Redação Publicado em 09/12/2009, às 12h44
Há exatos 15 anos, o Brasil (e o mundo) perdia um de seus maiores compositores: Tom Jobim. O músico faleceu aos 67 anos de idade, no dia 8 de dezembro de 1994, em Nova York, após sofrer uma parada cardíaca, enquanto se recuperava de uma cirurgia para retirada de um câncer na bexiga.
Em 2008, Tom foi eleito pela Rolling Stone Brasil o maior artista da música brasileira. Relembre, abaixo o texto publicado na edição 25.
Tom Jobim - O Maestro Soberano da Música Popular Brasileira
Por Marcelo Ferla
A verdadeira verdade sobre Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim haverá de ser exata quando, ao relatar o anseio original do carioca da Tijuca-de-Ipanema, em vez de lembrar que ele queria ser um arquiteto, afirmar que ele foi o mais brilhante arquiteto das harmonias e melodias brasileiras. Tom Jobim, que chegou a cursar a Faculdade de Arquitetura propriamente dita, edificou o que veio a ser chamado Música Popular Brasileira, termo vago e generalizante como todo rótulo, mais impreciso quando engloba a obra de um gênio que se notabilizou por descrever em sons o que nem as palavras alcançam - a montanha, o Sol, o mar e outras maravilhas da arquitetura divina.
Compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista com participação em mais de 50 discos, ele nasceu em 25 de janeiro de 1927, na Cidade Maravilhosa que tanto descreveu, e morreu em 8 de dezembro de 1994, na Nova York que mordiscou a contragosto, para onde foi porque sua música tinha horizontes tão universais que se tornou indispensável amplificá-la no centro do furacão mundial.
Apesar de um dia ter afirmado que "fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal", por conta das críticas locais ao refinamento de sua obra, igualmente taxada de americanizada, Tom nunca deixou de pensar em feijoada e caipirinha enquanto os donos do mundo lhe serviam champanhe e caviar e dançavam um som que nem era para dançar. Feito um "Garrincha de fraque", Tom encarava o mais suntuoso teatro gringo como se fosse um inferninho do Beco das Garrafas, onde tocou pra ganhar uns trocados, no início dos anos 50. Acabou concedendo um típico chiado da Guanabara às idiossincrasias do jazz.
Aluno de Hans-Joachim Koellreutter e discípulo de Villa-Lobos e Debussy, arranjador da gravadora Continental, por onde lançou o primeiro sucesso, "Tereza da Praia" (1954), compositor das músicas da peça Orfeu da Conceição (em 1956, com letras de Vinicius de Moraes), Tom concebeu a trilha sonora da Pasárgada brasileira, o país futurista idealizado por JK e traçado por Oscar Niemeyer, o campeão mundial de futebol de 1958 que, movido por craques que subvertiam a lógica cartesiana dos joõesdas- canelas-brancas, se assemelhava ao genial João de Juazeiro (Gilberto do Prado Pereira de Oliveira), o craque que driblou a batida do samba para construir a bossa nova.
João Gilberto tocou violão no LP Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso; Tom Jobim forneceu as melodias e harmonias para este que foi o marco da bossa. João gravou "Chega de Saudade", em 1959; Tom fez os arranjos. E compôs "Garota de Ipanema", "Samba do Avião", "Só Danço Samba", "Ela É Carioca", "Insensatez", "Wave", "Águas de Março", "Retrato em Branco e Preto", "Eu Sei que Vou Te Amar" e outra dezena de canções que carregam nos espaços silenciosos entre as vogais e as consoantes o mais sublime lirismo e o mais discreto suingue da música popular brasileira.
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