The Calling + Alex Band: o jogo do pop é com eles mesmo

Mistura de hits antigos e novas faixas da fase solo do vocalista marcou o show em São Paulo, nesta sexta, 5

Por Anna Virginia Balloussier

Publicado em 07/06/2009, às 11h08
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Alex Band sabe agradar aos fãs - Stephan Solon/Divulgação/Via Funchal

Um músico pode até reclamar que a indústria fonográfica não anda bem das pernas. Mas, se for esperto como Alex Band, ele saberá se adaptar aos novos tempos. Líder da banda norte-americana The Calling, que se apresentou nesta sexta, 5, na Via Funchal, em São Paulo, Band sabe que o sucesso (ao menos o financeiro), hoje, não vai bater à sua porta e se convidar para entrar. Em 12 músicas, mais duas de bis, o rapaz de 27 anos mostrou o que sabe para continuar na ativa no jogo do pop. Outros teriam sucumbido ao xeque-mate mais cedo.

Quando veio a São Paulo em 2003, então auge do sucesso, o grupo chegou a lotar dois concertos. Agora, conseguir transitar pelo espaço da casa de shows era tarefa bem mais tranquila. Mas já na música de abertura, "Stigmatized", o hiperativo Alex se mostrou o tipo de sujeito que pode ter duas, duzentas ou duas mil pessoas gritando seu nome em coro: suará a camisa para tratar a todos fãs incondicionais. Com o visual franzino destacado por camisa preta justa, jaqueta (com uma caveira atrás, abrilhantada por strass) e violão com alça de oncinha, ele aparece como um Mickey Mouse do rock-pop, mandando beijos e saudações a todos em seu campo de visão.

Não estranhe se nos referimos mais ao "show de Alex" do que "ao show da banda". O The Calling surgiu após sentir "o chamado" há oito anos, virou sensação pouco depois disso, lançou o segundo álbum em 2004 e, então, desapareceu das paradas. Para quem vê de fora, o sumiço é tão misterioso quanto um capítulo de Lost. Eles eram, afinal, autores de hits como "Wherever You Will Go" e "For You" - essa, carro-chefe do filme Demolidor. Em resumo, o lance foi este: cofundador do grupo, Aaron Kamin deixa a banda em 2004. Meses depois, Alex sai em carreira solo. Mas o que fazer com o repertório da primeira metade do século 21, uma roleta premiada de hits? Pois bem: agora, o show é The Calling + Alex Band. E, com os outros integrantes vestidos de preto, e um telão de fundo com as iniciais "A.B.", está claro qual é a única personalidade que deve se destacar.

Já na segunda música, Alex troca o violão por sua guitarra. "Anything" é quase uma mensagem velada aos fãs: o verso "I'll do anything" soa como a afirmação de que astro da noite fará qualquer coisa para agradar sua plateia. Em seguida, outro sucesso: "Adrienne", que é "uma garota muito, muito má", diz ele, em inglês. "Could It Be Any Harder" completa a cascata de sucessos do tempo do The Calling. No fundo, a fórmula deste pop não é nenhum segredo da Nasa: são melodias cantaroláveis - no chuveiro, no trânsito, ao ouvido da namorada. Tanto faz. O que importa é que a maioria delas parece feita na medida certa para servir de trilha para um casal da novela das oito.

As próximas canções vêm da fase solo do frontman: "Tonight" e "What is Love". Embora menos conhecidas do público, elas são cantadas com a mesma garra pelo sempre empenhado Alex - que, em várias faixas, curte fazer mímica do que está cantado (se é a palavra "love", faz um coração; "you", aponta para o público; e por aí vai). A impressão que passa é que o rapaz, que dali a 72 horas faria aniversário (ganhou, claro, parabéns coletivo dos fãs), não nasceu com outra escolha a não ser subir ao palco. Assim como quem é canhoto não vai escrever um livro com a mão direita, Alex Band é um cara sem livre arbítrio - aqui, no lado positivo. É até possível imaginá-lo afastando a longa franja dos olhos e evocando uma máxima de Lulu Santos, em "De Repente, Califórnia": "Meu destino é ser star".

"For You" retoma a "fase The Calling", seguida por "If Only" e "Things Will Go My Way". Em seguida, mais uma de Alex Band: "Rest of Our Lives", uma espécie de hino para corações românticos, com a manjada e (por isso mesmo) sempre boa de mira frase "hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas". O frontman emenda outra de sua carreira solo, "Never Let You Go", e antes de mandar o maior de todos os hits do The Calling, "Wherever You Will Go", recebe a visita de uma fã no palco. A garota, que deu um olé na segurança e correu para abraçar o músico, foi recebida por Alex com um olhar de "estou assustado, mas amando o assédio".

Depois de mais de cinco minutos de intervalo, com um membro da produção tentando ajeitar o som do teclado trazido ao palco, The Calling + Alex Band voltam ao palco para duas músicas de bis. Só um problema: teclado a postos, banda pronta e... esqueceram do microfone para o vocalista. Erro consertado e, 23h55, as madeixas de Alex deixam de balançar de lá para cá. Hora de dar tchau. Mas a saideira está garantida: o artista da noite avisa que estará disponível para autografar o CD até o "último cliente". Meia hora depois, a fila está mais engarrafada que Marginal Pinheiros na hora do rush. Alex Band, definitivamente, sabe jogar o jogo do pop.

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