O que a carreira da banda de Julian Casablancas aponta sobre o novo disco
Julia Harumi Morita Publicado em 13/02/2020, às 14h12
Com solos de guitarras melódicos, vocais sujos e letras despretensiosas, o The Strokes conquistou rapidamente a cena do rock alternativo no início dos anos 2000. Nomeados "salvadores do rock", a banda foi considerada a nova promessa para a renovação do indie rock e a precursora do garage rock revival.
Inspirados nos conterrâneos nova-iorquinos The Velvet Underground e Lou Reed,Julian Casablancas, Nick Valensi, Albert Hammond Jr., Fabrizio Moretti e Nikolai Fraiture lançaram o EP The Modern Age e o disco de estreia Is This It, em 2001.
Ao longo dos anos seguintes, os músicos se consagraram entre os grandes nomes do rock após quatro discos, diversos EPs e inúmeras performances em bares, shows e festivais pelo mundo.
Sete anos depois do lançamento do Comedown Machine, em 2013, os músicos surpreendem os fãs que esperavam os característicos solos de guitarra do grupo com vocais lentos e sintetizadores.
Apesar da surpresa, o novo som não mostra um lado totalmente inédito dos artistas se compararmos com a carreira solo de Casablancas e o trabalho do vocalista com o grupo The Voidz. E se analisarmos a própria discografia do grupo também encontraremos indícios dos novos caminhos escolhidos pela banda. Confira:
O disco de estreia é o trabalho com mais hits marcantes da banda, com "New York City Cops", "Hard To Explain" e "Last Nite". O retrato da juventude nova-iorquina com o rock de garagem contagiante e efeitos sujos no microfone de Casablancas conquistaram rapidamente o público e os críticos, principalmente a conceituada Pitchfork, que deu nota 9.1 para o álbum.
Três anos depois do disco de estreia, o The Strokes retomam os solos melódicos e as letras cotidianas descompromissadas em Room On Fire. Mas, desta vez, com menos ânimo e mais gritos. O trabalho chamou atenção pelos hits "Reptilia" e "12:51", recebeu nota 8.0 da Pitchfork e foi definido como "um contraste perfeito de indiferença tonta e um trabalho de guitarra tenso, que parece ser o principal ômega do inventário estilístico [da banda]".
Após outra pausa de três anos, First Impressions of Earth é lançado. Com muito menos elogios da crítica, o trabalho mostra um lado mais sombrio e estranho, mas não deixa as guitarras de lado nem as letras simples e diretas. As canções "Heart in a Cage" e "Juicebox" representam bem o experimentalismo da banda em busca de som mais desarmônico pelas quebras de ritmos e repetições.
Em Angles, o The Strokes voltam para as raízes das guitarras dançantes e vocais menos sérios, e arriscam em composições assinadas por outros integrantes além de Casablancas. De fato, este é o álbum menos cativante da banda, mas ainda sim satisfaz com hits como "Machu Picchu" e "Under Cover of Darkness".
Comedown Machine é uma verdadeira mistura de todas as faces do The Strokes. Segundo a Pitchfork, as 11 músicas que compõem o disco são como 11 experimentos em gêneros musicais diferentes. Com uma narrativa oscilante, os músicos vão das influências do new wave e indie pop ("Welcome to Japan") até os rastros do punk ("50/50") para descobrir novas dimensões da identidades da banda.
Ao analisar a trajetória da banda ao longo dos anos, principalmente os testes dos músicos no último disco, é de se esperar que a banda siga um caminho afastado da identidade sonora característica do grupo e das expectativas do fãs.
Além disso, é importante levar em consideração a carreira de Casablancas na The Voidz, que foi criada logo após o hiato não oficial da banda. Ao lado de Jeramy Gritter, Amir Yaghmai, Jacob Bercovici, Alex Carapetis e Jeff Kite, o vocalista mergulha na mistura de gêneros, sintetizadores e melodias psicodélicas.
No final, não será nada surpreendente se o The New Abnormal for uma síntese dos aprendizados dos trabalhos paralelos de Casablancas e do baterista Moretti - que lançou recentemente o primeiro disco solo - em composições mais ousadas e experimentais.
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