- Daryan Dornelles

“Sou esquerda, mas resumiram esquerda a PT, vermelho, comunista e Che Guevara”, diz Alexandre Nero

Após uma bem-sucedida maratona de novelas, o ator investe em cinema e teatro

Stella Rodrigues Publicado em 18/04/2016, às 17h03 - Atualizado em 20/04/2016, às 18h01

Alexandre Nero faz “desabafos”, como ele mesmo chama. Já conformado com uma vida em que seu telefone vaza na internet toda hora e ele só pode atender números conhecidos, o ator de 46 anos segue combativo, contudo, quando o assunto é a imprensa. “Vocês [jornalistas] têm que tomar cuidado com as coisas que colocam para vender, senão cada vez mais nos travamos e não conseguimos ser autênticos, falar coisas interessantes”, diz ele. “Acho que a grande crise do país hoje é esta, não saber o que é verdade e o que não é.” Politizado e opinativo, Nero, o ator, e Nero, dono de redes sociais, conquistaram o país com uma sequência de personagens de sucesso em novelas e uma personalidade diferente do galã tipo pasteurizado que costuma aparecer na TV.

Foi uma maratona de novelas e agora você está investindo em outras áreas.

Foram oito em oito anos, e as últimas três eu emendei mesmo. Estava com um cansaço assustador. A novela não te dá tempo para pensar muito, é insano. Chega uma hora que você está fazendo o que é mais fácil e isso começa a te machucar artisticamente. Preciso de reciclagem, estou morrendo de saudade de tocar. Preciso experimentar, errar bastante, porque a televisão não permite que você erre, senão é linchado pela imprensa e pelo público.

Sua presença nas redes sociais é marcante. E, com tudo que está acontecendo no país, as redes viraram um sanatório de todo mundo gritando suas opiniões políticas. Você, mesmo sendo famoso, não se furta de comentar os acontecimentos. Alguma vez se encrencou?

Já me encrenquei muito. Hoje, bem menos. Cada vez mais tenho sido chapa branca porque os meios de comunicação têm sido mais agressivos com a caça ao público. As verdades são muitas e a imprensa, mesmo a que antes não trabalhava com sensacionalismo, agora trabalha. Normalmente, isso cava com as celebridades e com os jogadores de futebol, agora está passando para a política.

Tem um post no seu Instagram que é com você rindo de uma aspa que deu em uma entrevista. Esse seu estilo “anti-media training” (processo de treinamento para lidar com a imprensa) surpreende até você mesmo?

Me surpreende demais! Primeiro porque as pessoas tratam aquela aspa como se fosse realmente verdade. Às vezes é, às vezes não, e às vezes está descontextualizado. Mais do que nunca temos que duvidar de tudo!

Quando você foi capa da Rolling Stone Brasil, em setembro de 2014, destacou seu jeito hiperbólico de se expressar e que às vezes não era como você gostaria de se colocar. Também falou que se censura 90% do tempo nas redes. Isso mudou de lá para cá?

Continua sendo 90% e quero chegar aos 100%. O ideal é a gente se expressar no palco, na arte. Eu uso a rede social mais como uma brincadeira do que como palanque. Quero chegar aos 100% porque as pessoas estão histéricas, estão mais hiperbólicas que eu! Elas estão transformando os outros ou em super-heróis ou em alguém que merece morrer. O linchamento da internet vai ser fatal, desse jeito todo mundo vai passar por um. Estamos na era anti-Andy Warhol, todo mundo vai ter seus 15 minutos de anonimato. Não é uma previsão “Mãe Dináh”, é questão de tempo.

Não sei se viu, mas o Romero, seu personagem na novela A Regra do Jogo, foi usado muito para reforçar o “ fla-flu político”, por ser um “ativista de mentira”.

Era o cara que usava todo um discurso pronto da esquerda, mas não era de esquerda, essa era a diferença que as pessoas não entendiam. Eu sou esquerda, mas resumiram esquerda como PT, vermelho, comunista e Che Guevara.

Este mês você começa a trabalhar na cinebiografia do maestro João Carlos Martins. Como está isso?

Vou estudar um pouco de inglês e também estou fazendo aulas de piano. Não toco, mas como sou músico tenho facilidades. É que não estamos falando de um cara que toca piano, estamos falando no maior intérprete de Bach do mundo! Mesmo que eu tocasse, não seria um milésimo dele. Começo a filmar em maio e depois vou ensaiar uma peça que estreia em agosto. É uma peça com música, com os atores tocando no palco ao vivo, mas não sei se chamarei de musical. O nome é O Grande Sucesso – quero falar disso que as pessoas almejam, mas que é muito subjetivo. E que o fracasso pode ser muito legal!

 

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