Logan Marshall-Green, Noomi Rapace e Michael Fassbender em <i>Prometheus</i> - Reprodução

Um Deus para chamar de nosso

Prometheus, de Ridley Scott, busca a origem da vida humana nos alienígenas e, no caminho, encontra o velho embate entre religião e ciência

Stella Rodrigues Publicado em 15/06/2012, às 10h48 - Atualizado às 10h49

Atenção: o texto abaixo contém spoilers.

Acima de tudo, Prometheus é um filme feito para deslumbrar os olhos. O novo trabalho de Ridley Scott, uma espécie de prequel para Alien, o Oitavo Passageiro (1979), traz um visual fascinante e um 3D impecável que dá à tradicional gosma, matéria-prima básica do sci-fi com alienígenas, uma textura nojenta notável. Porém, sairá decepcionado do cinema quem esperar uma produção tão boa e inovadora como Alien.... Ou então, diálogos tão elaborados e intrigantes quanto os de Lost por parte de Damon Lindelof, corroteirista tanto desta série quanto do filme. De semelhança com o sucesso televisivo, apenas as pontas soltas e algumas saídas narrativas duvidosas.

O ambicioso retorno de Scott para a ficção científica estreia nos cinemas nesta sexta, 15. A obra tem como grande mérito o uso de uma estética luxuosa para levantar um dos temas mais discutidos de todos os tempos, a origem dos seres humanos. Usando lições de moral da mitologia e contrapondo religião e ciência, ora de forma interessante, ora com os maiores clichês possíveis, o diretor apresenta a história a bordo da nave Prometheus. Lá, um grupo de pessoas bastante diverso viaja ao suposto refúgio de nossos criadores para descobrir, afinal, de onde viemos. Participam da excursão o casal Elizabeth Shaw (Noomi Rapace, a Lisbeth da versão sueca de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) e Charlie (Logan Marshall-Green), autores da pesquisa arqueológica a respeito da gênese da raça humana. Ela, apesar de ser o pilar principal da ciência e crer que a origem humana está nos alienígenas, levanta constantemente a questão religiosa, dando uma maior riqueza de opiniões que é necessária ao debate. Comandando a missão está a fria e aparentemente implacável Meredith Vickers (Charlize Theron), que representa o misterioso Peter Weyland (o irreconhecível Guy Pearce), o milionário responsável por financiar a expedição. Como não poderia faltar em um blockbuster, completam o time principal dois personagens que, apesar de também serem do “time ciência”, estão lá somente pelo alívio cômico: o biólogo Millburn (Rafe Spall) e o geólogo Fifield (Sean Harris).

Por último, porém mais importante do que todos citados até aqui, temos o único não humano a embarcar na nave, o androide misterioso David (Michael Fassbender), que serve de mordomo da equipe. Educado e contido, o personagem baseia seu comportamento na atuação de Peter O’Toole em Lawrence da Arábia, mas o ator criou um robô cheio de referências a todos os outros grandes robôs da história da ficção. David é programado para ser indistinguível dos homens, mas o tiro sai pela culatra quando ele começa a desenvolver características demasiadamente humanas. Soa como algo que já foi feito à exaustão, mas a realidade é que a atuação de Fassbender rouba todas as cenas.

No fim, trata-se de uma história curiosa, cheia de belos simbolismos e bastante fácil de entreter. O conto grandioso a respeito de gênese – em todos os sentidos que esta palavra pode ter – carrega o tempo todo um tom subjacente de advertência inerente a histórias sobre a arrogância humana perante deuses. Em inglês, a expressão “meet your maker” (conhecer o criador) é sinônimo de “morrer”. Aqui, ela transita livremente entre os conceitos de nascimento e morte.

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