lugar ao sol entre os melhores discos nacionais daquele ano. “Lembro que minha assessora me ligou empolgada contando. Corri nas bancas e comprei várias revistas para toda a minha família. Guardo até hoje um exemplar fechado.”
“Foi um reconhecimento fundamental para a difusão do meu trabalho”, continua a cantora. “Na época, meu irmão, Gustavo Ruiz – produtor do disco – estava no Caribe, em Los Roques. Ele mostrou a revista on line para os donos da pousada onde estava hospedado e eles fizeram uma festa para comemorar o primeiro lugar.”
Para Criolo, ter Nó na Orelha como o melhor disco nacional de 2011 o ajudou a dar novas perspectivas à carreira musical. “Lembro que nessa época, em 2011, estava me despedindo dos palcos e já sem horizonte, acostumado com a ideia. Foi um momento muito especial, a música vem da alma, vem dos olhares, vem de todos os lugares, e viver aquele momento foi algo sublime.”
“Bonito de ver” foi como Caetano Veloso justificou a escolha do curioso nome do álbum Abraçaço, que foi eleito pelo nosso time de especialistas como o melhor disco de 2012. Com 11 faixas, o trabalho encerrou a trilogia gravada em parceria de Caê com Pedro Sá (guitarra), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), sendo os dois últimos da banda Do Amor. Foi ao lado deles, sob o nome de Cê, que o cantor veterano lançou os álbuns Cê (2006) e Zii e Zie (2009).
Segundo Gomes, Abraçaço foi resultado de um maior entrosamento entre Veloso e banda. “Caetano normalmente chega com a música na base de voz e violão. Nós, então, vamos tendo ideias. Neste disco, normalmente ficamos com a primeira que veio. Era para ele ter sido gravado em duas semanas, mas é que conversamos muito, fazemos muita piada, e acabou durando um pouco mais.”
Embora declare não ser “o maior fã desse negócio de competição”, Emicida acredita que a escolha do disco O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui como o melhor de 2013 teve um papel chave na questão da representatividade das minorias sociais na música e na mídia.
“Estar com um disco de rap no topo da lista de uma revista importante como a Rolling Stone Brasil, em um mercado que negligencia nosso potencial artístico há tanto tempo, é revolucionário”, diz o rapper. “Fico foda até hoje quando vou nas quebradas e os moleques me trazem pra eu autografar. É algo que precisava acontecer mais e infelizmente só a favela percebe a importância de verdade.”
Em 2014, o Racionais MC’s quebrou o jejum de 12 anos sem lançar um disco de inéditas com Cores e Valores. Mais abertos a experimentações, Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edir Rock lançaram um trabalho ousado, mostrando que não têm receio de acrescentar novos rumos à própria trajetória.
“Ficamos lisonjeados pelo primeiro lugar”, revela Brown à Rolling Stone Brasil. “Esse disco Cores e Valores mostra uma fase mais madura do Racionais. Depois de muitas viradas e fases, esse disco mostra um Racionais já em 2020, em um outro mundo. São novos momentos com viradas na tecnologia, moda, comportamento, um outro mundo mesmo, um novo ponto de vista.”
Primeira mulher negra a conquistar o primeiro lugar da nossa lista de melhores discos nacionais do ano, Elza Soares declara ter recebido a notícia com “imensa alegria”. Ao unir forças com Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Guilherme Kastrup, Rodrigo Campos, entre outros, a cantora carioca mostrou que ainda é capaz de embalar antigos fãs e cativar novos admiradores.
“Antes, trabalho de sucesso era aquele que tocava na rádio. A Mulher do Fim do Mundo não toca nas rádios, mas temos lotado todos os shows com fãs antigos e recentes. O prêmio foi muito representativo não apenas por ter sido o meu primeiro disco de inéditas, mas também por tratar de assuntos tão urgentes, como homofobia, machismo, violência doméstica e racismo.”
Melhores do ano na primeira década da Rolling Stone Brasil
2007:Acústico MTV, de Paulinho da Viola
2008:Artista Igual Pedreiro, do Macaco Bong
2009:Vagarosa, de Céu
2010:Efêmera, de Tulipa Ruiz
2011:Nó na Orelha, de Criolo
2012:Abraçaço, de Caetano Veloso
2013:O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, de Emicida
2014:Cores e Valores, do Racionais MC's
2015:A Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares
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