Líder do Odd Future falou (pouco) sobre sua carreira e o disco Goblin
Paulo Terron Publicado em 27/06/2011, às 18h20 - Atualizado em 04/07/2012, às 11h34
Na hora marcada para a entrevista com a Rolling Stone Brasil, Tyler, the Creator estava mais preocupado com outras coisas, debatidas por ele no Twitter: TV, jogos de Xbox e polêmicas sobre gírias usadas pelos skatistas de Los Angeles. Dá para perceber que o líder do Odd Future Wolf Gang Kill Them All não está nem próximo de telefonar para manter o compromisso quando ele começa a conversar com Jasper Future, outro integrante do coletivo de hip-hop, sobre a animação Regular Show (do Cartoon Network, para quem os músicos supostamente estão criando um piloto de série), a que ambos estão assistindo. Quase duas horas depois, a gravadora brasileira (a Lab344, que coloca o álbum Goblin, o segundo de Tyler, no mercado nacional em breve) tenta descobrir com o braço norte-americano da distribuidora Beggars Banquet o que está acontecendo. E a resposta é: nada, aparentemente.
Nos últimos dias, o rapper de 20 anos anda entediado. Ele fraturou o pé durante uma performance na casa House of Blues, em Los Angeles, e não pode andar de skate com os amigos nem fazer shows (ele ainda tem duas semanas de recuperação pela frente, antes de tirar o gesso). Enquanto isso, a dupla de empresários Kelly e Chris Clancy é responsável por domar os integrantes selvagens do Odd Future, cerca de uma dezena de músicos prolíficos que começaram a carreira distribuindo música de graça na internet.
É Kelly quem "laça" Tyler para a entrevista. Depois de informar que ele não teria muito tempo já que estavam em um estúdio (as batidas em alto volume, ao fundo, confirmam), ela passa o celular para o rapper. "Está tudo horrível" é a primeira frase dele, respondendo a um "Tudo bem?". Fica claro que, apesar de ele estar se referindo a um estado físico, o pé quebrado, Tyler está dentro de um de seus muitos personagens. Ou simplesmente está sem saco para conversar com um jornalista. "Não consigo me movimentar, então é um saco", ele completa, com a mesma falta de vontade e sem mudar o tom grave da voz.
Com Goblin, Tyler se aproveitou pela primeira vez de um esquema profissional de lançamento e distribuição, por meio de um acordo de um único álbum com a XL. Foi também a primeira vez em que ele viu suas músicas formarem um disco em formato físico, uma mudança radical em relação ao antecessor Bastard, distribuído online gratuitamente. Por que a mudança? "Não sei... Quero dizer, por que eu ia querer continuar lançando as coisas como eu fazia? É uma pergunta meio esquisita." Sim, mas a fama do Odd Future nasceu dessa reformatação do "faça você mesmo", sem apoio de grandes empresas. "Foi legal, mas não estávamos ganhando dinheiro algum, então..." Quer dizer que agora vale a pena? "Sim, continuarei lançando mais coisas dessa forma futuramente."
Outro rumo que o músico pretende seguir é o de diretor. "Não sei de onde veio [o interesse], simplesmente apareceu de surpresa", diz, com um suspiro de impaciência. "É um talento natural, como todo o resto que faço. Ninguém me ensinou a fazer rap ou a tocar piano, aprendi tudo sozinho. Foi a mesma coisa com os filmes." São dele os dois primeiros clipes do disco novo, "Yonkers" (assista ao final do texto: ele come uma barata, vomita e se enforca) e "She" (um suspense com elementos de terror, paranoia e ocultismo), e ele já definiu Goblin como "um filme" várias vezes. "As imagens simplesmente saem, não são específicas", ele explica. "A forma como o vídeo sai é exatamente como a música soa para mim. Não posso fazer um clipe para cada faixa do disco, então fica a cargo de cada um criar suas próprias imagens. É um filme na minha cabeça, mas talvez não seja para os outros."
Seja em letras de músicas ou em entrevistas, Tyler, the Creator é uma metralhadora ao citar influências ou origens musicais. Neste dia em particular, ele não estava interessado em se aprofundar no tema. Os primeiros álbuns que chamaram a atenção dele, ainda pré-adolescente, foram 2001 (Dr. Dre), The Velvet Rope (Janet Jackson) e Behind the Front (Black Eyed Peas). Essas obras tiveram algum impacto na forma dele compor? "Acho que sim." Ele escuta de Herbie Hancock e Joy Division? "Sim." O piano foi o primeiro instrumento pelo qual se interessou? "Foi." Escreve ao piano? "Todas as minhas músicas podem ser tocadas ao piano." Nos álbuns há um diálogo entre ele e um terapeuta fictício, Dr TC. É assim que ele vê as músicas dele, como confissões sobre a vida? "É." E como se sente ao escrevê-las? "Ahn... Pelo menos eu posso me conhecer. Não penso muito quando estou escrevendo." E quando está cantando ao vivo? "É legal fazer shows, gosto de estar no palco."
O ânimo de Tyler só parece receber uma (pequena) injeção de adrenalina quando o foco sai da música e vai para o âmbito pessoal. As críticas a ele são sempre focadas em um mesmo ponto: a suposta homofobia das letras. Essa limitação de assunto incomoda? "Não sei... Superei isso. Antes me incomodava bastante, agora nem ligo mais", conta. "Eu sou motivado por negatividade."
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