- Scorpions no festival Rockfest, realizado em São Paulo (Fotos: Ricardto Matsukawa / Mercury Concerts)

Scorpions celebra 30 anos de ‘Wind of Change’ enquanto prepara álbum mais pesado [ENTREVISTA]

Banda alemã celebra três décadas do lançamento do álbum Crazy World e Klaus Meine comenta livro de fã brasileiro sobre o grupo

Larissa Catharine Oliveira | @whosanniecarol Publicado em 30/12/2020, às 11h00

“Nesses tempos, mais entrevistas são feitas assim [por chamada de vídeo], é muito legal porque, mesmo com o distanciamento social, estamos conectados com o mundo inteiro”, começa Klaus Meine ao atender a Rolling Stone Brasil, pelo Skype, no final de novembro. “É muito melhor do que ligar apenas por telefone, é muito mais fácil”.

São 18h na Alemanha, e o vocalista do Scorpions está no estúdio da própria casa, mas poderia estar prestes a subir no palco, vestindo colete, anéis e colares, óculos escuros e a boina que se tornou marca registrada nas últimas décadas. Mesmo com visual completo, não há nenhum vestígio de uma persona rockstar ao longo da conversa de 40 minutos. Meine fala com empolgação sobre todos os tópicos abordados, desde o próximo lançamento da banda e os 30 anos do álbum Crazy World, até os programas favoritos na Netflix. (“Essa é a palavra-chave de 2020: Maratonar séries!”, brinca ao falar de Suits.)

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Novo álbum

Rudolf Schenker, Klaus Meine e Matthias Jabs no estúdio em 2020 (Foto: Reprodução/Instagram)

Apesar do bom humor, o cantor classifica o ano como “assustador”. Quando o mundo parou, a banda estava em turnê pela Austrália e precisou adiar para maio de 2021 uma residência em Las Vegas. De volta ao lar, entraram imediatamente em “modo criativo”, mas a impossibilidade de se reunir com o produtor Greg Fidelman em Los Angeles atrapalhou o cronograma de gravações do vigésimo álbum de estúdio do Scorpions, o primeiro de inéditas desde Return to Forever (2015).

Os guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs também moram na Alemanha, mas o baixista Paweł Mąciwoda e o baterista Mikkey Dee, ex-Motorhead, precisam de viagens constantes para prosseguir com as gravações - algo dificultado pela nova fase de “lockdown leve” na Europa. Antes de iniciar os ensaios para o álbum, Dee foi infectado com o COVID-19, em março, mas se recuperou rapidamente.

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Em março, o Scorpions lançou “Sign of Hope”, uma música inspirada pelos desafios da pandemia. Enquanto alguns artistas começaram com lives, os alemães decidiram contribuir com uma balada delicada sobre o futuro. Três versões do lyric video da faixa já foram lançadas com fotos enviadas pelos fãs. “Não era o lançamento de um novo single, não era sobre isso. Queríamos mandar esse sinal de esperança”, resume Meine. “Em bons e maus momentos, música é o que impulsiona a alma”. A tranquilidade da faixa, porém, não reflete o trabalho desenvolvido no próximo disco.

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Conhecida por baladas como “Still Loving You” e “Wind of Change”, uma das músicas mais vendidas da história, o Scorpions pretende explorar o lado “mais rock, mais pesado” da banda no novo material, e por isso escolheram Fidelman - conhecido por trabalhos com Slayer, Metallica e Slipknot - como produtor. “E agora temos Mikkey Dee na banda, ele é um ótimo baterista”, observa Meine. “Na última semana, a banda tocou junto e foi fantástico. Em meio a uma situação tão desafiadora, é uma benção sermos capazes de mergulhar profundamente em nosso mundo criativo e fazer novas músicas. Ainda estamos motivados, não queremos pensar no fim da estrada”.

Meine não revela muitos detalhes sobre o novo projeto. Se não fosse a pandemia, o disco já estaria finalizado, mas segue sem data de lançamento ou título. “Não sabemos ainda. É muito cedo, está na fase de criação ainda”, explica. “Esperamos que seja lançado na próxima primavera, e se pudermos voltar para a estrada no próximo verão ou outono seria fantástico. E, claro, voltaremos para ver todos nossos fãs no Brasil, sempre nos divertimos aí”.

Fãs brasileiros

Com 50 anos de carreira, o Scorpions mantém uma relação próxima com os fãs do mundo inteiro - inclusive no Brasil, por onde já se apresentaram 45 vezes desde a estreia no primeiro Rock In Rio. A banda já passou por cidades distantes do roteiro de turnês internacionais no país, de Brasília a Manaus, onde conheceram o Rio Negro e tribos indígenas locais. “Nossa, temos memórias incríveis de todos esses lugares”, relembra com empolgação.

Nós amamos você, Brasil 🇧🇷🇧🇷🇧🇷 pic.twitter.com/NNNQPRA1A3

— Scorpions (@scorpions) October 5, 2019

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Questionado sobre o relacionamento com fãs, Meine prontamente cita a “amizade muito boa” com dois fãs brasileiros: Roberta Forster e David Araújo, responsáveis pelo site Scorpions Brazil. Ao longo dos anos, ambos se tornaram amigos da banda - e essa história será lançada em livro ainda em 2021. David, autor da obra, teve autorização do Scorpions para usar o logo da banda na capa do livro O Outro Lado do Show, ainda sem data de lançamento, e um ex-Scorpions assina o prefácio. “Ele é um fã fiel e apaixonado, conhece produtores e ex-integrantes desde os anos 1970, ele é muito motivado. Merece todo o nosso apoio”, elogia o vocalista.

 

30 anos de Crazy World e “Wind of Change”

Lançado em 06 de novembro de 1990 e responsável por sucessos como “Tease Me, Please Me” e “Send Me An Angel”, até hoje presentes no setlist, o álbum Crazy World (1990) completou 30 anos em 2020. O disco chegou ao público mais de um ano após a Queda do Muro de Berlim, mas o single “Wind of Change” ficou marcado como a trilha sonora daquele momento de profundas mudanças políticas e sociais - e segue como o maior sucesso da banda.

Box-set comemorativo dos 30 anos de "Wind of Change" (Foto: Divulgação)

A marca foi comemorada com o lançamento de um box limitado com um livro de 84 páginas sobre a faixa, vinis e CDs com versões em espanhol e russo da música, além da original e a primeira demo nunca lançada - até um pedacinho do Muro de Berlim está incluso.

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A música foi composta por Meine após a apresentação do Scorpions no histórico festival Moscow Music Peace Festival, em agosto de 1989, com bandas como Motley Crue e Ozzy Osbourne pela primeira vez na então capital da União Soviética.

Naquela segunda visita da banda alemã à URSS, às vésperas da queda do muro, era impossível negar a chegada dos ventos da mudança. Quando o grupo se apresentou em Leningrado, em 1988, as tensões ainda eram altas, mas tudo parecia diferente no ano seguinte. “Os soldados da segurança [no festival] jogaram os capacetes para o alto e se juntaram à plateia, tocamos Blackout e todos enlouqueceram. Podíamos ver o mundo mudando, mesmo sem saber que o Muro cairia alguns meses depois”, conta. “Não foi um plano de marketing, as pessoas entenderam a mensagem da música”.

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Segundo Meine, a música surgiu “do fundo da alma” e foi escrita rapidamente após a experiência. Sem querer, “Wind of Change” se tornou uma música política e um hino de esperança que emociona multidões ainda hoje, três décadas depois, como aconteceu com a plateia dos festivais brasileiros Rockfest e Rock In Rio em 2019. “As gerações mais novas querem um mundo melhor, liberdade e paz e essa música é sobre isso”, completa o cantor. “Ainda estamos em um mundo muito louco, mas está na hora de uma mudança”.

Diante de tantos desafios e expectativas para 2021, Meine se mostra confiante, seja pelo resultado das eleições dos Estados Unidos (“É um triunfo para a democracia, isso é bom para o mundo inteiro”) ou pelo poder da música em meio a tempos difíceis. “Seguimos juntos e fortes. E a música é um pouco do que podemos doar para fazer nossos fãs se sentirem melhor”.


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