Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o baixista Kevin Baird falou sobre como a banda relembrou as origens e buscou se conectar com os fãs no EP Lost Songs (Found)
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 10/08/2020, às 07h00
Há 10 anos, a cena do indie rock borbulhava com lançamentos quentíssimos nas paradas musicais, de Kings of Leon e Arcade Fire até Vampire Weekend e Tame Impala. Foi neste cenário que Two Door Cinema Club estreou timidamente com o disco Tourist History e, em pouco tempo, conquistou os ouvintes do gênero.
Alex Trimble, Sam Halliday e Kevin Baird fizeram parte do chamado indie landfill, em português, aterro indie, ou seja, a onda de bandas com guitarras dançantes e vocais melódicos que dominou um lugar na indústria da música entre o rock e o pop.
Hoje, o disco de estreia do grupo é considerado um dos representantes desta geração musical e os singles “Something Good Can Work” e “What You Know” e “Eat That Up, It’s Good for You” podem ser encontrados em playlists de “hinos indie” no Spotify.
Uma década após a estreia, os músicos se depararam com um sentimento nostálgico - o qual foi estimulado pela quarentena de coronavírus - e lançaram o EP Lost Songs (Found), no dia 5 de junho.
O trabalho retoma o período anterior ao lançamento de Tourist History, quando a banda ainda gravava músicas em uma garagem e fazia pequenos shows na Irlanda para um público de aproximadamente 20 pessoas.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o baixista Kevin Baird contou como o Two Door Cinema Club encontrou gravações antigas do início da carreira e decidiu compartilhar as memórias sonoras com os fãs.
Como surgiu a ideia de lançar Lost Songs (Found)?
Eu acho que foi o começo de toda coisa do lockdown - quarentena obrigatória - e, talvez, foi meio que uma limpeza de primavera. Encontramos essas demos antigas um tempo atrás e pensamos: ‘Por que não lançar isso e deixar as pessoas ouvirem algumas das antigas demos originais e algumas das músicas antigas que nunca foram para o primeiro disco?’.
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A quarentena trouxe uma sensação nostálgica para a banda?
Sim, definitivamente. Eu acho que, porque muitos de nós e muitas partes da nossa vida pareceram pausadas, nós não estávamos indo para frente. Foi quase como se o tempo tivesse parado. E nós estávamos na Suécia e pareceu um bom momento para olhar para trás. Nós estávamos olhando para trás e, secretamente, trabalhando no futuro também.
O fato de vocês já tocarem essas músicas ao vivo, no início da carreira, influenciou o lançamento de Lost Songs (Found)?
Nas nossas cabeças, [as músicas] já estavam lançadas. Quando você escreve uma música e toca ao vivo parece que está no mundo lá fora. Digo, especialmente agora, porque existe o Youtube para gravar as coisas. Mas eu acho que nós estávamos bem menos pressionados em relação a isso. Existem várias músicas que escrevemos, gravamos, mas ninguém nunca ouviu e nós meio que queremos continuar desse jeito.
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Lost Songs (Found) conta com gravações originais de seis canções que foram deixadas de fora do primeiro disco. Além disso, o Two Door Cinema Club compartilhou uma demo inédita do hit “Something Good Can Work”.
Para Kevin, canções como "Not In This Town" ou "Tiptoes" foram descartadas de Tourist History por serem consideradas ruins e, em relação ao processo criativo, direcionadas para um caminho diferente das músicas escolhidas para o álbum.
Qual é a canção mais antiga do EP?
Talvez “Tiptoes”. Eu diria que, provavelmente, é a mais antiga que nós tocamos por um tempo. Você sabe, nós costumávamos tocar em shows em Belfast, na Irlanda, então, sim, é bem antiga.
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Vocês imaginavam que “Something Good Can Work” seria um dos maiores sucessos da banda?
Definitivamente não. Eu não consigo lembrar direito do processo de gravação ou algo do tipo ou o processo de escrita, mas simplesmente lembro que era uma dessas músicas simples, realmente simples, você sabe, ‘tente isso, tente aquilo’. Eu apenas relaxei um pouco ao invés de tentar pensar demais e deixar muito complicado. De jeito nenhum pensávamos que realmente seria bem-sucedida como foi.
Como sua relação com essas músicas mudou ao longo dos anos?
Quando fizemos o primeiro disco, nós tomamos a decisão de quais músicas estariam nele. Então todas essas canções, “Tiptoes” e “Not In This Time”, nós decidimos que não era boas o suficiente para estarem no álbum.
[...] Agora, olhando 10 ou 12 anos para trás, acho que nos sentamos e pensamos: ‘Você sabe, essas músicas não são tão ruins’. Nós sentimos que fomos um pouco duros, mas acredito que é bom estar conectado novamente com o lugar em que estávamos.
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Houve diferenças no processo criativo das canções do Lost Songs (Found) e o Tourist History?
Sim, com certeza. Eu acho que as músicas desse EP seriam um ótimo exemplo. Nós éramos apenas adolescentes tentando encontrar um som e o que iria funcionar. E eu acho que, em um ponto diferente no EP estariam algumas músicas, as quais estavam muito longe em uma direção, muito pop ou algo tipo e, então, outras não estavam tão longe.
Eu acho que o EP é bom e mostra para os jovens que estávamos apenas tentando encontrar a fórmula mágica e eu apenas penso que não estávamos bem com algumas músicas que colocaríamos no primeiro disco, mas músicas como “Hands off My Cash [Monty]” eram algo que nós tocávamos ao vivo uma vez que o primeiro disco foi lançado.
Essa a gente continuou a tocar, porque nosso disco tinha 35 minutos e os shows 45, então nós costumávamos tocar essa música.
Kevin também explicou que o lançamento é uma forma “divertida e legal” das pessoas conhecerem as origens da banda e entender qual será o caminho percorrido pelo trio daqui em diante. O músico ainda disse que as canções, provavelmente, não serão incluídas nos futuros setlists, mas, com certeza, devem influenciar os próximos processos criativos do grupo.
Como esse EP pode inspirar o Two Door Cinema Club nos próximos passos?
É uma coisa um pouco difícil de quantificar, porque eu acredito que nós… Você apenas escreve o que parece certo na hora e você não está tão consciente. Nós não fomos rígidos em estabelecer um caminho até sermos bons.
Mas eu acho que muitas influências do processo criativo são subconscientes e que, provavelmente, nós não pensamos nessas músicas do EP por 10 anos e esquecemos que elas existiam. Então eu diria que ter as canção novamente no radar, você sabe, ouvir de novo, subconscientemente vai influenciar de alguma maneira seja lá o que vier depois.
E como a banda imagina o futuro?
Nós, definitivamente, estamos tendo discussões sobre o que virá em seguida para a banda, musicalmente e criativamente. É difícil, porque muitas pessoas estão tentando usar esse tempo positivamente para serem muito produtivas e surgir com um novo trabalho musical ou algo do tipo.
Mas, para ser honesto, como uma pessoa criativa, não existe nada pior para o processo criativo do que sentir a pressão de criar algo e usar esse tempo. Então, acho que estamos tentando relaxar, apenas ver o que acontece e ser produtivos naturalmente, e não tentar colocar muita pressão em nós mesmos para sair desse período com o próximo vencedor do Grammy, nada disso.
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