Banda se esquivou das canções mais famosas em apresentação na última quinta-feira, 7
Por Bruno Raphael Publicado em 08/07/2011, às 13h24
O Television sempre foi assumidamente a banda outsider do movimento punk. Ser considerado um ícone dessa fase não poderia ser mais irônico: é difícil (se não impossível) relacionar a imagem, som e estética musical da banda a seus contemporâneos, como Ramones e Sex Pistols. O minimalismo e a quebra de paradigmas que o punk rock promovia fugia à proposta do líder Tom Verlaine que, com uma criação musical originada no jazz (o primeiro instrumento que aprendeu foi o saxofone), sempre foi obcecado por solos de guitarra virtuosos e mudanças bruscas de compassos. De certa forma, o Television sempre flertou perigosamente com o que seus companheiros de cena repudiavam: a pretensão instrumental.
Tal fato ficou ainda mais claro no show dessa última quinta-feira, 7, em São Paulo. O Beco 203 abriu suas portas às 21h20, com previsão de que o show de abertura, a cargo da banda gaúcha Pública, começasse às 22h. No entanto, cerca de 30 minutos antes do previsto, os instrumentos do Television começaram a ser posicionados no palco.
Às 23h10, quando o Television subiu ao palco, a casa estava tomada pelas mais variadas idades. Com os membros da formação original, exceto Richard Lloyd (que saiu em 2007), o grupo começou um improviso que poderia servir como prévia do que esperar do resto da apresentação. Jimmy Ripp, o substituto de Lloyd, ficou cerca de 4 minutos criando uma atmosfera repleta de arpeggios e riffs de guitarra ao lado de Verlaine, Fred Smith (baixo) e Billy Ficca (bateria), que culminou na abertura do show com "Prove It", de Marquee Moon, disco mais famoso da banda. A voz de Verlaine, peculiar desde sempre, está fraca. Amparado pelo público que, vez ou outra completava um verso no lugar do vocalista, ele sorria sem jeito ao fim da canção. Nada surpreendente, visto que na última passagem do Television pelo Brasil, em 2005, sua voz parecia ainda mais debilitada. Mas comparado ao show do Tim Festival naquele ano, Verlaine parecia ter tomado uma injeção de ânimo. "Obrigado", dizia ele com um típico sotaque norte-americano, ao fim de "Prove It". "Little Johnny Jewel", primeira canção original do Television, composta ainda no tempo em que Richard Hell era o baixista, veio pouco depois.
O que parecia ser um show nostálgico promissor acabou derrapando. Em vários momentos da apresentação, Verlaine afinava sua guitarra no meio de uma música ou logo após uma longa jam session. O distanciamento entre o artista e o público ficava ainda mais evidente nos risos contidos do vocalista a cada aplauso tímido nos três improvisos ocorridos durante o show que, somados, ocuparam mais de 20 minutos do show. "Glory" e "The Fire", de Adventure (1978), foram os últimos resquícios de canções que o público presente sabia cantar junto, até a parte final da noite.
Em um momento indefinível, já caminhando para o fim da apresentação, a banda começou a tocar um instrumental hipnótico e, durante cerca de seis minutos, Verlaine versou sobre a palavra "andando", em português. "Não esquecerei, não esquecerei", começou a cantar após se cansar de caminhar (sabe-se lá pra onde). "Sem mágoas, vou embora se der." Ao final, ele ainda berrou sobre "o mar", tanto em português quanto em inglês. O público, sem saber como reagir ao experimentalismo inusitado do cantor, já demonstrava sinais de cansaço naquele início de madrugada de sexta-feira. Ficava a impressão de que uma recompensa pela espera viria.
E ela veio. Já por volta da 0h30, a primeira nota de "Marquee Moon" foi tocada. Bastou isso para o público esquecer tudo e se deixar embalar, por 15 minutos, no que o Television sabe fazer de melhor: as linhas de guitarra entrelaçadas que, ao passar da canção, vão se enveredando cada vez mais e culminam, epicamente, em uma explosão sonora que deixa o público em êxtase. Tom Verlaine sabia que bastava aquela canção para dominar o público.
Ao fim da música, a banda saiu do palco, mas o público queria mais. Bem mais, na verdade: queria "See No Evil", "Days" ou "Friction", mas o Television voltou ao palco para tocar apenas uma canção própria, "Venus", e uma cover já tradicional, mas que animou só quem estava ali ocasionalmente: "(I Can't Get No) Satisfaction", dos Rolling Stones. Ficou o sentimento de que a música poderia muito bem ter sido substituída por qualquer uma de Marquee Moon ou Adventure, mas talvez a graça, para Tom Verlaine e o Television, seja justamente essa: ser outsider até mesmo dentro de seu próprio espetáculo.
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