A coreógrafa "que era muito mais do que coreógrafa", a mulher que, "dançando, quebrava nossas pernas": Pina Bausch, morta em junho, inspirou a coleção que o estilista apresenta nesta terça, 19, na São Paulo Fashion Week
Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 19/01/2010, às 11h00
O que leva uma pessoa a trabalhar com moda e querer fugir dela? Quem acompanha a carreira de Ronaldo Fraga sabe: para o homem sempre pronto a dar um perdido nas tendências, trata-se da vontade de "não sair do mundo da mesma forma que entrei nele".
O que o estilista mineiro quer, em outras palavras, é deixar sua pegada no mundo sem necessariamente vender-se a ele. E, nesse ponto, identifica-se bastante com a mulher que inspirou a coleção que apresenta nesta terça, 19, na São Paulo Fashion Week.
Pina Bausch, afinal, era um objeto não identificado a planar sobre seu ofício, a dança. Procurou sua própria verdade, mesmo que esta estivesse lá fora, e para isso vasculhou os arquivos X da arte, criando mais de 40 espetáculos à frente do seu tempo. Como coreógrafa "que vai entrar na história como muito mais do que apenas uma coreógrafa", a alemã espatifou o balé clássico até que só restassem os caquinhos. Reconstruiu a dança, então, como mosaico único, "fundindo erudito e popular", diz Fraga, que, em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil, adiantou que vai misturar Caetano Veloso e Tchaikovsky na trilha de hoje.
Para alguém que, há duas temporadas, ousou colocar molecada e idosos para desfilar no lugar das modelos de sempre, essas candidatas a novo rosto da Capela Sistina, é fácil se identificar com Pina. "Este estranhamento que foi sua obra, sua figura, sua forma de conceber... É um lugar em que me sinto confortável", complementa, palavras entrecortadas por uma gargalhada. "É o caminho que procuro. Se tenho conquistado, não sei."
A vontade de montar uma coleção inspirada em Philippine Bausch surgiu muito antes da morte da dançarina, aos 68 anos, em 30 de junho de 2009. Há "uns cinco anos, por aí", Fraga começou a pesquisar, mas parou no meio do caminho. Não conseguiu ir a Wuppertal, cidade alemã onde a coreógrafa mantinha sua famosa companhia, uma viagem que considerava fundamental para montar sua coleção.
Não chegou a visitar Wuppertal - "uma coisa industrial horrorosa, tipo o Cubatão de São Paulo, que só conseguiu entrar no mapa por causa da personalidade da Pina" - para o inverno de 2010 (estava em andanças pela América Latina para estudar o desfile da SPFW passada). Mas isso não o incomodou desta vez. "Fiquei muito impactado com a morte dela. Decidi criar com as impressões que tinha, de todas as peças que assisti", explicou o homem que definiu Pina Bausch como a mulher que, "dançando, quebrava nossas pernas".
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