O filme é uma leitura divertida de grandes problemas e brigas do mundo cultural
Yolanda Reis | @_ysreis Publicado em 29/11/2020, às 17h00
Não tem muito jeito: todos amam a própria geração. Os adolescentes dos anos 1980 não viveriam sem hard rock, os do ano 2000 guardam Britney Spears no coração. Talvez, em 2040, o K-Pop seja saudosismo e maiores hits em rádios de clássicos. Mas sabemos, há uns 70 anos agora: os estilos musicais nascem, crescem, evoluem, e depois descansam. Foi assim com o jazz, blues, rock 'n roll, hard rock, disco...
Mas há alguém inveterado: o pop. Ele muda, se veste disso ou daquilo (Beatles era pop em sua época, assim como a Britney Spears, e agora Billie Eilish - embora dificilmente estes tenham algo em comum). E sobrevive. Pop é pop nas paradas de sucesso do mundo todo há muitas décadas.
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Por isso, não é muita surpresa que seja o motor de vários filmes musicais. Trilhas sonoras são pop. Exemplo disso é Trolls, da Dreamworks: "Can't Stop the Feeling", do Justin Timberlake; "What U' Working With", da Gwen Stefani - ou até a aplicação animada da deprimente "Sound Of Silence".
Mas... embora mais popular, pop não pode ser o único estilo do mundo. É isso que Poppy, protagonista do filme, descobre em Trolls 2 (que chega aos cinemas em breve, 3 de dezembro). Ela, nascida e criada num mundo pop com vários outros trolls da família, aprende que não está sozinha: existem outros tipos de tribos musicais por aí! Sertanejos, funkeiros, roqueiros, eletrônicos, clássicos... O mundo musical é gigantesco!
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Com seu bom coração, Poppy, a Rainha do Pop, quer ajudar Barb, a Rainha do Rock, em uma missão especial: reunir todas as tribos musicais para, assim, poderem ser felizes, cantar, dançar e abraçar juntos. Mas a roqueirona, cheia de piercings, jaquetas, moicanos e atitude, não quer bem isso: o objetivo secreto é o rock ser a única música no mundo. Poppy demora a entender isso - e, então, começa a lutar para unificar, não dividir.
Trolls 2, embora em uma proposta de filme infantil, traz à mesa uma discussão séria no mundo musical: imposição e diversidade. A mensagem mais óbvia é para Barb, do rock. Ela quer destruir todos os outros sons para fazer do Rock o ÚNICO possível. Te lembra algo? Tipo aqueles roqueiros que não aceitam mais nenhum outro som além do deles mesmo? Pois é: muitos fãs do estilo acreditam ser a música superior.
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Mas a verdade é clara: não há música superior. Cada uma é uma - e cada um é um. Está tudo bem com isso, no final do dia. O funk não é menos música, assim como o sertanejo também não é melhor que esse ou aquele. E fica chata a tentativa constante de fazer outras pessoas gostarem da sua playlist, e só dela.
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Mas há outra mensagem de Trolls 2, e essa talvez nem tão clara, é: o pop também pode ser muito chato! Não a música, em si, mas o próprio pop. A princesa Poppy é a personificação (ou trollificação) disso: quando chega na vila sertaneja e encontra os trolls cantanto na sofrência, fica horrorizada. E decide que não quer aquilo: faz um pot-pourri de sucessos pop para mostrar para todos ali sua "música de verdade".
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Se Barb passa o tempo inteiro tentando impor o rock para todos os trolls, mas Poppy se esforça para empurar o pop goela abaixo por acreditar ser o melhor e a única maneira de unificar... Qual das duas estaria mais errada?
Um momento de reflexão, também, é como a ideia de Poppy de unir todas as tribos não é realmente uma harmonia de convivência - é uma conversão de tudo ao modo animado dela. Quer que tudo seja pop (mesmo que para isso precise se apropriar dos gostos do outo, deixando-os em segundo plano. Soa familiar com o mundo real?).
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Em união, separação, autonomia e superioridade, Trolls 2 deixa duas mensagens muito claras: a primeira é que não existe um ritmo musical superior. Embora o pop se gabe disso, a verdade é que ele não existiria sem todos os outros. Nem o rock, com complexo de 'sei fazer tudo o que vocês fazem - mas melhor', é, de fato, melhor. Depois, em uma controversa à heroína Poppy, aprendemos como todos são diferentes, e não precisamos, necessariamente, ser iguais ou nos juntar. Está tudo bem existir mais de uma forma de viver.
Outra mensagem, também nas questões de superioridade, é: tudo passa. Não adianta você tentar a todo custo impor os seus gostos às outras pessoas, às novas ondas, às novidades e aos jovens. Você só sai como chato. O rock existe, sim, mas agora na tribo dele. Dificilmente vai espalhar para todos os cantos do mundo novamente, como aconteceu entre os anos 1950 e 1980 - e está tudo bem nisso tudo. Cada nova era é uma nova música - e embora doa um pouco dar adeus ao nosso holofote, precisamos. Outras músicas e outros trolls precisam deles.
Trolls 2, da Dreamworks, chega aos cinemas em 3 de dezembro, quinta. A partir do dia 26, é possível comprar ingressos para pré-sessões. O filme traz de volta Jullie como Poppy, e Hugo Bonemer como Tronco. Simone Mendes também participa - é Delta D, rainha do sertanejo.
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