<b>Harmonioso</b><br> Reynolds tem um senso equilibrado a respeito de si próprio. - Divulgação

Ryan Reynolds comenta o bem-sucedido Deadpool

Em entrevista publicada na edição de fevereiro da Rolling Stone Brasil, o ator fala sobre o anti-herói, HQs e a falta de diversidade em Hollywood

Stella Rodrigues Publicado em 20/02/2016, às 11h13 - Atualizado em 21/02/2016, às 14h58

O fato de Deadpool ser um sujeito que sabe que é um personagem de HQ e se comportar como tal é parte do que o torna adorado. Cuspindo falas azedas indistintamente, Wade Wilson/Deadpool é antissocial e tem um parafuso solto justamente por causa dessa ciência. Já Ryan Reynolds, ator que o interpreta no cinema no filme de mesmo nome que estreia neste mês, parece perfeitamente à vontade com a pecha de galã malhado (e com a ideia de que a internet guarda diversas listas dedicadas a registrar seus melhores momentos sem camisa na tela).

Reynolds usa dessa lucidez para crescer dentro de uma indústria que nem sempre privilegia o que ele acha que é certo. Em um quarto de hotel em Nova York, em outubro de 2015, o ator de 39 anos se mostra especialmente orgulhoso da iniciativa própria de inserir piadas à custa dele mesmo no roteiro. “Você tem que ser realista com as coisas. Nunca fui dessas pessoas que ficam brigando e se defendendo”, diz ele, que tinha um desafio duplo neste novo papel: se redimir com fãs de HQ após o fracasso de Lanterna Verde e apagar da memória geral a versão unanimemente rejeitada do Deadpool mostrado em X-Men Origens: Wolverine. “Se não gostaram de um trabalho meu, me sinto perfeitamente confortável de fazer troça junto. Contanto que o saco de pancada da piada seja eu, e não outra pessoa. Entrei nessa indústria assim, rindo de mim mesmo. E se tinha em mãos um filme metalinguístico, que quebra a quarta parede, precisava aproveitar isso do melhor jeito.” E como aproveitou. Quase todo o material promocional do filme cutucou esses dois desacertos do cinema blockbuster. Quando o primeiro trailer foi mostrado na Comic-Con, ano passado (“Eu estava tão nervoso”, relembra Reynolds), a comoção diante de um autêntico Merc with a Mouth (ou “mercenário bocudo”, como o personagem é conhecido) foi tamanha que o vídeo foi ovacionado e teve que ser exibido novamente.

Chegar lá não foi fácil. Deadpool, que ainda tem no elenco a brasileira Morena Baccarin, Gina Carano e Ed Skrein, é uma obra de baixo orçamento, para os padrões de filmes adaptados de HQ, e demorou seis anos para ficar pronta. Quando algumas cenas vazaram (anos depois de terem sido rodadas), foi a reação positiva da internet que fez com que o estúdio desse o sinal verde para o diretor Tim Miller, especialista em efeitos especiais inexperiente na direção de longas. Apesar das credenciais de Miller, o que menos há no filme é computação gráfica. “Não podíamos pagar CGI, então nosso escopo está todo no desenvolvimento do personagem. Criamos um universo de ação, mas é tudo feito de forma contida. A necessidade é a mãe da criatividade.” Se tem algo que Lanterna Verde ensinou ao ator é que uma mercadoria com etiqueta de preço imponente não é garantia de nada.

Outra grande mudança para Reynolds em relação a papéis anteriores no cinema pipoca é a pouca relevância de sua beleza e do charme canadense para o anti-herói. Wade Wilson tem o rosto queimado e desfigurado, o que resultou em um “longo e divertido” processo de maquiagem para o ator e também em algumas das melhores falas do filme – “seu rosto parece com o resultado de Freddy Krueger ter transado com um mapa topográfico do [montanhoso estado norte-americano] Utah”, diz o personagem Weasel (T.J. Miller). Para o protagonista, houve um certo alívio em poder contar com outras habilidades para vender Deadpool, embora saiba plenamente que esse é um “problema de primeiro mundo” e que, enquanto homem bem-apessoado, heterossexual e branco, ele passa longe de ser a maior vítima desse tipo de questão. “Você sempre quer imergir no personagem, mas eu nunca vou poder comparar a minha situação com o tremendo abismo de desigualdade que há em Hollywood em termos de raça, gênero e orientação sexual. Isso é algo muito mais terrível do que qualquer outro desafio meu que eu possa descrever. Vejo isso o tempo todo, tenho amigos assumidamente gays e que não recebem certas ofertas, mesmo que sejam atraentes”, diz. “Eu não lido com discriminação”, continua ele, adiantando o tema mais polêmico deste início de 2016, por causa da falta de diversidade na lista de indicados ao Oscar. “É um assunto que está muito em voga e esta é, de fato, uma polêmica que vale a pena ser debatida, o que é algo raro.”

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