Artista do Níger será uma das atrações do MIMO Festival, que acontece em Olinda e no Rio de Janeiro, durante o final de novembro
Lucas Borges Publicado em 05/09/2015, às 13h08 - Atualizado em 08/09/2015, às 18h09
Todos os dias, milhares de africanos deixam o continente em que nasceram em busca de melhores condições de vida. Somente em 2015, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 200 mil pessoas (incluindo também iraquianos e sírios) já percorreram o caminho rumo à Europa pelo Mar Mediterrâneo. Mais de dois mil morreram durante o trajeto. Alguns são presos, outros são deportados e muitos começam do zero a vida em países desenvolvidos, legalmente ou não.
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Omara Bombino Moctar é um caso raro. Natural de Níger, Norte da África, esse jovem de 35 anos passou por Estados Unidos, Canadá, Suíça, Noruega, Portugal, Austrália e nos próximos meses ainda visitará Itália, Holanda e Bélgica para no final de novembro desembarcar no Brasil e realizar seus primeiros shows no país, no Rio de Janeiro e em Olinda, durante o MIMO Festival (as datas exatas ainda não estão confirmadas).
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O passaporte do artista é a guitarra, e ao instrumento ele também pode creditar sua sobrevivência. Além de ter nascido no Niger, país de pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo segundo um relatório de 2014 da ONU, Bombino compõe uma etnia nômade constantemente perseguida na região, os tuaregues.
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“Durante toda a história moderna os tuaregues tiveram sérias dificuldades políticas e hoje não é diferente”, relata o músico à Rolling Stone Brasil. “Os maiores problemas são a pobreza e a falta de educação e de bons empregos. Nesse momento, infelizmente, não há muitas oportunidades econômicas onde vivemos e também existem conflitos, drogas, terrorismo e outros empecilhos no caminho do desenvolvimento”.
Ele mesmo sofreu com a instabilidade local durante a infância. Bombino foi obrigado a se deslocar para a vizinha Argélia com a família – composta por 17 irmãos – durante uma das inúmeras rebeliões tuaregues pela criação de um estado próprio, na primeira metade dos anos 1990.
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“Minhas primeiras lembranças musicais são da minha infância em Agadez [Niger]. Fui criado pela minha avó e ela me levava para ouvir as antigas cantoras tuaregues. Só quando fui forçado a viver na Argélia conheci a música do Ocidente e me apaixonei pela guitarra”, conta.
“Os tuaregues vivem especialmente dentro e em volta do deserto do Saara e é muito fácil fazer música lá. Não temos bons estúdios ou palcos bacanas para grandes shows. Mas temos o deserto, que é o lugar mais inspirador do mundo para a música. Não tem nada como se sentar com os amigos nas dunas e tocar guitarra, djembe, ngoni [instrumentos locais], e cantar. É um dos maiores prazeres da vida”.
Assista ao clipe de "Azamane Tiliade":
Fascinado por Jimi Hendrix e Mark Knopfler, Bombino não poderia imaginar que um dia tocaria com alguns dos gigantes do gênero. Ele integrou em 2006 a Tidawt, banda que participou da gravação de Stone’s World: The Rolling Stones Project Volume 2 – projeto do saxofonista Tim Riese –, gravando "Hey Negrita" ao lado de Keith Richards e Charlie Watts. No ano seguinte, foi o guia de Angelina Jolie durante visita da atriz ao deserto do Niger.
A carreira do africano parecia estar decolando. Em 2007, contudo, uma nova rebelião resultou na morte de dois integrantes de sua banda. Bombino viajou para Burkina Faso e só três anos depois, quando os tuaregues foram autorizados a voltar ao Niger, se restabeleceu na terra natal.
Em 2011, foi levado aos Estados Unidos pelo cineasta Ron Wyman, diretor do documentário Agadez, the Music and the Rebellion, e pôde gravar seu primeiro álbum, Agadez. A mistura de raízes africanas com rock and roll atraiu Dan Auerbach, produtor do The Black Keys. Auerbach trabalhou em Nomad, de 2013, e deve se envolver na gravação do terceiro álbum de Bombino, esperado para o início do ano que vem.
Antes, o sobrevivente musical trará seu testemunho de vida ao Brasil – “Estou muito curioso para ouvir a música brasileira, amo o mar, amo dançar, quero conhecer brasileiros e fazer novos amigos”.
“Sou um promotor da paz, da alegria e da celebração da cultura tuaregue e da sua identidade. Fui uma vítima da guerra e isso é algo terrível para qualquer um. Devemos fazer o que for para evitar a guerra. A música é a melhor forma de se comunicar com as pessoas de outras culturas e que falam outras línguas. Ela nos inspira a entender e compartilhar nossa humanidade”.
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