Quinteto escocês conquistou público atento com rock instrumental intenso e transcendental
Pablo Miyazawa Publicado em 13/05/2012, às 01h41 - Atualizado às 10h29
O Mogwai poderia ser considerado o peixe fora d'água no elenco predominantemente dançante do festival Sónar. No ambiente formal de auditório do espaço Sónar Hall, o quinteto escocês de post-rock destilou violentas paredes de guitarras em alto volume para uma plateia numerosa, porém tão atenta quanto dedicada. As cadeiras totalmente ocupadas mal serviram como assentos – poucos presentes permaneceram sentados ao longo da apresentação de pouco menos de uma hora na noite de sábado, 12, no Anhembi (SP).
“Intenso” talvez seja a palavra que melhor defina o que o Mogwai realiza em cima de um palco, mas não é o único adjetivo possível. Carregada por cargas sonoras nada sutis, com graves retumbantes e agudos em primeiro plano, a música do Mogwai é avassaladora e pesada, ainda que delicada e de caráter calmante. A boa acústica do Sónar Hall também funcionou em favor do instrumental musculoso e melódico que caracteriza o trabalho do grupo formado em Glasgow na segunda metade dos anos 1990. Cinco monolitos concentrados no palco, os músicos movimentavam-se timidamente, imersos em seus próprios papéis. Nos intervalos, o guitarrista Stuart Braithwaite agradecia de maneira efusiva, mas era pouco ouvido (talvez por não cantar, o microfone estava no volume mínimo).
A plateia, por sua vez, correspondia no entusiasmo, jamais impassível: os comportamentos variavam entre danças solitárias, rodas de pogo suadas, transes de olhos fechados e diligente comoção. Com a contribuição da iluminação instigante, do telão widescreen e de projeções interativas, a experiência chegava a beirar o etéreo. Quem assistiu à outra aparição da banda em São Paulo, há exatos dez anos (no Sesc Vila Mariana), percebeu uma mudança de dinâmica: em 2002, o Mogwai foi algo a ser apenas assistido e apreciado; desta vez, a experiência foi um tanto mais física, tanto da parte da banda quanto da audiência.
Próximo ao final, o porta-voz Braithwaite questionou quanto tempo mais havia disponível. Ao escutar “14 minutos”, deu de ombros e decidiu prosseguir além do previamente combinado. Mais tarde, o baterista Martin Bulloch revelou no Twitter que a banda foi ameaçada pelo organizador de palco, por não ter encerrado a performance no tempo combinado. Tal fato passou batido pela plateia ainda em transe, que recebeu um desfecho agressivo, quase metaleiro, digno de um show com três guitarras, baixo, teclados, bateria e mais decibéis do que seria seguro normalmente apreciar. Ali, ainda com as luzes apagadas e o feedback rasgado ecoando, quem descartou o show de Cee Lo Green para dedicar tempo ao Mogwai teve a certeza de ter feito a melhor escolha.
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