O caso rendeu o EP Tribunal do Feicebuqui, que pode ser baixado no site oficial do artista
Antônio do Amaral Rocha Publicado em 26/04/2013, às 17h58 - Atualizado às 19h35
Em março de 2013, Tom Zé topou fazer a locução de um comercial da Coca-Cola que exaltava as qualidades do povo brasileiro a propósito da Copa do Mundo. E não demorou muito para surgirem, por meio das redes sociais, opiniões favoráveis e contrárias a tal iniciativa. Tom Zé aproveitou a indignação de alguns como tema para o seu próximo EP, Tribunal do Feicebuqui, que pretende lançar em formato físico no segundo semestre com uma grande festa em Irará (Bahia), sua cidade natal.
O que achou desse patrulhamento? Você levou a sério?
Não é questão de levar a sério ou levar na pilhéria. É que eu sempre procurei fazer música para essas pessoas que me seguem e sempre estive trabalhando como quem trabalha para elas. Eu sou um empregado que tem um patrão.
Esse patrão é o seu público?
Alguma parte mínima desse público. O fenômeno da comunicação de massa é uma coisa que expandiu muito, de tal maneira que tem os mais diversos compartimentos. E esse compartimento que me acompanha sempre dialoga comigo, eu respeito a opinião e nunca quis fazer aquela coisa de chamar de pessoas intrometidas e nem de patrulhamento. Foi só uma música para colocar o extrato de tudo o que eles tinham falado contra e falado de mim com exagero ou não. E outra voltada para os que falaram bem e como tive a ideia de fazer a doação do cachê para a banda de música de Irará, daí Irará passou a fazer parte. Eu tinha feito um jingle para o guaraná Taí em 1977, com o José Zaragoza, na DPZ. Resolvemos também gravar o jingle e o Marcelo Segreto, da Filarmônica de Pasárgada, sugeriu fazer mais versos e fez duas estrofes finais.
Então, a música “Tribunal do Feicebuqui” é uma satisfação às pessoas que não gostaram do fato de você fazer a locução do comercial?
Na verdade, eu sempre faço música com o que está em volta de mim. O nome geral desse disco perdeu-se um pouco por isso. É Imprensa Cantada. Eu sempre digo que não faço música para o contemplativo, faço música para o cognitivo das pessoas e acabo sempre fazendo canções sobre o que está em volta de mim. Essa locução do comercial foi uma coisa que ficou em volta. Quando eu postei e estabeleci um diálogo com o público no Facebook imediatamente, nem sei quantas mil pessoas [até o dia 24 de abril, eram 823 compartilhamentos, 887 comentários e 2307 curtidas] se manifestaram. E quando sair o disco completo vai sair com o nome de Imprensa Cantada N. 2, que foi pinçado de um verso que o Emicida fez de improviso, quando ele foi chamado a participar. Então, vai se chamar Imprensa Cantada N. 2, com o subtítulo Tribunal do Feicebuqui.
E a ideia de doar o cachê do comercial para a Lítero Musical 25 de Dezembro, a banda de música de Irará? Já existia desde o começo ou foi mais uma sacada para se livrar do dinheiro “amaldiçoado”?
Eu já estava decidido a mandar o cachê para a banda de Irará que está sempre necessitada, sempre em dificuldades, e que é uma banda brilhante. Ela não pode mais tocar no concurso anual que o governo promove em Salvador porque sempre ganha todos os concursos, passou a tocar hors concours. A ideia de passar o dinheiro para banda foi, primeiro, porque a banda precisa, sempre precisou. E depois para eu poder fazer o chamado trabalho de pesquisa sossegado.
O interessante é que Tom Zé faz um salseiro antes, no melhor estilo da propaganda, criando uma necessidade no público para saber do que se trata, de como isso vai acabar. Tom Zé continua genial. É isso?
Bem, não é genial e justamente pelo fato de eu não ser gênio é que eu trabalho com aquilo que está em volta de mim. Às vezes, o que está em volta de mim tem a força que a publicidade teria.
O fato de pegar acontecimentos que te incluem é de uma picardia de marketing bem ajambrada. Tem claras essas coisas da autorreferência?
Isso é o espírito suicida que eu tenho. Se falam mal de mim eu faço uma canção justamente com essas palavras. O que custa? Tom Zé bundão, Tom Zé mané, Tom Zé baixou o tom. Não custa nada, ainda mais eu que sempre afirmei que me agarrei à música como tábua de salvação no desespero da minha infância. Não sou um inspirado, sou um trabalhador persistente e para mim as coisas são assim.
O tempo entre a época quando foi veiculada a propaganda (mês de março) e a ideia, execução e gravação das cinco músicas do EP foi bastante curto.
Logo que a propaganda começou a sair, as pessoas identificavam a minha voz e começaram os e-mails [com críticas]. Fiz aquele texto dizendo que eu estava preocupado com isso, “sempre me habituei a trabalhar com vocês ao meu lado”. Aí isso desencadeou um surto de mensagens de pessoas dizendo: “você precisa ganhar a vida, ou você está errado, você baixou o tom”. Quando isso aconteceu, a gente correu, os meninos me trouxeram as bandas, então cada um gravou em um dia e foi realmente tudo muito rápido.
Porque você resolveu deixar as cinco músicas iniciais para download gratuito? Isso não é um tiro no pé?
Tiro no pé? Bem, é que precisava sair alguma coisa agora e eu tenho a esperança de que quando sair o vinil e o CD, a gente possa argumentar: “agora vocês comprem o disco”. Depois que o disco sair, espero que as pessoas digam que também querem ter o objeto porque participaram mandando e-mails.
Você sabe como está a frequência de downloads?
Eu fiquei tão ocupado com tanta coisa ultimamente: pensando no disco e depois as conversas com o pessoal de Irará, sobre essa festa lá, se vai ser possível fazer um show, se vai ser possível a dança da lavagem sair na rua (a lavagem da igreja, que é a festa mais popular da cidade). Então, todas essas coisas me tomaram tempo. O Marcus Preto disse que já baixaram tanto que a gente já ganhou disco de ouro! Não sei se ele falou isso brincando.
Depois de estudar o samba, o pagode, a bossa nova, a tropicália, poderíamos esperar um “estudando o rock” por exemplo? Agora você vem com a ideia de que está estudando a propaganda, como diz a letra de “Tribunal do Feicebuqui”.
É, os meninos colocaram isso lá como uma citação do Estudando o Samba. Mas eu fiz propaganda. No ano de 1977, quando estava no ostracismo, o Mário Chamie conseguiu me empregar na DPZ. Eu passei cerca de oito meses lá, que foram maravilhosos. Eram o [Roberto] Dualibi, o [Francesc] Petit, o Zaragoza e também o Washington Olivetto que era funcionário. Então, cada coisa que um deles me pedia, eu ia pra casa... eu comprei um gravador de quatro canais igual àqueles dos Beatles, e a gente produzia. Eu, o Vicente Barreto, o Serginho Leite, que depois se tornou cômico e era um instrumentista fantástico e arranjador muito bom. A gente fazia os arranjos e muitos jingles saíram da casa dele, ali na Avenida Pompéia, diretamente pra rádio.
Interessante que você aproveitou a ideia do refrigerante e lembrou-se da sua música para o guaraná Taí (1977), que é a música “Taí” de Joubert de Carvalho, com a letra modificada.
Ia ser a propaganda do guaraná. Resolveram fazer uma pesquisa e na pesquisa todos diziam que deveria ser um rock, então fizeram outra coisa. Eles deram o nome ao guaraná, eu não sei se o nome veio da canção. Eles compraram a música da mão dos herdeiros para fazerem o que quisessem e ela ficou disponível.
Quando você lançar o disco no segundo semestre de 2013 pretende ter o patrocínio de alguma marca?
Logo que a gente tomar fôlego, vamos recomeçar as gravações com o máximo de pressa pra terminar e mandamos fabricar. Eu gostaria que se aparecesse um patrocínio para irmos a Irará lançar com uma festa lá - é claro que a gente vai aceitar, seja de quem for. E se pudéssemos ir com todas as pessoas que estarão no disco, Irará ia ter uma festa parecida com a viagem do homem à lua!
As cinco músicas do futuro CD Imprensa Cantada N. 2 podem ser baixadas no site tomze.com.br/.
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