Mark Kozelek, a mente por trás do Sun Kil Moon - Divulgação

Sun Kil Moon: “Meus discos estão relacionados com o tempo em que vivemos”

Projeto de Mark Kozelek é uma das atrações do próximo Balaclava Fest, que também tem shows de Future Islands, os argentinos do Un Planeta e o brasileiro Holger

Lucas Brêda Publicado em 16/03/2018, às 19h44 - Atualizado às 20h04

Mark Kozelek é uma figura bastante imprevisível. A carreira dele começou nos anos 1990, com a banda Red House Painted, e mudou de rumos com o projeto solo Sun Kil Moon, existente desde 2002, mas em evidência depois do disco Benji (2014). “Benji foi o que ganhou mais ‘hype’, mas mudei meu estilo antes dele”, Kozelek explica, em entrevista por e-mail (única maneira de se comunicar com a imprensa) à Rolling Stone Brasil. Passando dos 50 anos de idade, ele vive o auge de sua produção, que é tão prolífica quanto densa.

O cantor e compositor norte-americano acabou de anunciar um disco autointitulado (como Mark Kozelek) para maio e diz que até novembro lançará outro LP, só que como Sun Kil Moon. Ele, contudo, atendeu a RS Brasil para falar da vinda ao Brasil, para integrar o line-up do próximo Balaclava Fest, festival do selo paulistano homônimo que já trouxe nomes como Mac DeMarco e Slowdive ao país. Além do Sun Kil Moon, os grupos Future Islands, também norte-americano, o Un Planeta (Argentina) e o Holger (Brasil) completam a escalação da sétima edição do evento, que acontece em São Paulo no dia 13 de maio, no Tropical Butantã, com ingressos já à venda (mais informações no fim do texto).

Não é exclusividade de 2018 o fato de Kozelek lançar mais de um disco cheio no espaço de um ano. Só em 2017, ele publicou um EP solo, um álbum como Sun Kil Moon e três discos colaborativos (sendo com o Jesu, outro com o baixista do Parquet Courts, Sean Yeaton, e outro com Ben Boye e Jim White). “Não se trata do que é melhor para a minha carreira, mas sim do que é melhor para o meu espírito e minha fluência criativa”, explica. “Muitos dos meus discos estão relacionados com o tempo em que vivemos agora, e guardá-los por três ou quatro anos por razões mercadológicas seria anti-climático e iria contra o que o eu acredito ser arte verdadeira.”

Mark Kozelek, portanto, sai às vésperas do show dele no Brasil, e traz colaboração, em uma música, de um amigo dele, o ex-baterista do Sonic Youth, Steve Shelley (“Somos das antigas e fãs de gastronomia”, diz). O resto do álbum foi gravado inteiramente por Kozelek, com uma guitarra Fender Jazzmaster 1960 e em quartos de hotel. “Houve partes gravadas com um violão de nylon e um baixo Fender de seis cordas também”, ele conta. “É um disco delicado, tive que ser consciente e manter os volumes baixos devido aos hóspedes nos outros quartos embaixo, em cima e dos lados. Estar em outras partes de São Francisco [nos Estados Unidos] também rendeu um conteúdo diferente para as letras. Foi um ambiente diferente do comum para mim.”

Para Kozelek, a diferença entre um disco assinado pelo nome de batismo ou como Sun Kil Moon é praticamente inexistente. “Em novembro eu lanço um disco como Sun Kil Moon, então lançar esse também como Sun Kil Moon soaria redundante”, explica. “Estou sempre trabalhando em estúdio, muitos discos se confundem uns com os outros. Era comum, nos anos 1970, fazer vários discos ao mesmo tempo. O Led Zeppelin fez mais álbuns em 11 ou 12 anos do que a maioria dos artistas de hoje em dia faz em uma carreira de 25 anos. Estou sempre gravando, gosto de fazer música e estou em paz quando estou fazendo música.”

Os álbuns que Kozelek vem soltando nos últimos cinco anos ou mais seguem a tendência que Kozelek desenvolveu a partir do disco Among the Leaves (Sun Kil Moon, 2012) e da colaboração com Jimmy Lavalle em Perils From the Sea (2013): “Jimmy estava usando batidas eletrônicas e foi aí que aprendi que eu tinha ritmo. Perils foi o ponto de mudança para mim”. Dali em diante, ele conseguiu conciliar melodias geralmente cíclicas e minimalistas – em violão ou guitarra – com um jeito de cantar no qual despeja confissões e relatos que soam como conversas, de tão espontâneos.

Em alguns momentos, Kozelek canta tão rápido que soa quase como um rapper (“Richard Ramirez Died Today of Natural Causes” é um exemplo), tanto pelo ritmo vocal quanto pelo apreço ao storytelling. “Gosto de hip-hop, mas não tenho um conhecimento enciclopédico do gênero”, conta. “Gosto do que ouço, quando ouço”. Apesar de tanto os rappers quanto Kozelek produzirem conteúdo autobiográfico (ele afirma que “80% a 90%” do que escreve é real, apesar de mudar os nomes dos personagens com frequência), o cantor geralmente evoca uma atmosfera muito mais melancólica. Benji, por exemplo, é inteiro soturno e tem a morte como tema recorrente.

Kozelek tem uma música fortemente baseada na poesia, mas não acredita que isso interfira na maneira como plateias de outras línguas, como os brasileiros, se relacionam com as obras. “Vou bem na China, Coreia, Espanha, Portugal”, diz. “As pessoas têm conexões emocionais com a música, por causa do espírito, da melodia, do clima, do ritmo”. A cabeça por trás do Sun Kil Moon pouco revelou do show que fará em São Paulo, mas uma coisa ele garantiu: “Gosto de todos os tipos de comida e com certeza vou experimentar da culinária brasileira.”

Balaclava Fest #7

Sun Kil Moon, Future Islands, Un Planeta e Holger

13 de maio (domingo), das 16h às 23h

Tropical Butantã | Av. Valdemar Ferreira, 93 (próximo ao metrô Butantã)

Ingressos: entre R$ 180 e R$ 260 (há meia-entrada solidária)

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