Capa da coletânea <i>On Air</i>, do Rolling Stones - Reprodução

Rolling Stones reeditado: banda que sempre evitou relançar material reúne registros lendários e cobiçados em On Air

Box, que chega em dezembro, traz gravações raríssimas feitas para a BBC nos anos 1960

Paulo Cavalcanti Publicado em 11/10/2017, às 15h36 - Atualizado às 21h07

De todas as bandas do primeiro escalão do rock, Rolling Stones é a que menos dá atenção para relançamentos e material de arquivo – e não é à toa. Certa vez, o ex-baixista Bill Wyman, que era considerado o arquivista dos Stones, disse à revista inglesa Record Collector que enquanto a banda estivesse na ativa e lançando produtos novos Mick Jagger e Keith Richards não estariam dispostos a mexer no arquivo.

Retornaremos a essa questão, mas antes cabe lembrar os relançamentos que Stones colocaram, sim, no mercado, apesar dessa resistência. Primeiro vieram as versões remasterizadas dos álbuns clássicos Sticky Fingers (1971), Exile on Main St. (1972) e Some Girls (1978), incluindo aí material bônus. Não foi por acaso que essa fase ganhou as lojas (novamente) antes das outras. A partir de 1971 até o presente momento, todos os fonogramas e direitos autorais pertencem à própria banda, por meio do selo Rolling Stones Records. Então, para Jagger, Richards e cia., é mais fácil e lucrativo mexer com esse período. O material que os Stones gravaram de 1963 a 1970 pertence à ABKCO Music & Records, Inc, cujo proprietário e fundador era Allen Klein, antigo empresário e nêmeses da banda por anos. Durante a década de 1970, Klein processou e foi processado pelo grupo. Os músicos falavam que Klein devia a eles uma fortuna em royalties. O empresário argumentava que os Stones deviam a ele um disco com gravações inéditas. O caso foi resolvido em 1975, quando os Stones autorizaram o lançamento de Metamorphosis, LP com material que havia sido rejeitado na década de 1960 e portanto, permanecia inédito.

Quando Allen Klein morreu, em 2009, o filho dele, Jody, já havia assumido a companhia e tratado de pacificar a relação com os Stones. Em 1996, os Stones e a ABKCO se mobilizaram para disponibilizar em CD a trilha do lendário The Rolling Stones Rock and Roll Circus, especial de televisão feito em 1968 e que nunca havia sido exibido (o DVD saiu em 2004). A partir de então, a Rolling Stone Records e a ABKCO começaram a trabalhar juntas com mais frequência, resultando, em 2002, no relançamento das versões remasterizadas dos álbuns clássicos da década de 1960. Naquele mesmo ano a coletânea tripla GRRR!, feita para celebrar os 50 anos da banda, chegou ao mercado com fonogramas de todas as fases dos Stones. Àquela altura as coisas já estavam mais fáceis, já que as duas empresas estavam ligadas à Universal Music, naquele momento.

Retornando à resistência da banda aos relançamentos: sim, ela existe mesmo. Apesar dos títulos citados acima, os Stones sempre ficaram com um pé atrás quando o assunto era autorizar o lançamento de material inédito gravado na década de 1960. Há cerca de 20 anos, foi anunciado que os músicos fariam um projeto similar ao Anthology, dos Beatles. Várias gravações da BBC deveriam ter sido incluídas nesta caixa, que daria um geral em todo o legado stoneano. Mas de uma hora para outra, sem explicação, o lançamento foi cancelado. Por isso, On Air é essencial: essas gravações feitas para a BBC finalmente ganharão um lançamento oficial e autorizado em 1 de dezembro, que é quando o material sai pela Universal Music em CD simples, CD duplo de luxo e em vinil duplo.

Esses registros são lendários e cobiçados. Todas as grandes bandas dos anos 1960 e 1970 – Beatles, Led Zeppelin, The Kinks, The Animals – têm trabalhos que nasceram de programas da rádio inglesa. Na época, existia uma lei que obrigava que parte da programação das rádios fosse feita com música ao vivo, restringindo um pouco o uso dos LP e compactos simples, que continham as gravações lançadas comercialmente. Nos estúdios da BBC, os artistas tinham condições de se soltar e realizar registros inéditos que não saiam nos discos oficiais.

Na época, os Stones tinham em sua formação Mick Jagger (vocal, gaita), Keith Richards (guitarra), Brian Jones (guitarra), Bill Wyman (baixo) e Charlie Watts (bateria). Apesar de não será tão prolíficos quanto os Beatles, no período de 1963 a 1965 o quinteto realizou sessões em quantidade suficiente para preencher um CD duplo. O grande atrativo para os fãs, além de ouvir versões bem diferentes para clássicos como “The Last Time” e “(I Can’t Get No) Satisfaction”, será o acesso a faixas que os Stones não registraram oficialmente, como “Cops and Robbers” (Bo Diddley), “Hi Heel Sneakers” (Tommy Tucker), “Ain’t That Loving You Baby” (Jimmy Reed), além de várias de Chuck Berry (“Memphis, Tennessee”, “Roll Over Beethoven”, “Beautiful Delilah”).

O material oferecerá um enorme ganho sonoro em relação às edições piratas, que apresentam o som com baixa fidelidade. Todo o material de On Air foi remasterizado e remixado nos estúdios Abbey Road, na Inglaterra. Paralelamente, a editora Harper Collins edita um livro homônimo, registrando todas as aparições dos Rolling Stones na rádio e na televisão durante a década de 1960. O livro não tem previsão de publicação no Brasil, mas a Universal deverá lançar o CD da BBC por aqui. Com o título em breve nas lojas, quem sabe os Stones não se animam e continuam mexendo nas sobras da década de 1960? O material é vasto e precioso.

Abaixo, a relação completa de faixas de On Air, com as canções, os respectivos programas e a data da gravação. O sinal de asterisco (*) denota canções que não foram lançadas comercialmente pelos Stones.

Disco 1 (CD normal e LP duplo)

1 - “Come On” (Saturday Club, 26/10/1963)

2 - “(I Can’t Get No) Satisfaction” (Saturday Club, 18/9/1965)

3 - “Roll Over Beethoven” (Saturday Club, 26/10/1963) *

4 - “The Spider and The Fly” (Yeah Yeah, 30/8/1965)

5 - “Cops and Robbers” (Blues In Rhythm, 9/5/1964) *

6 - “It’s All Over Now” (The Joe Loss Pop Show, 17/7/1964)

7 - “Route 66” (Blues In Rhythm, 9/5/1964)

8 - “Memphis, Tennessee” (Saturday Club, 26/10/1963) *

9 - “Down The Road Apiece” (Top Gear, 6/3/1965)

10 - “The Last Time” (Top Gear, 6/3/1965)

11 - “Cry To Me” (Saturday Club, 18/9/1965)

12 - “Mercy, Mercy” (Yeah Yeah, 30/8/1965)

13 - “Oh! Baby” (We Got a Good Thing Goin’) (Saturday Club, 18/9/1965)

14 - “Around and Around” (Top Gear, 23/7/1964)

15 - “Hi Heel Sneakers” (Saturday Club, 18/4/1964) *

16 - “Fannie Mae” (Saturday Club, 18/9/1965) *

17 - “You Better Move On” (Blues In Rhythm, 9/5/1964)

18 - “Mona” (Blues In Rhythm, 9/5/1964)

Disco 2 (CD que estará na edição de luxo)

1 - “I Wanna Be Your Man” (Saturday Club, 8/2/1964)

2 - “Carol” (Saturday Club, 18/4/1964)

3 - “I’m Moving On” (The Joe Loss Pop Show, 10/4/1964)

4 - “If You Need Me” (The Joe Loss Pop Show, 17/7/1964)

5 - “Walking The Dog” (Saturday Club, 8/2/1964)

6 - “Confessin’ The Blues” (The Joe Loss Pop Show, 17/7/1964)

7 - “Everybody Needs Somebody To Love” (Top Gear, 6/3/1965)

8 - “Little By Little” (The Joe Loss Pop Show, 10/4/1964)

9 - “Ain’t That Loving You Baby” (Rhythm and Blues, 31/10/1964) *

10 - “Beautiful Delilah” (Saturday Club, 18/4/1964) *

11 - “Crackin’ Up” (Top Gear, 23/7/1964) *

12 - “I Can’t Be Satisfied” (Top Gear, 23/7/1964)

13 - “I Just Want to Make Love to You” (Saturday Club, 18/4/1964)

14 - “2120 South Michigan Avenue” (Rhythm and Blues, 31/10/1964)

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