Com paródia e crítica, o líder dos Sete da uma visão bizarra e mais humana do que nunca do herói clássico
Vinicius Santos | @vini_ls13 Publicado em 17/08/2020, às 13h00
Atenção: contém spoilers da PRIMEIRA temporada de The Boys
Entre todos os uniformes exagerados e intencionalmente ridículos dos Sete, o time de super-heróis corruptos de The Boys, da Amazon Prime Video, o que mais se destaca é do Homelander (Anthony Starr).
A capa gigante que imita a bandeira dos Estados Unidos, as águias como ombreiras e topete loiro impecável criam a imagem de que o líder do time é um símbolo nacional norte-americano vivo.
Publicamente, Homelander é o clássico herói 'escoteiro': sempre educado, simpático e bondoso, como as versões mais idealizadas do Superman e Capitão América, personagens a quem ele faz paródia. Porém, por dentro, ele tem segredos sórdidos, um profundo e chocante complexo de Deus e quase nenhum escrúpulo.
Mesmo sendo diabólico e violento, assistir o Homelander em ação continua sendo muito divertido e o fãs de The Boys não conseguem evitar em focar as discussões sobre a série nessa figura pitoresca.
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Antony Starr, e Aya Cash, que interpretam respectivamente o Homelander e a nova heroína dos Sete, Stormfront, entendem de onde vem essa fascinação e concordam com o encanto bizarro que esses heróis corruptos exercem. Em entrevista a Rolling Stone Brasil, os atores falaram sobre como é estar na pele de uma versão desconstruída do mito do herói.
"Boa parte do encanto desses personagens vem do roteiro e como ele mostra a humanidade do personagem", diz Starr. "Quando você descobre os motivos que os tornaram pessoas daquele jeito, especialmente no caso do Homelander, é impossível não ter um pouquinho de empatia por eles."
É um bom ponto. Enquanto casos como o do Superman tentam fazer o espectador de se identificar por valores positivos, como o amor da família de Clark Kent e a vontade dele de fazer a diferença, o Homelander vai pelo caminho oposto. Quem assiste se identifica com os traumas dele e entende como ele ficou daquele jeito. Claro que não iremos olhar para o personagem como o mocinho, mas é possível compreendê-lo ainda.
"Além disso, mesmo fazendo coisas muito diabólicas e violentas, tem sempre um fator de humor negro em tudo que os 'supes', tirando o The Deep, envolvido. O humor age como um antídoto ao ódio que nós sentiríamos por eles."
O ódio mencionado por Starr é um ponto central de The Boys. Os 'garotos' de Billy Butcher, apesar de desejarem fazer justiça e expor toda a sujeira da empresa Vought, que droga crianças desde o nascimento com soro de superpoderes Composto V, o que torna eles os verdadeiros heróis da história, quase sempre agem de maneira tão violenta e perversa quanto os Sete.
Seja Hughie (Jack Quaid), que explode o herói invisível Translucent em busca vingança pela namorada morta por um dos Sete ou até o próprio Billy Butcher (Karl Urban), que amarra bombas na chefona da Vought, Madelyn Stillwell, só para provocar o Homelander, todo mundo que tem algum grau de poder em The Boys ignora as responsabilidades que ele traz consigo.
Essa visão totalmente humanizada é, na opinião de Starr, uma das interpretações mais realistas da fantasia de poder que o gênero de super-heróis pode oferecer: "É uma versão mais plausível do que um herói seria. Com os poderes do Homelander, você seria quase um deus, isso corromperia qualquer pessoa."
"Sem falar que pessoas normais cometeram atrocidades ao redor do mundo e da história," pontua Aya Cash. "Imagine o que alguém faria com esse tipo de poder?!"
A melhor parte do trabalho de ser um super-herói maníaco? Para Antony Starr, é a pura diversão que isso proporciona: "Com o Homelander eu posso fazer coisas que nunca faria em outros papéis. Explorar esse lado sombrio da personalidade dele e agir como ele é extremamente entusiasmante como ator e como uma brincadeira."
A kryptonita do Homelander é o ego dele. Todas as ocasiões nas quais ele contém o comportamento destrutivo são em função de manter a fachada de bom rapaz. Ele nunca vai xingar ou matar alguém se as câmeras estiverem em cima dele. É exatamente assim que somos apresentados a nova força opositora do personagem: Stormfront (Aya Cash).
A heroína sabe como usar as redes sociais e a atividade online dela para se promover. Ela é tão boa nisso que logo que chega em cena, já se introduz para o Homelander e a Rainha Maeve como a nova integrante dos Sete enquanto faz uma live no Instagram:
"O que é único na Stormfront é que ela se considera tão forte quanto o Homelander e mais esperta que ele. Ao contrário de outros heróis, ela não se sente nem um pouco intimidada pelo colega", diz Aya Cash.
"Ela chegou nos Sete para confrontar ele e conquistar o respeito dele. Se ele não der isso, pode apostar que ela vai partir para cima dele", completou a atriz.
Stormfront é uma das personagens mais modificadas dos quadrinhos de Garth Ennis, nos quais a série se baseia. A versão original é um homem e o primeiro 'super' criado pelo Composto V, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, com um experimento nazista.
A versão de Cash não aparenta ter a mesma origem neo-nazista que nas HQs, mas continua sendo a 'número 2' na hierarquia dos Sete e promete exercer toda essa rivalidade na série.
A sátira do mundo dos heróis de The Boys mostra indivíduos fúteis, falhos e com diversos problemas e desvios morais bem reais debaixo da capa e dos collants. Isso faz qualquer espectador questionar se o nosso mundo seria parecido caso tivesse uma sociedade de super-humanos.
"Eu acho que se tivéssemos heróis de verdade, alguns seriam tão ruins quanto os Sete e outros não seriam. Mesmo ná série temos personagens como a Starlight (ErinMoriarty), que acreditam no mito do herói", diz Aya Cash.
"Eu discordo da ideia que o poder corrompe em todos os casos. Existem pessoas que manejam o poder com graça e generosidade, mas é um trabalho muito árduo. Na verdade, o poder e dinheiro apenas jogam um holofote nas piores partes de você mesmo e a essência de quem você era antes disso. Acredito que haveriam bons super-heróis, mas muitos outros tão ruins quando os Sete."
Já o interprete do Homelander acha que os heróis seriam bem sujos mesmo: "Do jeito que as pessoas se comportam hoje em dia? Com as posturas que vemos cada vez mais na sociedade, acho que teríamos uns 'supes' péssimos. É um reflexo triste do lugar que a humanidade se encontra."
"Agora, nós merecemos eles? Eu não sei dizer se merecemos ou não", admite Antony Starr. "Mas do jeito que estamos, provavelmente teríamos que nos contentar com um super-herói como o Homelander (risos)."
A segunda temporada de The Boys estreia na Amazon Prime Video no dia 4 de setembro, assista ao trailer abaixo:
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