Com apresentações de Method Man & Redman e Thaíde, entre outros, festival se encerrou no último domingo, 24
Por Bruno Raphael Publicado em 25/07/2011, às 11h55
Com um público menos diversificado, o terceiro e último dia do Black na Cena foi dedicado exclusivamente ao rap e ao hip-hop. No entanto, quem compareceu à Arena Anhembi no último domingo, 24, pôde perceber que o fato de haver menos gêneros musicais no line-up talvez só tenha colaborado para a melhor interação do público com os artistas. Tal fato ficou mais explícito nas duas grandes apresentações que fecharam o festival, os Racionais MC's e a dupla Method Man & Redman.
Como aconteceu nos outros dois dias do festival (saiba mais ao final deste texto), a abertura do evento teve um grupo nacional, com apresentação de Russo, Bocage e Banda Soul3. Em seguida, Sandrão RZO fez um show repleto de participações especiais, dando lugar ao anfitrião da festa, Thaíde, para uma apresentação acompanhado da banda Funk Como Le Gusta. A dupla de rappers Naughty by Nature foi a encarregada de animar o público antes do principal nome da noite, os Racionais MC's.
Apesar dos mais famosos nomes internacionais do evento terem se apresentado na sexta e no sábado, o público na Arena Anhembi no início da tarde de domingo era surpreendente maior do que nos outros dias de evento. Isso ficou explícito na apresentação do grupo de Mano Brown e cia., que, com meia hora de atraso, foi ovacionado quando surgiu diante da plateia no fim da tarde, às 18h45. Quando as luzes começaram a iluminar o palco e se pôde ver apenas o DJ KL Jay no palco, uma atmosfera de suspense começou a cercar a apresentação.
Talvez isso se deva ao fato dos Racionais MC's serem, de longe, o grupo mais avesso à mídia entre os que se apresentaram no festival. Qualquer declaração de Mano Brown vira ouro, e não foi diferente quando o grupo tomou de assalto o palco. As grades da Área VIP se sacudiram quando ele rimou os primeiros versos de "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar", épico hip-hop de 11 minutos do disco mais aclamado do grupo, Sobrevivendo no Inferno, de 1998. No entanto, o grupo optou por não tocá-la na íntegra, emendando "Eu Sou 157". O público, ensandecido, cantava todas as letras, como se o apelo pop de um rap cheio de gírias e versos rápidos fosse a coisa mais fácil do mundo de se assimilar. E, provavelmente devido ao talento de Ice Blue, Edy Rock e Mano Brown, talvez realmente seja.
"Até pra usar óculos tem que estar preparado pra guerra", brincou Brown, após retirar uma armação colorida do rosto, atípica de seu estilo durão. Depois, trajado com uma jaqueta de couro e uma lente escura que lhe davam um ar mais "racional", ele gesticulou com KL Jay durante "Rapaz Comum". O fato se deveu à má qualidade do som no início da apresentação, algo nítido também no show do Public Enemy, no último sábado. Ao contrário de Chuck D, o rapper do Capão Redondo parou uma canção no meio, e disse: "Eles [o público] estão avisando faz tempo, a gente é que não quis parar. Tem jeito de arrumar isso aí?". O rapper foi atendido depois de alguns problemas com o microfone de Edy Rock, e então o show seguiu sem imprevistos, com "Da Ponte Pra Cá", extraída do último disco de inéditas do grupo, Nada Como Um Dia Após O Outro Dia, lançado nove anos atrás. "Nunca tive bicicleta ou videogame, agora eu quero o mundo igual Cidadão Kane", cantou o público junto com Brown, enquanto bicicletas customizadas passeavam pelo palco.
Após um sample de "Chove, Chuva", de Jorge Ben Jor, os Racionais tocaram uma das músicas que deve estar presente no novo álbum do grupo, ainda sem previsão de lançamento. "Tá Na Chuva" tem um clima bem mais leve que as canções do início da carreira dos Racionais. Mas a calmaria durou pouco, até que emendaram "Oitavo Anjo" a "Negro Drama", canção que chegou a virar provérbio nos subúrbios de São Paulo e, por que não dizer, do Brasil.
"Tem gente que se esconde. Eu não tenho por que me esconder, um cara como eu vai ter inimigo? [risos] É, pra cada degrau que a gente sobe, tem um inimigo mais forte", declamou Brown, antes de "V.L. (Parte I)", outro hit que virou um retrato social, em vez de um simples amontoado de versos. Já perto do fim da apresentação, amigos e familiares do grupo subiram ao palco após "Capítulo 4, Versículo 3", para cantarem juntos "V.L. (Parte II)". "Meus guerreiros de fé, quero ouvir!", pediu Brown, para guerreiros que cantaram em toda a Arena Anhembi, consumando possivelmente a melhor interação entre artista e público dos três dias de festival.
Method Man & Redman
Com uma hora de atraso, a dupla Method Man & Redman foi a encarregada de fechar o evento, às 20h35 do domingo. Esbanjando simpatia, os membros do Wu-Tang Clan fizeram um show ao estilo "eu digo e vocês repetem" - que, se no começo parecia divertido, depois de umas quatro ou cinco repetições fez parte do público se questionar se quem estava no palco subestimava a inteligência de sua plateia. "Quem quer fumar nessa porra?", gritou Method Man, em um português arranhado que levantou a multidão presente. Em dado momento, o rapper fez graças que lembraram o humorista Sérgio Mallandro, ao fazer barulhos estranhos com a boca e mexer o corpo freneticamente, em atuação que fez até ele rir de si mesmo. A ideia humorística da apresentação até tem seu sentido: a dupla de rappers tem um passado de atuações em filmes cômicos e uma série de TV própria, Method & Red, que não chegou ao fim da primeira temporada.
"Ay-Yo!", com sua batida hipnótica e versos rápidos, deixou o público fã do hip-hop dos anos 90 nostálgico, e certamente essa era a intenção da dupla. "Nós gostamos de tocar coisas novas, mas antes nós vamos tocar as antigas. Entenderam? As antigas", diz Redman, antes de pedir para o público gritar com ele mais um de seus "Hell Yeah!", que precederam "How High", talvez o maior hit da dupla, que dá nome ao filme protagonizado por eles em 2001. "Nós temos um novo álbum para ser lançado em breve, repitam comigo: 'Novo álbum!'", avisou Redman, como um vendedor que anuncia produtos. E, com um clima quase circense, a apresentação de Method Man & Redman prosseguiu até o final do último momento do Black na Cena. Como entretenimento, é inegavelmente um sucesso. Como música, já é outra história.
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