O crooner permanece como um dos maiores cantores da música popular norte-americana
Paulo Cavalcanti Publicado em 03/08/2016, às 14h38 - Atualizado às 14h53
Quando o rock estourou, na metade da década de 1950, por um instante ficou a impressão que ele iria soterrar a geração de crooners que teve sua formação no jazz, no suingue das big bands e no cancioneiro gestado na Broadway e em Hollywood. Não foi nada disso que aconteceu. Nomes como Frank Sinatra, Bing Crosby, Perry Como, Sammy Davis Jr., Dean Martin e outros seguiram gravando nas décadas posteriores, além de se apresentando ao vivo para grandes plateias e fazendo aparições em programas de TV. Eles ainda eram referência quando o assunto era o período de ouro da canção norte-americana. Com a passagem das décadas, Tony Bennett se revelou como o mais longevo de todos estes intérpretes lendários. Nesta quarta, 3, ele completa 90 anos.
De ascendência italiana, Anthony Dominick Benedetto nasceu em Astoria, Queens, Nova York, no dia 3 de agosto de 1926. Ele cresceu em meio a Grande Depressão, na década de 1930, trabalhou para sustentar a família, estudou arte e serviu o exército nos anos 1940, chegando a lutar na Segunda Guerra Mundial. Depois de deixar as forças armadas, se profissionalizou como cantor. Naquela época, usava o nome Joe Bari. Em 1949, ele se apresentou ao lado da cantora de jazz Pearl Bailey e do comediante Bob Hope. Foi Hope quem o aconselhou usar o nome Tony Bennett.
Com a crescente exposição, o cantor foi contratado pela Columbia Records, na época a maior gravadora do mundo. O produtor Mitch Miller aconselhou Bennett a “não imitar Frank Sinatra”, que em breve iria deixar a gravadora. Na Columbia, Bennett alcançou enorme sucesso com uma sequência de singles altamente comerciais escolhidos por Miller.
Bennett trabalhou com grandes arranjadores como Percy Faith, Ray Conniff e outros. Enquanto isto, também interpretava standards da canção norte-americana em arranjos que privilegiavam seu lado mais jazzístico. Ele seguiu forte até a metade dos anos 1960, mas começou a ficar para trás, não só pelo fato do rock ter tomado espaço de artistas tradicionais como ele, também porque se separou do pianista Ralph Sharon, que era seu indispensável diretor musical. Paralelamente, enfrentava problemas na vida pessoal e a Columbia o forçava a gravar material pop que Bennett achava que nada tinha a ver com ele.
Na década de 1970, o cantor deixou a Columbia. Bennett, então, passou pela Verve, Fantasy e até teve um selo próprio selo chamado Improv. Mas os anos 1970 foram ruins para ele. Em certo momento, não tinha contrato com nenhuma gravadora, estava sem empresário e com poucos shows agendados. Ele estava falido e o imposto de renda queria tomar a casa dele em Los Angeles. O segundo casamento também tinha desmoronado e ele começou a usar drogas intensamente. Em 1979, o crooner teve uma overdose quase fatal de cocaína. Em meio a tantas crises, D'Andrea Bennett, mais conhecido como Danny, filho do primeiro casamento dele, entrou na jogada. Ele conseguiu solucionar os problemas financeiros do pai e pensou em uma nova estratégia para alavancar a carreira do artista. Danny queria ser músico, mas tinha consciência de suas limitadas habilidades. Por outro lado, ele era excelente para os negócios. A estratégia era fazer com que Tony Bennett “começasse de novo” e se afastasse da antiga imagem, associada a Las Vegas e ao circuito de nostalgia. A ideia de Danny era não mostrar o pai apenas como um mero sobrevivente de uma era distante da música popular. Ele queria deixar claro que o legado do crooner era vital para a cultura do país, um dos poucos indivíduos que era capaz de dar vida de forma convincente ao grande cancioneiro norte-americano, exemplificado na obra de Irving Berlin, Cole Porter, George e Ira Gershwin, Jerome Kern, Richards Rodgers, Lorenz Hart, Oscar Hammerstein II, Johnny Mercer e outros.
Ele deixou Los Angeles e retornou a Nova York (a “melhor coisa que fiz”, disse mais tarde). O Bennett-filho, agora, colocava o pai para cantar em locais pequenos, cultuados clubes de jazz. Danny conseguiu reatar o pai com Ralph Sharon e pediu que a Columbia desse uma nova chance a ele – afinal, foi naquela gravadora que Bennett havia conseguido seus grandes êxitos comerciais. The Art of Excelence (1986) foi o álbum do retorno de Bennett à Columbia e logo o disco já estava nas paradas. Isto não acontecia com Bennett desde The Good Things in Life (1972).
Bennett passou a “se vender” no circuito de talk shows da TV norte-americana, cantando e dando entrevistas com frequência nos programas de Conan O’ Brien e de David Letterman. Ele apareceu em um MTV Awards ao lado do Red Hot Chili Peppers. O clipe de “Steppin' Out with My Baby” passou a ser exibido no canal musical e deu a Bennett uma grande visibilidade. Em 1994, veio o MTV Unplugged: Tony Bennett. Foi um grande sucesso de audiência para a TV musical e o CD obteve uma enorme vendagem, ganhando disco de platina. “Eu sempre fui ‘fora da tomada’”, brincou. Aos poucos, Tony Bennett virou referência para toda uma geração que não tinha conhecimento do tipo de música que era feita antes de o rock surgir. “Eu sou a Madonna de minha época”, falou brincando.
Tony Bennett não parou mais. Ele tem gravado consistentemente, fazendo discos temáticos como Perfectly Frank (1992, com canções imortalizadas pelo amigo Frank Sinatra); Steppin' Out (1993, um tributo ao cantor e dançarino Fred Astaire); Tony Bennett on Holiday (1997, homenagem a Billie Holiday); Tony Bennett: The Playground (1998, com canções infantis), dentre outros. Ele também gravou com k.d. lang, Lady Gaga e Amy Winehouse, dentre outros nomes contemporâneos. Em 2006, quando completou 80 anos, lançou Duets: An American Classic, em que, ao lado de nomes como Bono, Paul McCartney, Elton John, Elvis Costello, Sting, Stevie Wonder, Diana Krall e Celine Dion, revisitou algumas das grandes canções de seu país. Em 2011, saiu o segundo volume do projeto, desta vez com as participações de Willie Nelson, Aretha Franklin, Lady Gaga, Amy Winehouse e outros. O mais recente trabalho de Bennett é The Silver Lining: The Songs of Jerome Kern, no qual interpreta canções do mestre Jerome Kern ao lado do pianista Bill Charlap.
Um democrata, pacifista e liberal desde os tempos de juventude, Bennett é um apoiador de causas humanitárias e sempre participa de eventos beneficentes. Em 1965, ele marchou ao lado de Dr. Martin Luther King em Selma, Alabama, para protestar contra o racismo. Os tempos de dureza ficaram para trás. Hoje, ele é dono de um patrimônio de U$ 20 milhões, mas segue com o pé no chão e sem afetação – ele é o mesmo sujeito que nos anos 1950, quando estava começando, recusou a pressão dos empresários para fazer uma cirurgia plástica para reduzir o nariz. Tony Bennett já falou que não pretende se aposentar e quando não está no palco ou no estúdio de gravação se dedica à pintura. Hoje, ele é um patrimônio da música dos Estados Unidos e é sempre hora de revistar o seu legado.
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