- Terno Rei (Foto: Samuel Esteves)

Terno Rei abraça a grandiosidade e se distancia do lo-fi no disco Violeta

Terceiro álbum dos paulistanos chega com produção excepcional e como resultado de um crescente auto-conhecimento entre os integrantes

Igor Brunaldi Publicado em 01/02/2019, às 10h30

Três anos e um amadurecimento sonoro e tanto. Entre os discos Essa Noite Bateu Com um Sonho (2016) para Violeta, lançado nesta sexta-feira, 1º, pelo selo Balaclava Records, o Terno Rei deixou o tempo fazer seu trabalho. Cresceu em todos os sentidos, inclusive sonoros. Imponente, o terceiro álbum marca a discografia da banda paulistana pela sua força de transformação.     

É como estar no alto de um trampolim, a piscina lá embaixo, miúda, e não ter medo de saltar da plataforma. Para crescer, é preciso ter coragem. E, é claro, coesão. O Terno Rei se mostra tinindo, em forma e afiadíssimos.  

Entenda, com essa metáfora, Violeta como um disco no qual os quatro integrantes do Terno Rei falam uma mesma língua entre si, embora diferente daquela ouvida três anos atrás, com Essa Noite Bateu Com um Sonho.

É como se o disco anterior fosse uma fotografia clicada no meio da transformação, entre o Terno Rei de antes e a versão da banda em 2019.  

Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, Ale Sater (baixo e voz) explica a origem do salto sonoro a partir de um sentimento de inquietação e uma urgência por mudanças.  "Cansamos bastante da estética dos últimos dois discos", conta. "Então, (mudar) foi uma vontade natural. Buscamos mais elementos e mais repertório."

No álbum de 2016, a pegada lo-fi parecia se despedir, como se desaparecesse da visão pelo reflexo do retrovisor. Adiante, nessa estrada imaginária, as placas indicavam a aproximação da estética dominada por sintetizadores. Em algumas faixas daquele registro, os synth já eram protagonistas, não mais coadjuvantes.   

E aí, ao entrar em cena, Violeta abraça as mudanças e as incorpora definitivamente, a partir da meticulosa produção assinada pelos curitibanos Gustavo Schirmer e o Amadeus De Marchi.

O Terno Rei comprova a possibilidade de reinvenção sem dar fim à essência. O pop não morde, afinal. 

Esse processo de desprendimento estético (ou reconstrução) só funciona se houver uma linguagem única entre integrantes da banda. "No estúdio, todo mundo acompanhou a gravação de todo mundo", revela Sater. "Muita coisa mudou na pré-produção e muita coisa mudou na própria gravação. Não deixamos passar nada que não nos agradasse."

As músicas de Violeta são também um grande reflexo do contínuo exercício de se (re)descobrir que é estar em uma banda. "Rolou um crescimento a cada disco, e um autoconhecimento mais completo a cada um deles também", conta Bruno Paschoal (guitarra, sintetizador e voz).

Quando se pega gosto por pisar fundo no acelerador, a vontade de permanecer em movimento não se aquieta. "Agora que este disco está pronto, já estamos com vontade de fazer um 4º álbum melhor ainda!", acrescentou Paschoal.

Ao longo da entrevista, resposta a resposta, os integrantes clareiam a imagem do cenário no qual nasceu o álbum, um ambiente de contemplação criativa coletiva e entendimento ideológico recíproco entre os envolvidos. 

"Sonoramente sabemos muito bem o que a gente não gosta, e isso torna mais fácil de separar o que funciona do que não funciona", ressalta Sater.

Ele segue: "Sabemos o que realmente conseguimos fazer bem feito e o que não conseguimos. No começo de uma banda, é natural tentar se encontrar, mas com o passar dos anos, tudo vai ficando mais claro. Não digo que mais fácil, porque aí estaria mentindo."

Aceitar a pegada mais pop se mostrou essencial para a banda, e ofereceu espaço para crescimento e amadurecimento retratados ao longo desse texto. De acordo com Paschoal, esse movimento foi inclusive saudável para o álbum: "Entre composição, produção e gravação, foi o disco mais legal que fizemos até agora".

Se os shows manterão a mesma pegada, explica o músico, é impossível prever. "Só então, [a partir das apresentações,] vamos saber mesmo se estamos confortáveis assim."

Composto por 11 faixas, Violeta ganha novos tons de cor a cada nova audição. A diversidade sonora, camada por camada, praticamente nos faz implorar por sessões instrumentais mais longas - com exceção de "Amor-Perfeito", as canções possuem o vocal como elemento principal.

"São Paulo", homenagem à cidade onde a banda nasceu, ostenta sintetizadores capazes de criar uma atmosfera macabra e dançante durante os versos. O backing vocal é certeiro, com grandes chances de ser cantado em uníssono pelos fãs durante o show.

Talvez a maior surpresa esteja na música "Estava Ali". Sobre a linha de violão, algo surpreendente por si só, está a voz de Paschoal, em vez de Sater, algo inédito ao grupo. 

Mas a síntese deste (novo?) Terno Rei de Violeta está em "Roda Gigante". Os disparos dos sintetizadores são envolventes, vindos de algum lugar dos anos 1980, e embalam versos contemplativos sobre o mundo ao redor: "Posso sonhar / posso rodar por aí", "virei a noite / batuque e conhaque / onde é que vai parar, nessa de não volta / roda gigante".  De quebra, a faixa entrega linhas de backing vocals grudentas e um solinho de guitarra rasgado.

Terno Rei é formado por Ale Sater (baixo e vocal), Bruno Paschoal (guitarra, vocal e sintetizadores), Greg Maya (guitarra e sintetizadores) e Luis Cardoso (bateria). Violeta foi lançado pelo selo Balaclava Records, e já está disponível nas plataformas de streaming e no YouTube.

No dia 15 de fevereiro, a banda faz o show de lançamento do disco na casa de shows Z, em São Paulo. Confira aqui o evento.

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