Sepultura com Tambours du Bronx no Rock in Rio 2013 - Marcos Hermes/Divulgação

Lançando DVD Alive at Rock in Rio, Sepultura produz documentário sem irmãos Cavalera

Andreas Kisser conta como surgiu a parceria com o coletivo francês Tambours du Bronx, com quem a banda gravou o disco ao vivo

Lucas Brêda Publicado em 30/09/2014, às 19h45 - Atualizado em 01/10/2014, às 12h13

“Em 2011 foi um risco trazer uma banda gigante, com vários membros, nada conhecida no Brasil”, afirma Andreas Kisser, guitarrista e líder do Sepultura, sobre o show com o coletivo francês Les Tambours du Bronx no Palco Sunset do Rock in Rio. Após dois anos, a parceria esteve novamente na edição brasileira do festival – desta vez no maior palco –, e as 13 músicas da apresentação foram registradas no CD e DVD Metal Veins – Alive at Rock in Rio, lançado pelo Sepultura em 16 de setembro.

Lembre como foi a apresentação do Sepultura com o Tambours du Bronx no Rock in Rio 2013.

“Tocamos em um festival no interior da França, em 2008. Foi lá que nós conhecemos o Tambours du Bronx”, conta Kisser. “Ficamos impressionados com a performance deles. Visualmente e sonoramente, é fantástico, uma coisa muito diferente”. O encontro ocasional evoluiu para a parceria na faixa “Structure Violence”, do disco Kairos (2011), e, em seguida, para as apresentações conjuntas no Palco Sunset (o menor) do Rock in Rio brasileiro (em 2011), no Palco Mundo da edição portuguesa do festival, e no Wacken Open Air, na Alemanha.

“Com o impacto do show de 2011, muita gente ficou criticando: ‘Por que a gente não estava no Palco Mundo?’”, revela o guitarrista. Em 2013, a organização encaixou o show em parceria, enfim, no maior palco do festival, no dia do metal. “Foi bom para poder ter uma condição mais tranquila, se conhecer um pouco mais, até fazer esse registro”. Das 13 faixas de Metal Veins – Alive at Rock in Rio, só a primeira delas, “Kaiowas” é tocada apenas pelo grupo de percussão, todas as outras são apresentadas em parceria. “A intenção foi fazer um show completo”, diz.

Apesar de a apresentação ter acontecido às vésperas do lançamento do disco The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, as faixas do mais recente trabalho do Sepultura ficaram de fora do setlist na ocasião, em detrimento de clássicos antigos e faixas dos discos anteriores, Kairos (2011) e A-Lex (2009). “O show deste DVD não tinha nada a ver com o repertório novo”, conta Kisser. “Então, apresentamos as músicas mais conhecidas com arranjos diferentes. O disco novo, realmente, ficou fora desses planos, por causa da gravação do DVD”.

Edição 85 – P&R: Andreas Kisser.

Além das clássicas “Refuse / Resist”, “Roots Bloody Roots” e “Territory”, a parte do Sepultura da tracklist de Metal Veins – Alive at Rock in Rio conta com a reedição da parceria do estúdio, “Structure Violence”, a cover “Firestarter”, “Sepulnation”, e as recentes “Spectrum” (Kairos) e “We've Lost You” (A-Lex). Do Tambours du Bronx são tocadas “Delirium”, “Big Hands”, “Fever” e “Requiem”, que ganham vida com os arranjos encorpados e a companhia melódica da banda brasileira. O DVD também conta com um making of da apresentação.

Tracklist de Metal Veins – Alive at Rock in Rio

1 – “Kaiowas”

2 – “Spectrum”

3 – “Refuse / Resist”

4 – “Sepulnation”

5 – “Delirium”

6 – “Fever”

7 – “We've Lost You”

8 – “Firestarter”

9 – “Requiem”

10 – “Structure Violence”

11 – “Territory”

12 – “Big Hands”

13 – “Roots Bloody Roots”

The Mediator... e nova formação

Passado o lançamento e recepção do disco The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (do final de 2013), o Sepultura já segue há quase um ano com o novo trabalho na estrada. “Se a gente quiser fazer [um setlist] só velho, faz só velho. Se quiser fazer uma coisa só nova, faz só nova”, admite Kisser, falando sobre as excursões no exterior (como a recente na África) e a liberdade para tocar de cinco a seis músicas novas todo show. “Não fazemos setlist politico, que interessa gravadora ou formação. Respeitamos o fã. Tocamos tudo aquilo que o Sepultura já fez, independentemente de qualquer fator”.

Sepultura – The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart.

O novo álbum marca a estreia em estúdio do novo baterista, Eloy Casagrande, com o grupo. “É só comprar bastante chocolate para ele que está tudo certo [risos]”, brinca o guitarrista, comentando o fato de o dono das baquetas ter ingressado no grupo com apenas 20 anos. “Ele é uma pessoa espetacular. Um cara tranquilo, com quem dá para conversar sobre tudo”, diz. “O [baterista anterior] Jean Dolabella é um cara fantástico também, mas ele não vem dessa escola do heavy metal. E o Eloy veio desse berço, do heavy metal, e o jeito que ele toca é muito natural”. “Ele caiu como uma luva”.

“Slayer é uma banda cover de si mesma”, diz ex-baterista, prestes a desembarcar no Brasil.

Quando gravava The Mediator... na Califórnia, o Sepultura contou com uma participação do ex-baterista do Slayer, Dave Lombardo, em uma jam session com Casagrande. A visita do músico cubano – que estava passeando na praia com a família – rendeu um momento de batidas intensas, e elogios ao baterista do Sepultura. “Amo Eloy”, confessou Lombardo à Rolling Stone Brasil, em entrevista recente. “Poderoso e agressivo. Quando toca bateria, ele tem alma e suingue”. No vídeo abaixo, eles tocam simultaneamente. “Consigo sentir uma alma brasileira quando escuto Eloy tocar”.

O extenso nome The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, segundo Kisser, tem significado baseado do filme alemão de ficção científica de 1927 Metrópolis. “Você vê aquelas pessoas trabalhando, sem lazer, sem alegria, se vestindo todas iguais, para que poucos pudessem desfrutar dos jardins do Éden, lá em cima, com todo o glamour, ar puro, comida, luxo”, teoriza o guitarrista. “É muito do que vemos aqui: todo mundo se matando para pagar as contas no fim do mês, e políticos com iate, roubando, vivendo como reis”.

Documentário sobre 30 anos do Sepultura

Após 30 anos de carreira, o Sepultura decidiu ter, finalmente, um documentário que contasse a história do grupo. Entretanto, sem apoio do setor privado, à princípio – após ter o projeto aceito pela Lei Rouanet –, a banda decidiu recorrer ao financiamento coletivo. Da ambição de US$ 100 mil, apenas US$ 22 mil foram alcançados, e o documentário ficou estacionado.

As 15 separações mais conturbadas do rock: Sepultura.

Em agosto do ano passado, a esposa e empresária de Max Cavalera, Gloria Cavalera, questionou a validade da participação do ex-vocalista do Sepultura no documentário, em entrevista à Rolling Stone Brasil: “O Sepultura sequer fala com Max. Por que ele deveria participar?”. Ela ainda afirmou: “Andreas e Paulo falaram merda e mentiras por 17 anos, por que Max se envolveria com ele [o documentário]?”.

Contudo, enquanto Gloria confirmou veementemente o desejo do marido de não participar, o próprio Max havia dito, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, cerca de uma semana antes: “Não fui chamado [para o doc], inclusive é a primeira vez que ouço falar sobre o assunto. Acredito que se alguém quiser fazer um documentário sobre o Sepultura, é claro que eu deveria ser convidado, pois ajudei a formar o grupo” – veja mais aqui.

“A escolha dos Cavalera de não fazer parte é uma decisão deles”, revela Kisser. “Nós respeitamos, mas não concordamos, porque a intenção do filme não é lavar roupa suja”. “Cada um tem uma opinião e a gente nunca vai chegar a um veredito porque não existe um veredito – cada um tem sua experiência naquilo que aconteceu na vida da banda”. Exaltando o material que o diretor responsável, Otavio Juliano, já possui – entre imagens e entrevistas –, o guitarrista conta que o longa-metragem está “evoluindo bem”, e “deve ser lançado no ano que bem”.

Kisser acrescenta: “A intenção é mostrar o que cada um está fazendo hoje, o porquê de a gente estar aqui depois de trinta anos, de tantas mudanças – dentro e fora da banda –, com um disco relevante. É uma história única: uma banda brasileira, de um ritmo tão extremo e duro, pesado, conquistar o que conquistamos no mundo”. “E também mostrar o que o Soulfly, o Cavalera [Conspiracy], o Mixhell, estão fazendo”.

“Não vai rolar”, afirma Max Cavalera sobre uma possível reunião da formação clássica do Sepultura.

Depois de dar a impressão de assunto encerrado, o guitarrista ainda volta a falar, em tom de lamentação: “Acho, realmente, uma pena que eles não participem. Para o próprio fã seria legal ver um depoimento deles hoje sobre o que aconteceu. É como eu disse, a intenção não é... puta, o Max já colocou tudo o que ele queria no livro dele, a versão dele está lá e ponto. É para ver o futuro. Respeitar o passado – com todas as nossas diferenças, e ver o futuro e, principalmente, o presente. Mas, enfim, cada um tem o seu motivo e eu respeito o deles. Não concordo, mas respeito”.

“Por que os irmãos Cavalera não vão participar?”, pergunto. “Tem umas 15 versões diferentes. Mas escolhe uma aí e fala que é oficial”, diz o guitarrista, antes de cair na risada.

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