Durante as gravações do programa Cultura Livre, músicos se despedem de 2012 e contam seus planos para o próximo ano
Pedro Antunes Publicado em 31/12/2012, às 10h10 - Atualizado às 10h10
A música “Gente Aberta”, composição do prolífero duo formado por Roberto e Erasmo Carlos, é entoada como um mantra por um time de música independente no palco do Teatro Franco Zampari, localizado ao lado da estação de metrô Tiradentes, no centro de São Paulo. Bárbara Eugênia, Tatá Aeroplano, Filipe Catto, Pélico, Tulipa Ruiz, Blubell, a banda Letuce, Márcia Castro, Karina Burh, Rafael Castro, Kiko Dinucci, Rael, Felipe Cordeiro, Juçara Marçal e Maurício Pereira estão juntos em uma edição especial do programa Cultura Livre, da emissora TV Cultura. Trata-se de uma edição especial no formato “show da virada”, como aquele que costuma ser realizado na Avenida Paulista, todos os anos, que irá ao ar nesta segunda, 31, a partir das 23h.
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Aqui, no programa apresentado por Roberta Martinelli, sertanejos, axés, pop e outros gêneros comuns na festança montada na avenida mais famosa da capital paulista dão lugar ao experimentalismo mais vanguardista de uma geração que, se não é de todo paulistana de nascimento, o é de coração. E os versos da canção de Erasmo e Roberto, cantados na exibição por volta da meia-noite, não poderiam ser melhor para representar esse grupo tão heterogêneo, que une a guitarrada do Pará, com Felipe Cordeiro, com as influências roqueiras dos anos 60 d’O Terno, as invencionices de Kiko Dinucci e Karina Buhr, os causos de Tatá Aeroplano e os corações partidos Pélico. “Gente certa é gente aberta / Se o amor me chamar / Eu vou”, diz a letra.
Não só aberta, é uma geração sem medo de integrar. Seja aceitando as diferentes idades, seja recebendo de braços abertos as novas sonoridades. “São pessoas de outros lugares, que vieram para São Paulo e aqui encontram um mesmo espaço”, explica Maurício Pereira, músico que pode ser considerado pai dessa geração – de forma metafórica, já que é possível perceber a influência dos seus trabalhos solo ou com Os Mulheres Negras, projeto formado com André Abujamra, ou de forma literal, já que é pai de Tim Bernardes, guitarra e voz d’O Terno, banda-base de toda a gravação. “Eu digo isso sem bairrismo, entende? É um momento muito particular da cidade”, justifica.
Do seu repertório, Pereira cantou “Trovoa”, uma linda ode ao amor à mulher, gravada recentemente por Juçara Marçal em seu projeto Metá Metá, ao lado de Kiko Dinucci e do saxofonista Thiago França. Eles cantaram a música pela primeira vez juntos.
“Esse recorte é de pessoas que estão absolutamente se divertindo”, analisa a nascida em Santos Tulipa Ruiz, que no palco canta “Script”. “Acho que uma característica dessa geração é justamente ter todas as idades, ser atemporal”, completa a cantora. O resumo deste ano, para ela, é simples e está estampado nas lojas de discos (ou no site oficial da cantora): “Foi Tudo Tanto”, diz, lembrando do seu segundo álbum, lançado justamente em 2012. “Passou muito rápido, muita coisa nova aconteceu. Desta vez, gravei um disco com estrutura e o público, quando cheguei aos shows, já sabiam as músicas”.
Dentre os presentes, ninguém mais sentiu a força dessa integração do que o guitarrista, compositor e cantor Felipe Cordeiro. Foi em 2012 que o paraense lançou em São Paulo seu disco Kitsch Pop Cult. “Não é tão fácil quanto pensam”, alerta o músico. “Acho que as políticas públicas incentivam essa integração e hoje há uma busca por uma identidade brasileira”, diz.
Momentos como aquele, da gravação, são “especiais”, resume o guitarrista, que no palco se apresentou ao lado do pai, o grande mestre da guitarrada. “É uma iniciativa de muita coragem”, elogia Pélico, que usou o ano para rodar pelo país com o seu Que Isso Fique Entre Nós, de 2011. Um trabalho que, aliás, rendeu-lhe frutos interessantes nos últimos 12 meses, como a participação no último álbum de Tom Zé, Tropicália Lixo Lógico, na faixa
“De-De-Dei Xá-Xá-Xá”. “Foi surreal estar do lado dele”, conta Pélico. “Ele divaga, mas não desconversa”.
Para Pélico, a grande barreira é conseguir extrapolar as mídias, saindo da internet e chegando à TV e rádio. “Ser menos segmentado, entende?”. Tatá Aeroplano, que lançou disco em 2012 - sua estreia solo depois de tantos projetos coletivos -, também vê a iniciativa como algo importante para ajudar a sedimentar a geração deles. “Estou empolgado com 2013”, diz o músico, que planeja novo álbum com o Cérebro Eletrônico e um novo assinado sozinho.
O apocalíptico 2012 foi justamente um período de levar o trabalho para mais lugares. É o caso de Karina Burh, que lançou os discos Eu Menti Pra Você e Longe de Onde, em um curto período entre 2010 e 2011. “Agora, eu quero rodar mais”, diz ela, que aproveitou o ano para tocar em lugares ainda inexplorados, como o festival Goiânia Noise ( leia mais aqui e aqui ). “A formação da banda agora está mais solta”, diz ela, cheia de planos para 2013. “Vou continuar tocando. Para onde me chamar, eu vou”. Roberto e Erasmo não poderiam estar mais certos.
Veja, abaixo, a lista de músicas executadas durante o programa:
1 - “Zé, Assassino Compulsivo” - O Terno
2 - “Por Aí” - Bárbara Eugênia
3 - “Sinta o Gole Quente do Café que Eu Fiz Pra Ti Tomar” - Bárbara Eugênia e Tatá Aeroplano
4 - “Tudo Parado na City” - Tatá Aeroplano
5 - “Adoração” - Filipe Catto
6 - “Recado” - Pélico
7 - “Script” - Tulipa Ruiz
8 -“Protesto” - Blubell
9 - “Que se Chama Amor” - Blubell e Letuce
10 - “Insoniazinha” - Letuce
11 - “29 Beijos” - Márcia Castro
12 - “Não Me Ame Tanto” - Karina Buhr
13 - “Pra Vender Mais, Agradar Mais, se Falar Mais” - Rafael Castro
14 - “Lizete” - Kiko Dinucci
15 - “Gente Aberta” – Todos os convidados
16 - “Caminho” - Rael
17 - “Legal e Ilegal” - Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro
18 - “Sonho Parasita” - Léo Cavalcanti
19 - “Quem Nasceu?” - Laura Lavieri
20 - “Morto” - Juçara Marçal
21 - “Trovoa” - Juçara Marçal e Maurício Pereira
22 - “Compromisso” - Maurício Pereira
23 - “66” - O Terno
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