Adaptação cinematográfica do livro de E.L. James não faz proveito dos poucos lados positivos do original
Bruna Veloso Publicado em 11/02/2015, às 07h34 - Atualizado às 22h07
O preconceito literário em relação a obras que vendem aos baldes em livrarias pode, às vezes, não passar de amolação intelectualoide. Dan Brown, por exemplo, apesar de rechaçado por muita gente como escritor, consegue manter o leitor preso de ponta a ponta em um best-seller como O Código da Vinci.
Não é o caso de Cinquenta Tons de Cinza, porém. O livro, que se tornou um fenômeno e transformou a escritora de primeira viagem E.L. James em multimilionária, é um poço de clichês, no qual o maior masoquismo é conseguir chegar a última página. Ainda assim, teve um mérito grandioso: voltar os olhos do mercado para a pornografia direcionada ao público feminino, além de abrir a mente de muitas mulheres para esse filão.
Sendo o livro tão sofrível, seria de se almejar que o tão aguardado filme conseguisse melhorar consideravelmente a trama. Mas, ainda que a diretora Sam Taylor-Johnson e a roteirista Kelly Marcel tenham amenizado a chatice de diversos pontos do conto de E.L. James, não conseguiram fazer do filme uma obra muito melhor em qualidade.
A história de Anastasia Steele, de 21 anos, virgem (e que nunca se masturbou) que inicia a vida sexual com o dominador sadomasoquista Christian Grey, tem apelo. No livro, ele fica por conta de alguns momentos excitantes. O filme, no entanto, é frígido; apesar de se vender como uma história “ousada”, as cenas de sexo são chochas, sem nada da “picância” que torna o livro suportável. Um exemplo? Em nenhum momento o casal apaixonado e supostamente morto de tesão dá um beijo de língua. Difícil ficar mais frio que isso.
Se na história original o centro das atenções é o enigmático Christian Grey, nessa adaptação ele não passa de um homem que, apesar de bonito, não é sedutor, encarnado em uma interpretação bastante inexpressiva do ator Jamie Dornan. Há uma inversão de papéis: quem ganha os holofotes é Anastasia, uma moça enfadonha no original, mas vivida com desenvoltura e de maneira até divertida pela atriz Dakota Johnson, filha, na vida real, de Don Johnson e Melanie Griffith.
Com sexo sem excitação, um Grey insosso e duas horas de filme que poderiam ser transformadas em uma, pouco se salva de Cinquenta Tons de Cinza, o longa. O melhor do pacote nós já conhecíamos: a nova versão de “Crazy in Love”, de Beyoncé, de longe a coisa mais erótica da fita.
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