A baixista do Superchunk, Laura Ballance, se empolga com a ideia da Virada Cultural Paulista - Jason Arthurs/Reprodução

Rock adulto e nostalgia

Laura Ballance, baixista do Superchunk, fala sobre a vinda ao Brasil e a nova fase na carreira da banda

Por Stella Rodrigues Publicado em 06/05/2011, às 17h45

"Estamos fazendo o estilo 'banda de rock de adulto'". É assim que Laura Ballance, baixista do Superchunk, define o jeito como o grupo está se comportando nessa nova fase da carreira, marcada pelo lançamento do álbum Majesty Shredding (2010), nove anos depois de seu antecessor, Here's to Shutting Up, ter chegado às lojas.

Agora, os integrantes têm filhos, projetos paralelos e uma empresa para comandar. Sendo assim, em vez de cair na estrada e viajar até não aguentar mais, a banda seleciona bem quando e aonde ir. E, para a sorte dos fãs paulistas, duas cidades brasileiras estão na rota do grupo em maio de 2011: Mogi das Cruzes e Sorocaba. O ícone do rock independente é uma das atrações internacionais da quinta edição da Virada Cultural Paulista, que acontece entre os dias 14 e 15 e ainda leva ao interior de São Paulo o Pink Martini e a francesa Agnès Jaoui.

Falando ao site da Rolling Stone Brasil, a risonha e descontraída Laura mostrou que não tinha ideia do tipo de evento do qual iria participar - e, aliás, adorou saber mais sobre o conceito dele -, falou sobre essa volta do Superchunk, de como a tecnologia foi essencial para que esse retorno acontecesse e do selo Merge, que encabeça ao lado do vocalista e guitarrista Mac McCaughan, entre outros assuntos. Leia abaixo.

Vocês virão ao Brasil para a Virada Cultural Paulista. Será um show mais voltado o disco novo?

Ainda não escrevemos o set list, mas ultimamente temos feito mais ou menos cinco músicas do disco novo e o resto variado.

Esse é um evento que acontece durante 24 horas, com atividades culturais acontecendo por todo o estado. Vocês estavam cientes? Já viram algo assim?

Não mesmo. Como é, 24 horas? Como é isso, acontece em quantos lugares? Não, nunca vi nada assim, soa muito empolgante! Mas tem coisa acontecendo em todo lugar, o tempo todo, durante as 24 horas?

Sim! São 23 cidades do interior do estado e vários locais.

Eu realmente não sabia que era algo tão grande, isso é bem legal.

Isso muda os planos?

[Risos] Talvez deva! Ainda não sei nem que horas a gente toca. Mas se cada lugar tem uma programação de 24 horas, talvez, se for mais tarde, seja bom tocar algo relaxante.[risos]

Ou algo bem animado para segurar a energia...

É, isso, boa! Essa também é uma boa ideia.

Vocês tinham dado um tempo na carreira para cuidar da gravadora Merge. Os negócios continuam indo bem. Como está funcionando isso de viajar, gravar, cuidar da empresa, da família? Como foi que viram que ia ser necessário fazer uma pausa e como resolveram que era a hora certa de voltar?

Estávamos juntos e na estrada havia muito tempo. Acho que estávamos simplesmente cansados de fazer a mesma coisa a cada dois anos, como banda. Meio que precisávamos de um intervalo uns dos outros. Naquela época, a Merge estava começando a crescer e sentimos que sempre tinha muita coisa para fazer, entre o Superchunk e a Merge. Eu estava ansiosa por uma pausa e, como dá para notar, nesse período a Merge cresceu bastante. Acho que hoje estou mais ocupada do que nunca, mas uma hora pensei: tocar no Superchunk é muito divertido e é uma ótima forma de soltar as feras. Aí, apesar dos pesares, resolvemos ir em frente com isso. Mesmo não tendo nenhum tempo livre [risos]. Por outro lado, modificamos a forma como lidamos com o fato de ter um disco novo. Antes, lançávamos e saímos em turnê por três meses, sem descanso. Agora, fazemos alguns shows por vez e voltamos para casa por três semanas para cuidar dos filhos e da Merge. É diferente. Estamos fazendo o estilo "banda de rock de adulto".

A Merge ter crescido, por outro lado, também pode ajudar, porque agora você tem ajuda para tocar a gravadora, certo? E a tecnologia e o fato de poder resolver muita coisa pela internet também devem ser uma mão na roda.

Sem dúvida, faz uma diferença enorme! E com 15 funcionários dá para deixar várias coisas sendo cuidadas. O resto se resolve de longe.

Como você e o Mac escolhem artistas para a gravadora?

Basicamente, tanto eu quanto o Mac temos que gostar [risos]. Simples assim. As sonoridades da Merge são um reflexo de onde está o nosso gosto musical conjunto naquele momento.

O primeiro álbum da Merge a conseguir um grande sucesso foi Funeral, de 2004, do Arcade Fire. Na época, já dava para imaginar o quanto eles seriam grandes?

Não, não tínhamos a menor ideia. Quando ouvimos, sabíamos que era um grande disco e uma grande banda. E, para um primeiro disco, pensamos: "É tão bom que dá para vender pelo menos quatro mil cópias". É claro, subestimamos o número - e muito! Devo dizer que é bem impossível prever quando uma banda será tão popular quanto o Arcade Fire é agora. Existem outras bandas que são tão boas quanto e que ninguém conhece. É claro que eles trabalharam muito duro e são uma banda muito, muito, muito boa. Mas é mais uma combinação disso com as pessoas notarem aquilo na hora certa. Acho que nunca pensamos, quando estamos decidindo sobre contratações, o quão bem o disco vai vender. Só vamos pensar nisso quando estamos elaborando um plano de marketing. Inclusive, já tivemos oportunidade de lançar álbuns que sabíamos que iam vender muito, mas passamos, porque a gente simplesmente não curtia. Isso que é bom de ser artista e dona de gravadora, tenho os dois lados.

É normal vocês estarem saindo do palco depois de um show, por exemplo, e receberem demos de bandas? Já lançaram algo dessa forma?

Acontece bastante isso em show. Mas só consigo me lembrar agora do Butterglory, que contratamos por volta de 1993. Lançamos primeiro um vinil de 7 polegadas e depois alguns discos. Eles mandaram uma fita pelo correio, não conhecíamos nada deles, mas gostamos, assinamos com eles e foi ótimo. Mas é raro, muito raro, isso dar certo.

No intervalo entre Here's to Shutting Up (2001) e Majesty Shredding (2010), muita coisa mudou em termos de tecnologia e funcionamento das gravações. Como se adaptaram a essas mudanças?

Usamos muito das facilidades tecnológicas para encurtar distâncias. O Mac fazia demos com a guitarra, ou alguma voz, e mandava para a gente. O Jon [Wurster], nosso baterista, estava morando em Nova York e viajando muito com outros projetos. Ele mandava o arquivo, nós fazíamos nossa parte e mandávamos de volta. Aí, nos reuníamos no estúdio por três dias, gravávamos bastante, e só podíamos voltar a nos reunir meses depois. Por isso demorou tanto, levamos cerca de um ano ou um ano e meio gravando.

Os fãs vão ter que esperar outros nove anos para o próximo disco?

Queremos muito lançar mais coisas, acho que seria bem divertido. E agora que descobrimos esse jeito de trabalhar, ficou muito mais fácil. Então, acho que não. Mas vamos ver... não estou prometendo nada!

Vocês influenciaram muitas bandas, mesmo quando estavam sumidos. Acredita que o Superchunk criou uma espécie de novo parâmetro para o indie nos anos 90?

Acho que consigo perceber que há bandas que influenciamos - e agora, essas bandas que influenciamos estão influenciando outras bandas e o processo continua como se fosse... genética. Sabe? Continua rolando, evoluindo e mudando. Somos parte disso, mas somos parte de algo contínuo. Não somos o começo. Tem sentido isso?

Claro! Então, quem são seus pais e quem são seus filhos?

[Risos] Preciso pensar... quando começamos a tocar, as pessoas diziam que soávamos como o Buzzcocks, o que eu achava muito engraçado. Acredito que o Death Cab for Cutie [seria um dos nossos filhos]. Nossa, eu sou péssima nisso, não sei conectar sonoridades [risos]. Tem muitas bandas que falam pra gente que foram influenciadas pelo nosso trabalho, mas eu nem sempre consigo ouvir isso no trabalho deles.

Bandas contemporâneas de vocês, como Dinosaur Jr. e Pavement ,voltaram para a estrada. Acredita que há uma razão, em particular, para isso acontecer neste momento? Tem algo específico da vida na estrada que te atraiu de volta?

A vida na estrada não me atraiu em nada, mas fazer shows, sim - aquele período curto de tempo da turnê quando você está, de fato, no palco e tocando para as pessoas. É algo de que senti saudade e que é viciante. Há, talvez, uma nostalgia daquela época rolando, que tem a ver com as pessoas da minha idade chegando em uma fase da vida em que elas lembram com muito carinho de quando tinham 28 anos [risos]. E aí querem ver essas bandas tocando de novo.

Superchunk na Virada Cultural Paulista

Mogi das Cruzes

À 0h de sábado, 14, para domingo, 15

Palco externo: Avenida Cívica

Gratuito

Sorocaba

Às 17h de sábado, 14

Palco externo: Parque das Águas do Abaeté "Maria Barbosa Silva"

Gratuito

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