Franquia da Pixar, embora tenha personagens cativantes para o público infantil, segue conversando, mesmo, com os adultos
Pedro Antunes Publicado em 23/06/2019, às 12h00
Se você mesmo não disse, já ouviu a frase: "Ser um adulto não é fácil". Entre as tantas durezas apresentadas na vida adulta, geralmente relacionadas com a nossa carteira constantemente fazia - como boletos incansáveis e velozes, novas responsabilidades, prazos no trabalho, a batalha por um salário com um zero a mais ou mesmo a encontrar algum lugar que pague um algum salário - está o fato de entender que a infância, iludidamente transformada em adolescência, juventude e metamorfoseada pela petulância dos 20 e poucos anos, acabou.
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Levou, com ela, a vida que, até então, mudava gradativamente. Perdia-se amigos, companhias e rotinas, ganhava-se outras. Era tudo mais suave, não era? Até certo momento, quando se passa da barreira dos 27 anos, as responsabilidades aumentam e, pronto. Tudo está diferente demais, até os fios de cabelo branco deixam de ser surpresa.
É impressionante como Toy Story, ao longo de quatro filmes aparentemente dedicados ao público infantil, com personagens clássicos para a molecada, como o xerife Woody e o astronauta Buzz Lightyear, é capaz de tocar um público crescido, em diferentes fases da vida.
Ouso dizer, inclusive, que cada um dos quatro filmes da franquia da Pixar - o mais recente, Toy Story 4, está atualmente em cartaz no Brasil - retrata um momento diferente dessa coisa horrível que insistem em idolatrar chamada "amadurecimento".
Da inocência do 1º Toy Story, lançado lá em 1995, até o quarto volume da saga, devastador, passa-se por algumas fases de luto pelas perdas emocionais encontradas ao longo da vida.
Chegamos, então, a Toy Story 4. Se seus olhos ainda tiverem lágrimas depois de Toy Story 3, de 2010, é bom levar alguns lencinhos de papel para enxugá-las. E, não se preocupe, o texto aqui não têm spoilers, apenas ideias de como a quarta animação franquia pode mexer com a gente.
Toy Story sempre foi uma história sobre despedidas. De fim de ciclos e, principalmente, de aceitação. Por mais difícil que essas transformações possam parecer, não há muito o que fazer a não ser seguir em frente, afinal.
A nova aventura de Woody, Buzz, Rex, Senhor Cabeça de Batata, entre outros, apresenta um novo brinquedo, criado pela própria Bonnie, nova criança da turma depois da tocante despedida de Andy em Toy Story 3. Garfinho é, como o nome diz, um brinquedo criado a partir de um garfo de plástico e outros objetos encontrados no lixo.
Embora ele seja o catalizador das viradas na trama do filme, ele não é tanta importância assim. Sua existência ajuda a fazer a plateia gargalhar por alguns momentos, principalmente pela sua fixação em voltar para o cesto de lixo, onde ele se sente mais confortável e protegido.
Garfinho, afinal, é o adulto que se recusa a se encarar como tal. Incapaz de perceber as mudanças pelas quais passou. Em negação para entender que ele não é mais lixo (qualquer interpretação com os boy lixo que aparecem aos montes por aí, jamais arrependidos e mudados, não é mera coincidência). Garfinho passa por uma jornada para entender que ele não precisa mais ser lixo, que existe um futuro brilhante diante dele, longe das sujeiras do passado.
Mas a jornada de Toy Story 4 vai além do novo personagem e passa, principalmente, pelos brinquedos que já conhecemos tão bem. Depois de tantos anos e encarar algumas mudanças na rotina, como as transformações de Andy, crescendo, e a doação para Bonnie, Toy Story 4 vai transformar para sempre o status quo da franquia.
É a amizade entre os brinquedos, sempre inabalável, que passa por uma mudança agora. Não deixam de se gostar, de estarem sempre juntos, eles só entendem como cresceram juntos e como seus sonhos se transformaram também. Toy Story traz despedidas dolorosas, mas necessárias.
É uma aula de "deixar quem se ama ir", como tantas vezes nós, pessoas reais e adultas, precisam aceitar. Toy Story mostra o que a vida já deixava claro com a frequência de encontros menor entre aqueles que eram nossos amigos mais próximos, as mensagens que não são mais trocadas diariamente, com as novas rotinas, que impedem um almoço ou, no fim de semana, nos forças para propor uma tarde no bar.
Não é um fim, um término de amizade ou coisa do tipo. É transformação, mesmo, como Toy Story sempre escancarou, das formas mais docemente terríveis. As pessoas que amamos (da forma que for, afinal estou aqui falando de amizade, mas pode ser em um relacionamento, mesmo) também precisam seguir em frente, viver o que tiver pela frente. Não faz mal a ninguém. Só dói, mesmo. Quem disse que ser adulto era fácil?
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