Mais profundo, mais assustador e muito além da nostalgia oitentista barata
Rob Sheffield Publicado em 25/10/2017, às 17h04 - Atualizado às 17h15
Já no começo da ótima nova temporada de Stranger Things, há um momento que sintetiza o coração nerd que há nessa história toda. Will Byers (Noah Schnapp), um garoto excluído dentro desse contexto de interior norte-americano da década de 1980, está sentado sozinho no quarto, desenhando seu alter ego, o herói de HQ Zombie Boy. O irmão mais velho dele, Jonathan (Charlie Heaton), entra e eles começam a conversar sobre como ambos são diferentes das outras pessoas. "Ser esquisito é a melhor coisa, tá?”, ele explica. "Eu preferia ser o melhor amigo do Zombie Boy do que um Zé Ninguém tedioso. Pensa só, de quem prefere ser amigo, Bowie ou Kenny Rogers? Não tem nem como competir. O lance é, ninguém normal já conseguiu fazer algo de importante nesse mundo.” Will reflete a respeito disso por um tempo. Depois responde: "Bom, algumas pessoas gostam de Kenny Rogers."
Stranger Things foi uma das surpresas mais felizes da TV nos últimos anos – uma verdadeira sensação espalhada no boca a boca, um thriller pulp com ares de TV paga, uma série que veio do nada e que pegou bem no ponto fraco do público. De início, o drama dos irmãos Duffer para a Netflix parecia uma viagem de nostalgia aos anos 1980, algo totalmente inocente acerca de uma pequena cidade no estado de Indiana que é possuída por terríveis forças sobrenaturais. Mas acertou em cheio, com Winona Ryder vivendo a mãe de Will e um time de atores mirins assustadoramente talentoso – especialmente Millie Bobbie Brown, que se tornou uma heroína torta instantânea na pele da esquisita garota de cabeça raspada chamada Eleven. Não parecia que a trama tinha sido desenvolvida já com uma segunda temporada em mente, mas o sucesso garantiu a existência de um Stranger Things 2 (aliás, já tem até um Stranger Things 3 acertado).
A nova temporada, que estreia nesta sexta, 27, é mais pesada – é um show de horror de verdade –, mas ainda tem aquele poder emocional que testemunhamos antes e transmite de forma empática uma sensação de luto e perda. O segundo ano começa perto do Halloween de 1984, em Hawkins, Indiana. Os Estados Unidos estão prestes a reeleger o presidente Ronald Reagan, o Demogorgon da vida real. As crianças, agora, estão obcecadas com a garota que acabou de chegar na cidade, a gamer skatista Max, que deixa todos eles no chinelo na competição de quem faz mais pontos jogando Centipede e Dig Dug. Max é um mistério que esses garotos não conseguem resolver. "Meninas não jogam videogame", um deles explica. "E mesmo que jogassem, é impossível fazer 750 mil pontos em Dig Dug."
Joyce, a personagem ainda bastante traumatizada vivida por Winona Ryder, tem um novo namorado, o adorável, mas sem graça Bob, que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos – essa foi uma das sacadas mais brilhantes da equipe de casting de Stranger Things. O personagem é vivido por Sean Astin, de Os Goonies. Está aí um cara que certamente gosta de Kenny Rogers. A ideia dele de uma noite divertida envolve alugar e assistir à comédia Dona de Casa por Acaso. Também há um novo jornalista na cidade, ele procura respostas para tudo que aconteceu no ano anterior, e suas teorias malucas acabam divertindo o xerife Jim Hopper (David Harbour). "Já conseguiu provas da existência dos alienígenas que investigam os nossos ânus, Murray?", ele cutuca.
As crianças ainda estão se recuperando do encontro com os monstros da primeira temporada. Os adultos aprendem o conceito de estresse pós-traumático, que ainda era novo em 1984, usado basicamente para explicar o comportamento de veteranos da guerra do Vietnã. Foi naquele ano, aliás, que Bruce Springsteen escolheu lançar a faixa que dá nome ao disco Born In The U.S.A. como single. O que pareceu uma decisão ousadamente pouco comercial – as reclamações azedas de um veterano do Vietnã que não conseguia trabalho – no fim das contas, a faixa surpreendeu todo mundo e foi parar no Top Dez. Por trás de toda a capa geek de Stranger Things, há essa sensação de trauma e é ela que torna a série especial. Os adultos não conseguem proteger as crianças do perigo e da dor e precisam lidar com as próprias perdas em silêncio, como vemos na história triste de Hopper, que ainda sofre com a morte da filha, vítima de câncer. Todo mundo nesse grupo já viu pessoas morrerem ou desaparecerem, e não importa o tanto de coragem que eles apliquem na busca por respostas, às vezes eles não conseguem explicações satisfatórias. Esse é o poder real de Stranger Things – uma vez que você entra em contato com os monstros, mesmo que escape do Mundo Invertido, é capaz que não consiga realmente voltar para casa.
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