“Foi econômico, mas tentei fazer com que parecesse grandioso“, diz o diretor do filme que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta, 31
Paulo Gadioli Publicado em 31/08/2012, às 09h20
Em Os Mercenários 2 o personagem de Sylvester Stallone volta a liderar a violenta equipe que deixou muitos corpos pelo chão em 2010. Por trás das câmeras, porém, houve uma troca importante. Após a intensa experiência como diretor, produtor, roteirista e astro do filme anterior, Stallone convocou Simon West, de Con-Air e Lara Croft: Tomb Raider, para comandar esta continuação, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta, 31. Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o cineasta britânico fala sobre como fazer um filme parecer caro sem estourar o orçamento, o senso de humor de Chuck Norris, o problema das câmeras tremidas e também sobre seu ilustre passado como diretor de videoclipes, contando os bastidores do famoso vídeo de “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley.
Você pode tentar descrever como era um dia no set de Os Mercenários 2?
Na verdade, todo dia era diferente, porque na maior parte do tempo todos aqueles caras não estavam juntos. Praticamente todo dia uma nova equipe de heróis de ação se apresentava. Estou acostumado a olhar para minha tabela [de atores] e ver um grande astro ou talvez dois, se estiver com sorte. Mas desta vez eu olhava e tinha 12 ou 15 nomes que cresci assistindo ou nomes marcantes mais atuais. Algumas vezes durante o dia eu podia sentar e olhar ao redor, ficar empolgado com quem estava lá e por poder coreografar as cenas de luta entre eles, mas então tinha que voltar ao trabalho. Foi bastante estressante, sofri muita pressão, mas tentava sempre me lembrar que este é um evento único, inédito e que pode jamais acontecer novamente.
Deve ser deslumbrante ter a sua disposição atores veteranos como Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e Chuck Norris. Alguma vez você se sentiu intimidado ao tentar dar direcionamentos a algum deles?
Tinha que ter sempre em mente que estes caras já trabalham com isso há muito tempo, não tinha que explicar muita coisa. Eles apreciam trabalho rápido, pois já fizeram muitos filmes de ação e ficar parado pelo set, esperando o que fazer, os deixaria muito irritados. Quando se é jovem e entusiasmado consegue aguentar qualquer coisa, mas conforme o tempo vai passando eles ficam impacientes e você tem que tomar cuidado para que eles não virem velhinhos mal-humorados. Os atores estão completamente dispostos a seguir ordens, contanto que o diretor tenha uma visão bem clara do que quer e consiga fazer aquilo rapidamente e com eficiência, para que eles não percam tempo. A carreira destes atores veteranos já está feita, então a coisa mais importante para eles agora é o tempo.
O filme é muito descontraído e passa a impressão de que as filmagens também foram bastante divertidas. Esse foi o caso ou em algum momento houve um choque de egos?
Não, é exatamente como você imagina. Algo como amigos se reunindo em um bar. Por isso, acontecia muita conversa durante os takes. Esses caras estão acostumados a ser os astros de seus próprios filmes, então todos estavam curtindo participar daquela gangue, o clube dos meninos, sempre rindo, conversando, brincando. Às vezes, era difícil se concentrar, porque acredito que os atores perceberam que se tratava de um evento histórico, e eles raramente têm chance de ficar próximos uns dos outros dessa maneira. No passado, eles eram rivais, sempre disputando quem tinha a maior arma, a maior cena de ação, a maior bilheteria. Agora eles estão no mesmo time e podem aproveitar a experiência para conversar e trocar experiências e velhas histórias sem ter que competir.
Em Os Mercenários Stallone desempenhou diversas funções, ficando muito próximo do projeto. Isso criou alguma restrição em relação ao seu trabalho como diretor?
Estava apreensivo no começo, pois não conseguia imaginar um diretor passando para frente um projeto tão ligado a ele. Perguntei ao Sly se ele ficaria tranquilo com esta mudança. Tivemos uma conversa franca e ele me passou muita segurança. Pude perceber que foi muito desgastante para ele passar pela experiência de dirigir, produzir, escrever e atuar em Os Mercenários. Dirigir um filme de ação já é difícil o suficiente, nem imagino como é tendo que fazer todo o resto. Por isso, acho que ele ficou muito feliz de aparecer só como ator e corroteirista nesta sequência. Stallone pôde se divertir muito mais por não ter tanto peso nas costas. Ele era um dos que mais tentavam animar o set, sempre encorajando todos, me elogiando quando eu conseguia uma boa cena.
Em vez de cenas de ação feitas com a câmera tremida, como as do filme anterior, neste vemos movimentos mais calmos dando destaque à coreografia das lutas. Esta mudança na abordagem partiu de sua parte?
Tento sempre fazer com que minha câmera seja sutil e bem trabalhada. Penso muito também na coreografia. Acho que as câmeras tremidas já se tornaram ultrapassadas, estão sendo usadas à exaustão. O problema é que você pode se safar com uma imagem daquelas em uma tela pequena, mas na hora de passar para o cinema, na telona, torna-se muito difícil de acompanhar a ação, tudo fica muito bagunçado. Muitos se esquecem disso, pois editam seus filmes em telas pequenas e a câmera tremida parece empolgante, não aparenta estar ruim. Quando não se tem confiança na cena ou no trabalho dos atores, uma saída é tremer tudo para tentar colocar energia naquilo. Eu não gosto, porque sempre penso meus filmes para o cinema.
Falando em tamanho, Os Mercenários 2 parece ter uma escala maior que o primeiro filme, em relação à utilização de veículos, locações. Como conseguir este feito com um orçamento não muito maior que o anterior?
A maior parte das gravações foi feita em um estúdio na Bulgária, usando cenários pré-existentes. Eu sabia que não teríamos muito dinheiro, por isso andei bastante por lá a procura de lugares que pudesse transformar, deixar parecido com outros países. Achei inclusive uma rua que lembrava Nova York, então pedi para o roteirista Richard Wenk criar uma história que mostrasse por que no meio da Albânia os personagens iriam encontrar um lugar que simula os Estados Unidos. Logo ao lado desta construção estava uma rua que conseguimos fazer parecer com o Nepal, onde acontece a cena inicial do longa. A caverna em que os mineiros ficam presos, por exemplo, era um set de outro filme, enquanto as florestas que aparecem no filme estavam literalmente ao redor do estúdio em que trabalhávamos. Foi econômico, mas tentei fazer com que parecesse grandioso.
Como você fez para conciliar cada personagem com as características dos atores e, ao mesmo tempo, conseguir dar espaço a todos no filme?
Muitas decisões foram tomadas com base na disponibilidade dos atores. Até mesmo parte do roteiro e das cenas de ação foram criadas a partir do tempo que eu teria com cada um deles. Me senti um pouco preso, porque sabia que alguns não poderiam estar nas grandes sequências pois estariam ocupados trabalhando em outros filmes. Para me ajudar no processo, tentei fazer uma lista daquilo que os fãs esperavam de cada um dos atores. Jean Claude Van-Damme ainda consegue fazer todos aqueles chutes, então fiz questão de ter isso no filme. No caso de Stallone, muitas pessoas lembram dele como Rocky, por isso baseamos o estilo de luta dele no boxe, com muitos socos e pancadas. Era mais ou menos como ter um menu de compras do que eu queria de cada um desses caras, quanto tempo eu poderia tê-los e o que os fãs estavam ansiosos para ver.
Vocês procuraram outros atores antes de chegar a Jean Claude Van-Damme como vilão?
Sim, conversamos com várias pessoas. Falamos com Antonio Banderas, Nicolas Cage e muitos outros antes de chegarmos ao Jean Claude. Pensamos que seria legal tê-lo do lado do vilão de alguma maneira, mas não como o principal. Depois pareceu uma boa ideia.
A ideia de abordar Chuck Norris como o personagem fantástico criado pela internet e pelos “Chuck Norris Facts” estava estabelecida desde o início?
Ele estava aposentado, tendo uma vida boa, calma e tranquila, então foi difícil convencê-lo a participar. Quando ele aceitou, sabia que tinha que usá-lo de algum jeito épico e icônico, porque ele se tornou um personagem mitológico, mais famoso até do que quando parou de atuar. Pensei em algo meio fantasmagórico, uma presença que aparece e de repente some, uma entidade independente. Não o imaginamos como parte do time, por isso a parte mais difícil foi decidir como iríamos introduzi-lo na trama. Eu sabia que só teria quatro dias para gravar com ele e, ainda assim, deveria ter certeza que colocaria o suficiente de Chuck Norris na tela para que as pessoas ficassem empolgadas quando ele aparecesse e não saíssem decepcionadas.
Ele não ficou contrariado por reproduzir uma das famosas piadas de Chuck Norris no filme?
Eu não sabia se ele gostava dessas piadas, então conversamos e fiquei surpreso ao saber que ele tinha até mesmo decorado algumas. Perguntei quais eram suas favoritas e, no final, ele mesmo acabou escolhendo. Fiquei feliz que ele viu graça na situação.
Norris ficou muito famoso com a internet e, embora poucas pessoas saibam, você também, já que dirigiu um dos clipes mais vistos da história da web: “Never Gonna Give You Up”, do Rick Astley. Como você encara o ressurgimento deste vídeo?
[Risos] Bom, é muito engraçado. Acho engraçado porque no começo da minha carreira, em Londres, fiz alguns clipes e, de repente, sem aviso, me pediram para fazer aquele. Foi o clipe de menor orçamento que havia dirigido, tudo deu errado no dia da gravação, não tivemos preparação alguma, para mim foi a maior bagunça de todos os tempos. Quando acabei, fiquei aliviado e pensei que já poderia esquecer tudo aquilo. Para minha surpresa, a música acabou ficando em primeiro lugar em diversos países, então em qualquer lugar do mundo que eu estivesse era só ligar a TV e aquele clipe que eu odiava, que julgava ser o meu pior, estava passando. Me assombrava em todos os lugares do mundo. Então, 20 anos depois, quando você pensa que aquilo está esquecido, por algum motivo inacreditável o vídeo volta e vira uma coisa cult esquisita na internet [risos]. Não consegui acreditar na minha sorte, já que fui assombrado por aquela coisa não só uma, mas duas vezes.
Ainda é cedo para falar de Os Mercenários 3, mas se você tivesse que escolher três atores para uma possível sequência, quem seriam?
Acredito que reunir Clint Eastwood, Sean Connery e Harrison Ford seria excepcional.
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