Primeira edição do festival itinerante Circuito Banco do Brasil chegou ao fim com apresentação no Campo de Marte
Pedro Antunes Publicado em 15/12/2013, às 03h22 - Atualizado às 12h42
O amor esteve no ar durante quase toda a ensolarada tarde e agradável noite deste sábado, 14, durante o Circuito Banco do Brasil, festival itinerante que chegou ao fim em São Paulo, no Campo de Marte, após passar por Salvador, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília. Stevie Wonder e Jason Mraz, ainda que venham de escolas musicais bem distantes, bebem de uma fonte em comum: canções encharcadas de versos apaixonados e ternos.
No início da tarde, contudo, ainda que as músicas apaixonadas estivessem presentes, vide o repertório de Marcelo Jeneci, o sol foi o protagonista. O amplo Campo de Marte, localizado na zona norte da capital paulista, não funciona bem para este tipo de evento, quando o astro está lá no alto e o calor vai às alturas. “É bom que o sol tá pegando a gente aqui também, assim, partilhamos desta quentura”, disse Jeneci, em dado momento do show. Já o Capital Inicial, atração que veio em seguida, reclamou levemente do horário da performance, iniciada às 17h (ou às 16h, se não fosse o horário de verão). “Nós estamos acostumados a tocar à noite. Somos vampiros”, brincou o vocalista Dinho Ouro Preto.
Com exceção disso, o festival correu com calma e tranquilidade incomuns. Filas para comes e bebes? Que nada! Banheiros razoavelmente acessíveis – ainda que fosse aconselhável não pretender usá-los no intervalo entre um show e outro. As performances também não atrasaram tanto como de costume, ainda que o leve atraso tenha ocasionado um momento constrangedor. O festival montou dois palcos no Campo de Marte, mas não os usou de forma alternada. Depois de Marcelo Jeneci no palco Brasil, o secundário, os shows de Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e Jason Mraz ocorreram no palco Circuito. Com um pequeno atraso para o início do grupo de Herbert Vianna, cerca de 20 minutos, toda a programação sofreu.
Com isso, quando Criolo subiu ao palco Brasil, como segunda e última atração a passar por lá, quatro horas após o fim da apresentação de Marcelo Jeneci, ele tinha pouquíssimo tempo. Pontualmente às 21h, a atração maior do evento, Stevie Wonder, deu início à performance final, enquanto Criolo e companhia ainda estavam no palco, executando “Bogotá”, faixa do disco que o levou ao estrelato, Nó na Orelha. O som vazou muito de um palco para o outro, incomodando fãs de ambas as turmas. Visivelmente constrangido, Daniel Ganjaman, produtor e espécie de maestro que rege o estrelado time que acompanha o rapper, pediu desculpas por ter interferido no show de Stevie.
Música e skate
Enquanto as bandas tocavam, acontecia a última etapa do campeonato de skate vertical que acompanha o festival. A pista, montada do lado esquerdo do palco principal, o Circuito, que só começou a ser usado a partir das 17h, acabou isolada de todo o resto do evento. A competição chegou a ser lembrada por Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, que pediu para que o público fosse conferir as manobras dos esportistas, mas as baterias já haviam sido encarradas e o vencedor, conhecido.
Marcelo Jeneci subiu ao palco Brasil pontualmente às 16h, após a banda BlackPipe, vencedora do concurso Som Pra Todos. E fez uma apresentação corajosa para um festival. Em vez de executar os hits do celebrado álbum de estreia, Feito Pra Acabar (2010), o músico preferiu dar espaço para as canções do segundo trabalho, lançado há poucos meses, De Graça. Quem ganhou foi o evento, que acabou se tornando a estreia deste repertório em território paulista – a turnê fará o debute oficial no Sesc Pompeia, em janeiro de 2014.
“Um de Nós”, “O Melhor da Vida”, “Tudo Bem, Tanto Faz”, “Sorriso Madeira” e “De Graça”, algumas das canções executadas durante a apresentação, trouxeram um experimentalismo único ao festival, principalmente com os solos de Jeneci nos teclados e sintetizadores. “Eu adoro esses barulhos”, brincou Jeneci, visivelmente animado. “É muito bom tocar em casa”, completou o paulistano.
Nascido na efervescente Brasília da década de 80, o Capital Inicial também fez questão de exaltar São Paulo, cidade que acolheu a banda quando ela decidiu deixar a capital federal do país. “É aqui que temos o nosso público mais fiel”, disse o falante vocalista Dinho Ouro Preto. O grupo também fez outras homenagens, como ao Aborto Elétrico, banda que originou o Capital e a Legião Urbana, com “Fátima” e “Veraneio Vascaína”, e ao “punk rock de Brasília”, como anunciou Dinho, antes e executar “Mulher de Fases”, do Raimundos.
Ao contrário de Jeneci, Capital – e, posteriormente, o Paralamas do Sucesso – optou por uma apresentação mais conservadora, com mais espaço para hits do que para canções novas. No caso da banda brasilense, a novidade ficou por conta de “O Lado Escuro da Lua”, uma balada cujo título homenageia o disco do Pink Floyd The Dark Side of the Moon, e “O Cristo Redentor”, ambas do mais recente trabalho, Saturno.
Ainda que não tenha surpresas, a apresentação do Paralamas do Sucesso foi competente ao extremo ao colocar para dançar o público presente – 17 mil, de acordo com a produção do evento. Reggae, ska e os ótimos versos de Herbert Vianna garantiram momentos divertidos. “Óculos”, “Meu Erro”, “Lanterna dos Afogados”, “Ela Disse Adeus”, “Aonde Quer Que Eu Vá” fizeram até os ambulantes que vendiam cervejas e cachorros-quentes dançarem enquanto passeavam pelo público.
Já Jason Mraz tinha um público muito específico e interessado nas suas baladas de amor ao violão. Longe de ser o preferido entre os vendedores ambulantes, ele arrematou os momentos de maior coro da noite, principalmente com as baladas “Lucky”e “I'm Yours”. Casais se abraçaram cheios de ternura, com direito a versos sussurrados aos ouvidos.
De boné, Mraz faz o tipo bom moço ao violão, disparando sorrisos e algumas frases tradicionais em português. Dedicou uma música às mulheres, “The Women I Love”, arriscou alguns versos de “Mas que Nada”, de Sergio Mendes, e ainda emendou o reggae “Three Little Birds”.
Ainda antes de Stevie Wonder, Criolo voltou a dar vida ao palco Brasil. Assim que a apresentação de Mraz acabou, as caixas de som retumbaram com a risada maquiavélica de DJ Dandan, fiel escudeiro do rapper do Grajaú. Competente como sempre, a banda de Criolo deu um show de maestria ao passear pela sonoridade sortida que alavancou a carreira do músico, com o disco Nó na Orelha.
Criolo esteve mais contido do que o costume e discursou pouco ao microfone. Contudo, fosse na mais nova canção da safra dele, “Duas de Cinco”, ou na antiga “É o Teste”, tirada disco de estreia Ainda Há Tempo, o rapper exibiu o costumeiro vigor, pulando, gesticulando e regendo o público. O show ainda contou com os clássicos do Nó na Orelha, como “Freguês da Meia Noite”, “Não Existe Amor em SP”, “Lion Man”, “Grajauex” e “Linha de Frente”.
Noite do mestre
O rapper ainda estava no palco quando Stevie surgiu, do outro lado do Campo de Marte. Com uma versão estendida de “How Sweet It Is”, o músico deu tempo para que o público se aproximasse da última atração da noite – isso, nos palcos, porque a música eletrônica daria continuidade ao festival para os mais animados, com MYNC e Mario Fischetti. “Master Blaster” e “As If You Read My Mind” vieram na sequência.
O norte-americano também fez suas homenagens. Assim como Jeneci, escolheu o líder sul-africano Nelson Mandela, que morreu recentemente, aos 95 anos, para ser celebrado (Jeneci, ao final da sua performance, no início da tarde, repetiu o nome do político). “Keep Our Love Alive”, cuja letra funcionava para que o público atentasse ao apartheid que ocorria na África do Sul, foi a outra escolha óbvia para a homenagem a Mandela. Durante toda a música, imagens do líder foram exibidas no telão.
Os grandes hits não demoraram a chegar. E vieram aos punhados. A começar por “I Just Called to Say I Love You”, “Higher Ground” e “Overjoyed”, que despertaram o público presente – a frente do palco Circuito dava a impressão de estar mais vazia do que quando Jason Mraz passou por lá horas antes.
Stevie, que passou pelo Brasil recentemente, mostrou a boa forma de sempre. Tanto a voz, ainda doce e capaz de atingir agudos impressionantes, quanto na facilidade de reger banda e plateia. Em várias ocasiões, durante a performance, ele pediu para que o público cantasse com ele e realizasse improvisos.
Vieram “Ribbon In The Sky” e “Sunshine of my Life”. A lista de hits do cantor e compositor que já vendeu 100 milhões de discos é extensa. “Isn’t She Lovely” e “I Just Called” também funcionaram como trilha sonora para os casais apaixonados trocarem mais abraços. Com a emocionante “Sir Duke” e com “Superstition”, o mestre do funk e soul despediu-se do público paulistano. Desejando muito amor, é claro.
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