Em conversa com o site da Rolling Stone Brasil, Paul Garred, baterista do The Kooks, despeja clichês sobre o país e fala sobre a falta de uma "ciência do rock 'n' roll"
Por Anna Virginia Balloussier
Publicado em 17/06/2009, às 01h06Tudo bem, talvez Paul Garred não saque muito de Brasil. Baterista do The Kooks, o cara mandou de cara, em entrevista à reportagem deste site, um músico que adoraria conhecer das bandas de cá: o francês Manu Chao. Mas o dono dos cabelos meticulosamente desgrenhados (como pede a cartilha indie) terá chance de conhecer melhor o país em breve - e, quem sabe, alguns grupos realmente canarinhos. No dia 19 de junho, ele vem com sua banda para apresentação única no país, na Via Funchal, em São Paulo.
Da janela de um hotel em Londres, de onde falou à repórter, em maio, Garred descreve o que vê: "Carros, mais carros, estrada e tempo ruim". Já o Brasil que imagina - "nosso empresário esteve aí e voltou falando maravilhas" - é tão clichê que quase o podemos visualizar de sandálias e bermuda cáqui no calçadão de Copacabana, com nariz e testa emplastrados de filtro solar, gritando "samba!" para transeuntes. "Ele [o agente] diz que tudo aí é bem brilhante. Há o nascer do sol, tudo é um grande carnaval, dança e esse tipo de coisa."
Talvez sem graça com a confusão do batera inglês, o mediador do telefone - como de praxe, há alguém para fazer a conexão entre o músico e a imprensa brasileira - explica que Manu Chao não é conterrâneo de Ronaldo. "Talvez você conheça Seu Jorge?", ele pergunta, em inglês. "Não exatamente", vem a resposta, sem grande embaraço. "Bebel Gilberto?" Nova negativa. Melhor ir para uma área em que o know-how de Garred seja bem aproveitado.
Música pop. Apesar de ter caído no gosto da galera indie, o som dos rapazes de Brighton (além do batera, há o vocalista Luke Pritchard, o guitarrista Hugh Harris e o baixista Peter Denton) tem vocação para o gênero dito de massa - o horror para muita gente que prefere manter as pérolas musicais encontradas por aí em uma ostra indie, a salvo do mainstream. Ao jornal britânico The Guardian, em 2008, Pritchard disse não ter medo algum de cair na mesma categoria de uma Lady Gaga da vida. "Claro que somos pop! Todo o motivo de termos começado a banda era minha vontade de trazer de volta a boa música pop. Pop com alma."
Queremos saber se pop é mesmo o número do sapato da banda, cujo batismo vem da música "Kooks", do álbum Hunky Dory, de David Bowie. "Acho que somos uma banda pop", Garred reflete. Mas, em seguida, prefere partir para o relativo. "Agora, o cenário musical mudou muito. Talvez não sigamos regras em particular."
Formado em 2004 e com dois álbuns na garupa (Inside In/ Inside Out, 2006, e Konk, 2008), o grupo já tem seis músicas para o próximo trabalho. E seguir tendências não é a onda deles, afirma Garred. "Quando compomos, tentamos ir atrás da novidade. Não somos de modinhas. Vamos lá e misturamos o alfabeto. Integramos lances novos - não queremos seguir o que já está acontecendo." Mas Gared garante que não dá para radicalizar e mudar o estilo de uma hora para outra. "Não há uma ciência para o rock 'n' roll. Tudo o que queremos é criar nossa pequena experiência."
O baterista confessa que, "nos velhos tempos", os integrantes do Kooks costumavam ser "um pouco mais malucos". Hoje, eles não necessariamente caem em baladas pós-show. E quebrar quarto de hotel, por exemplo, parece comportamento de... moleque. "Quando você está na estrada a toda hora, percebe que o hotel é onde você passa a morar."
Antes de desligarmos, quero saber se Jarred gostaria de perguntar alguma coisa sobre o Brasil. "Como está o tempo [no país]?", ele indaga, como se esperasse uma resposta no gênero "nunca menos que 35°C, todos dançam em filas de conga, os bebedouros jorram caipirinha". Na semana da entrevista, a temperatura em São Paulo começava a despencar. A voz do músico murchou. "Não está quente aí?"
Se o clima tropical não vai até o Kooks, pelo menos a apresentação da banda, Garred garante, esquentará o ambiente. "Nós sempre temos muita energia." Vai uma amostra?