“Não somos difíceis de entender. Somos acessíveis sem ser burras”; diz a vocalista Donita Sparks
Bruna Veloso Publicado em 30/11/2018, às 08h38
Quando o L7 veio ao Brasil pela primeira e única vez, em 1993, Donita Sparks ficou em choque. “Lembro da escolta da polícia, que foi surreal. Lembro dos fãs no aeroporto e no hotel, seguindo a gente”, conta a vocalista e guitarrista da banda, uma das mais importantes do rock alternativo nos anos 1990. O grupo volta ao país com a formação clássica – além de Donita, Suzi Gardner (guitarra e vocais), Jennifer Finch (baixo) e Dee Plakas (bateria) – para cinco shows a partir deste fim de semana. A recepção deve ser diferente do que foi duas décadas e meia atrás, mas a intensidade das apresentações seguiu inalterada.
Cenas daquela passagem pelo país são mostradas no ótimo documentário L7: Pretend We’re Dead (2016), realizado graças a uma campanha de crowdfunding. Na época, a expectativa dos brasileiros recaía especialmente sobre os shows do Nirvana, headliner do extinto festival Hollywood Rock. A banda liderada por Kurt Cobain acabou fazendo o que são considerados os dois piores shows da carreira, enquanto o L7 fez apresentações arrasadoras.
O quarteto encabeçado por Donita sempre foi bom de palco, aliás – em termos de música e de atitude. Em 1992, ano anterior à estreia no Brasil, ela protagonizou um dos momentos mais infames da história do rock. No palco do britânico Reading Festival, com problemas de som, ela e suas companheiras de banda foram atacadas com bolas de lama vindas do público. A resposta à agressividade da plateia? Donita abaixou as calças, arrancou o absorvente interno que usava e o arremessou, gritando ao microfone: “Engulam meu absorvente, seus merdas!”. Hoje, fãs costumam jogar absorventes no palco – não usados, claro – com mensagens de amor às integrantes.
Aquele tempo representou o auge para o L7, assim como foi para tantos outros artistas contemporâneos. Mas, alguns anos depois, deu-se início à derrocada: primeiro, Jennifer Finch anunciou a saída da banda por meio de um bilhete, em 1996, no meio da gravação do disco The Beauty Process: Triple Platinum. Depois, elas perderam o contrato com a gravadora. Foi, então, a vez de Suzi abandonar o grupo. Em 2001, a banda entrou oficialmente em “hiato por tempo indeterminado”.
“Nós tivemos uma crise de identidade quando a banda se separou, e foi bem pesada para todas”, relembra Donita. A proximidade quase fraterna da juventude deu lugar, hoje, a uma relação mais pragmática. “Diria que somos colegas musicais que se divertem juntas. Eu e Dee somos muito próximas, mas nós quatro não fazemos coisas juntas quando estamos de folga. Sempre foi mais sobre música do que sobre amizade em si. Somos amigas, mas nos juntamos pela música.”
Independentemente do que ocorre fora do palco, porém, o L7 continua trabalhando em potência máxima quando está sobre ele. Versos como “Got so much clit she don’t need no balls” (algo como “ela tem tanto clitóris que não precisa de nenhuma bola”, de “Fast and Frightening”), seguem com o mesmo peso de ironia, deboche e crítica, assim como trechos de canções como “Wargasm” e “Me, Myself and I”, citadas por Donita como algumas das quais mais gosta na obra do L7.
A capacidade para compor, felizmente, não ficou no passado. Em 2017, cerca de 3 anos depois de se reunir, a banda lançou dois singles inéditos: “Dispatch From Mar-a-Lago”, crítica a Donald Trump, e “I Came Back to Bitch”. A julgar por essas duas, o primeiro álbum da banda em 20 anos, previsto para o início de 2019, deve fazer jus ao legado deixado até o momento pelas integrantes. “Temos cinco músicas finalizadas, e assim que terminarmos a turnê pela América do Sul vamos fechar o disco, para lançar em fevereiro ou março”, revela Donita. “Decidimos fazer mais músicas porque estávamos nos divertindo fazendo turnê, mas não queríamos nos tornar uma banda só de velharia. Queríamos nos manter relevantes e lançar coisa nova.”
Assim como o documentário, o álbum também foi viabilizado graças ao apoio financeiro dos fãs. Essa relação de proximidade é, inclusive, uma das diferenças de cenário que a banda experimentou ao voltar à ativa. A veia “faça você mesmo” continua impressa no DNA do L7, mas de um jeito diferente. “Diria que, anos atrás, era um ‘faça você mesmo’ inserido numa comunidade maior de bandas underground. Se tocássemos em uma cidade diferente, iríamos conhecer as bandas daquela cidade, e quando elas tocassem em Los Angeles, nós as receberíamos. Nessa cena ‘faça você mesmo’, tínhamos ‘salva-vidas’ ao longo do caminho. Se você estivesse viajando, ia conhecer amigos de amigos, que iriam te dar suporte. Você ficaria na casa deles, eles cozinhariam para você, essas coisas. Agora, é tudo muito ligado a mídias sociais. A gente se conecta diretamente com os fãs pelo Facebook.”
Ela prossegue falando sobre a atual ligação entre banda e público: “Eu sou grata pelo fato de o L7 ainda falar muito com os jovens. Não somos difíceis de entender, não somos muito abstratas. Falamos por nós, mas sobre coisas com as quais uma pessoa jovem pode se identificar. Sou grata por não sermos muito ‘esotéricas’ ou complicadas. Somos acessíveis sem ser burras”.
Donita chegou a passar pelo Brasil com seu projeto solo, o Donita Sparks and the Stellar Moments, mas, segundo ela, se apresentar ao vivo com o L7 é diferente. Também por isso, os shows no Brasil são imperdíveis para quem aprecia a experiência catártica e coletiva que surge quando se está diante de uma boa banda. “Me sinto muito poderosa com o L7. Eu me sentia vulnerável no palco com meu projeto solo”, diz a artista. “Com o L7 é um sentimento poderoso, e é uma coisa das quatro juntas. A gente fala por muita gente. Gente que se sente desconectada, gente lidando com babaquice na escola, com babaquice no trabalho, ou com a merda da autoridade.” Não importa a idade, alguns sentimentos não mudam. Ainda bem que algumas bandas também não.
Veja abaixo o serviço dos shows do L7 no Brasil.
Rio de Janeiro - 1/12
Circo Voador: Rua dos Arcos, s/n - Lapa, Rio de Janeiro/ RJ
R$ 120
www.tudus.com.br
19h: Abertura da casa
Shows de abertura: Lâmmia e Indiscipline
São Paulo - 2/12
Tropical Butantã: Av. Valdemar Ferreira, 93 - Butantã, São Paulo/ SP
R$ 130 a R$ 200
www.clubedoingresso.com
18h: Abertura da casa
18h15: Deb and The Mentals
19h: Pin Ups
20h: Soul Asylum
21h30: L7
Porto Alegre - 4/12
Bar Opinião: Rua José do Patrocínio, 834 - Cidade Baixa, Porto Alegre/RS
R$ 90 a R$ 180
http://www.blueticket.com.br
20h: abertura da casa
Curitiba - 5/12
Hermes Bar: Rua Engenheiros Rebouças, 1645 - Rebouças, Curitiba/PR
R$ 150 a R$ 360
www.diskingressos.com.br
17h: abertura da casa
Shows de abertura: Ruído/MM e The Shorts
Belo Horizonte - 6/12
Mister Rock: Av. Tereza Cristina, 295 - Prado, Belo Horizonte/MG
R$ 80
www.queremos.com.br
20h: abertura da casa
Show de abertura: Carne Doce
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