Talento no violão, Rosa Passos encerra espetáculos do Tim Festival no Auditório do Ibirapuera
Por Artur Tavares Publicado em 27/10/2008, às 13h43
A musicista baiana Rosa Passos encerrou as noites paulistas de Tim Festival no Auditório do Ibirapuera, local por onde também passaram a baixista Esperanza Spalding, o cantor Marcelo Camelo, além de trios e quintetos em uma noite completamente dedicada ao jazz.
Com uma carreira sólida no exterior, mas pouco lembrada no país, Passos passeou por sambas, canções da bossa nova e por algumas músicas com levada jazz em apresentação "dedicada a Dorival Caymmi, aos cinqüenta anos da bossa nova e também um pouquinho a Elis [Regina]", como explicou após tocar sua primeira canção, "Vatapá".
Acompanhada por um quinteto de músicos brasileiros, Passos entrou no palco quase que pontualmente às 20h30, com um florescido e enorme botão de rosa vermelha na mão, que jogou para pessoas na primeira fila da platéia. Muito simpática e carinhosa, durante todo o show fez reverências de agradecimento ao público, se emocionou ao ser ovacionada ao fim de cada música, levou seu neto ao palco e não parou de falar do marido.
Cantando, mostrou harmonia e potência vocal. Conversando, falava baixinho, parecendo ser outra pessoa. Aos 56 anos, sambou e dançou sozinha, principalmente quando parava para observar seus músicos tocando.
Em "Marina", foi acompanhada do piano em uma levada mais bossa nova. Na seguinte, "Verbos de Amor", arriscou um bolero, também dançando enquanto o saxofonista ganhava destaque na apresentação. Durante a música, distribuiu piscadelas para a audiência.
Entre cada duas ou três músicas, jogava rosas brancas para o público. Passou para duas canções de seu mais recente álbum, Romance: "Preciso Aprender a Ser Só" e "Cadê Você", esta uma composição de Chico Buarque e João Donato.
A banda então deixou o palco, deixando Rosa sozinha com um banquinho e um violão, além de seu baixista, Filhote. De tão simpática, apresentou ao público até seu roadie, que a ajudou com seu instrumento. Fez uma versão em bossa nova de "O Que É Que a Baiana Tem", seguida de "Você Vai Ver". Em "Para Que Discutir com Madame", mudou o ritmo para o samba.
A comparação usual de sua habilidade no violão com a de João Gilberto não é exagerada. Rosa Passos é uma excelente violonista, rápida no dedilhado, muito estudada em compassos musicais. Embalou um samba triste em "Eu e Meu Coração", depois acelerou em "Águas de Março", quando voltou a distribuir piscadelas à audiência.
A banda voltou para "Álibi", sendo deixada sozinha por Rosa logo em seguida para uma jam instrumental de jazz. Durante toda esta peça, o pianista e o baterista não paravam de se olhar, sempre aumentando o ritmo da canção. Assim que a baiana voltou, explicou que a composição foi feita por um para o outro.
Ainda explicou que considera seus músicos uma família, e que não faz uma apresentação sozinha. "Sempre divido minha apresentação com eles", disse. Alguém na platéia a chamou de "absoluta", deixando-a completamente sem reação, chocada pelo impacto da emoção. "Brigada, meu nêgo", respondeu, antes de contar que seu marido estava assistindo ao show. "Ele adora esta que eu vou tocar", revelou, embalando "Por Causa de Você" e a empolgante "Vestido de Bolero".
Diminuiu o ritmo para tocar "A Ilha", antes de fechar com "Samurai", de Djavan. Foi aplaudida de pé desde o momento que saiu do palco até voltar a ele para o bis. Tocou uma canção de Elis Regina, e saiu de novo. O público ovacionou ainda mais, e Rosa Passos voltou para mais uma música, que não estava programada para acontecer.
Quase chorando de felicidade, revelou: "Ai gente, não sei o que dizer". O público retribuiu: "não precisa dizer nada, canta". Uma mulher na platéia foi ainda mais longe: "Toca 'O Pato'", pediu. Passos respondeu: "Seu desejo é uma ordem". Se voltou para os músicos e falou: "Vamos meninos? É facinho, é em Dó". Totalmente na improvisação, fizeram uma versão de samba da composição de João Gilberto. Ainda no meio da canção, revelou "Meu marido tinha sugerido esta também", arrancando mais alguns aplausos e risadas da platéia.
Sem saber o que fazer, encerrou de vez a apresentação. Ficou claro que ela queria tocar mais, e que a platéia poderia passar a noite toda ouvindo-a. Infelizmente não ficou.
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