Show do Misfits, em 2011, no Abril Pro Rock, um dos festivais que integra a Abrafin - Rafael Passos/Divulgação

Talles Lopes responde comentários de Gustavo Sá, diretor artístico e produtor executivo do Porão do Rock

O presidente da Abrafin falou sobre pagamento de cachês, o papel do Fora do Eixo na entidade e do debate política versus música

Por Stella Rodrigues Publicado em 16/08/2011, às 20h35

"Fomos fundadores, ao lado de outros ajudamos a criar, consolidar e fazer a Abrafin crescer, mas saímos há alguns meses. Não compartilhamos mais dos ideais dela, a Abrafin foi absorvida pelo Fora do Eixo e eu, pessoalmente, não compartilho com as ideias deles. Isso de não pagar cachê, por exemplo, sou totalmente contra. Todas as bandas que tocam no Porão do Rock ganham algum tipo de dinheiro, elas não pagam para tocar. Fora que achamos que a Abrafin ficou muito politizada. Sou produtor de rock, não sou político, não quero me eleger." Essa declaração é de Gustavo Sá, diretor artístico e produtor executivo do festival Porão do Rock, foi publicada na matéria "Edição 14 do Porão do Rock e o festival independente em 2011" (leia aqui). A equipe da Abrafin entrou em contato com a Rolling Stone Brasil, questionando as afirmações do produtor, e pedindo o direito de resposta em relação à reportagem, em especial no que diz respeito à remuneração dos artistas contratados, a relação entre a entidade e a política e o Fora do Eixo e, ainda, a saída de alguns festivais da Abrafin. Abaixo, a opinião de Talles Lopes, presidente da Abrafin, sobre cada um desses assuntos:

Fora do Eixo

"Essa relação que se coloca entre o Fora do Eixo e a Abrafin, como uma relação problemática... na verdade, as duas coisas sempre foram movimentos parceiros no desenvolvimento dessas novas plataformas da música brasileira. A gente tem que lembrar que nas demais gestões sempre tivemos pessoas ligadas ao Fora do Eixo, que ocupavam espaço dentro da gestão. Da mesma forma com a diretoria, agora, tem várias pessoas que não fazem parte do Fora do Eixo."

Política e música

"Uma das coisas é uma distorção comum nas abordagens que são feitas das atuações de determinados movimentos da música no Brasil, que é insistir em uma dicotomia entre música e política. Quando vem de um festival como o Porão do Rock, que fica em Brasília, fica até mais complicado da gente entender essa suposta oposição. Acho que a partir do momento que festivais se organizam, se juntam para buscar uma ação comum dentro de uma associação, isso é uma atividade política. Acho meio inócuo ficar discutindo esse tipo de coisa. A gente quer, justamente, através de uma ação política, de criação e de trabalho da entidade, melhorar a estrutura da música brasileira."

Remuneração

"Tanto a Abrafin quanto o Fora do Eixo não defendem o não pagamento de cachês dos artistas, pelo contrário. Quando você tem um movimento e uma entidade como a Abrafin, que está lutando para melhorar a situação dos festivais no Brasil, trabalhando para aumentar o número de editais e criar plataformas conjuntas que melhorem a negociação dos festivais com a iniciativa privada e o poder público... o resultado final é, certamente, uma melhoria das condições para os artistas se apresentarem. Não existe essa posição de não pagamento de cachês. Nunca recebi denúncia de artista de algum festival da Abrafin não ter cumprido o combinado."

"A gente não tem, estatutariamente, uma determinação a respeito de cachê. O que acontece é que o artista recebe o convite e vai optar se acha que aquele palco é importante para a construção da carreira dele, naquelas condições. Tivemos um avanço muito grande nesse sentido, nesses cinco anos. A maioria dos festivais, hoje, busca remunerar os artistas. As negociações são feitas de forma muito clara, o artista vai receber o convite e avaliar o que está sendo oferecido. Não policiamos isso, cada produtor sabe onde está apertando em cada ano."

Saída de festivais veteranos da Abrafin

"Eu, na verdade, tenho uma avaliação para a saída de alguns festivais da entidade. E, de forma alguma, passa por questão de pagamento de cachê ou priorização da política em detrimento da música, e muito menos a ocupação da Abrafin por um outro grupo. A Abrafin teve um papel muito interessante nessa história recente da música brasileira, o 'empoderamento' de novos festivais e produtores no país inteiro. E tivemos também um crescimento muito grande de festivais mais novos, como o Se Rasgum, Quebramar, Coquetel Molotov, Contato. Todos eles com no máximo sete anos, nasceram quase que junto com a Abrafin. Esses festivais que foram crescendo junto se adaptaram melhor a essa nova dinâmica de acesso ao patrocínio, passando por editais públicos. Isso tudo, inclusive, foi algo muito debatido dentro da entidade: o perfil dos festivais 'analógicos e digitais'. Alguns dos mais antigos, que tinham um modelo de trabalho bem cristalizado antes do nascimento da Abrafin e que, na leitura deles, eles estavam perdendo espaço para esses novos festivais. Se você for ver os três festivais que saíram - Eletronika, Porão do Rock e Mada - são três casos desse tipo."

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