Embora o lançamento Ubisoft inove com habilidades de hacker, o game tem personagens fracos e cai na mesmice dos jogos de mundo aberto
Pedro Falcão Publicado em 31/05/2014, às 14h38 - Atualizado às 15h10
Desde o seu anúncio em 2012, Watch Dogs se tornou o jogo mais esperado para os novos consoles. Era uma promessa que resumia tudo o que queríamos ver na nova geração: um mundo aberto gigante, gráficos ultrarrealistas e formas inovadoras de interatividade. Dois anos e três atrasos no lançamento depois, o ânimo de quem esperava pelo game diminuiu bastante, e agora que finalmente o jogo está em mãos, lançado nesta semana batendo recordes de vendas da Ubisoft, parece que aquele sonho utópico de um futuro glorioso está um pouco longe da realidade.
Os games preferidos da Rolling Stone Brasil em 2013.
Na ação futurista de Watch Dogs, você interage com uma gigantesca Chicago virtual cheia de pessoas para conhecer, câmeras para invadir e inúmeros segredos para descobrir – contanto que consiga aturar o chato do protagonista Aidan Pearce e a limitada visão de mundo dele.
Pearce é um super-hacker tão empolgado com a vida quanto o Keanu Reeves em um dia nublado, a não ser quando está descendo a lenha em qualquer vilão que cometa o erro de cruzar o seu caminho. Infelizmente, esses são os únicos dois estados de humor demonstrados pelo personagem principal de Watch Dogs.
Desde o começo do jogo, a imagem que temos de Aidan é de um cara monotemático, obcecado por uma vingança que, em nenhum momento da história, consegue comover o jogador. A principal forma de interação com o universo ao redor dele é através de ameaças clichês grunhidas em direção a inimigos e ataques eficazes demais com um cassetete retrátil.
Trailer de Watch Dogs:
No fim das contas, Aidan só se expressa com monólogos tediosos que repetem a exaustão o mesmo discurso vigilantista cansado de Batman (deixando de lado o seu código moral intocável e aquela roupa maluca de morcego, é claro) ou com o bastão metálico estiloso, quebrando a fuça dos bandidos da cidade.
Essa bipolaridade melodramática e infundada cansa logo nas primeiras horas de jogo. A mudança repentina de humor e a falta de meios-termos psicológicos acabam afastando o jogador de quem deveria ser a estrela principal da história.
Com um protagonista com uma visão de mundo tão restringida, a forma com que o personagem interage com cenário também deixa o jogador passando vontade. Apesar de a Chicago de Watch Dogs ser tão viva e intensa quanto a Los Angeles fictícia de GTA V (em que outro jogo você tropeçaria em uma praticante de ioga no meio de uma praça enquanto foge desesperadamente da polícia a pé?), a sensação é que a cidade foi feita mais para ser olhada do que tocada.
Mesmo com todos os poderes espetaculares do smartphone do protagonista, aproveitar Chicago fora das missões se resume a atividades recreativas sem muito desdobramentos, como apostar um racha pelas ruas da cidade ou jogar xadrez com a turma da terceira idade de um parque. O único incentivo de Watch Dogs para que a cidade seja explorada é uma lista de conquistas que abre novas habilidades e itens nas lojas do jogo. Chicago pode até ser belíssima e convidativa, mas as opções de lazer nela são um pouco escassas.
A sensação de que o jogador não tem tanta liberdade neste universo quanto foi prometido se repete nas missões principais do game. Na grande maioria dos casos, devemos invadir uma base inimiga para conseguir acesso a um servidor, um disco rígido ou qualquer papinho tecno-romântico do tipo. Geralmente, é possível alcançar o objetivo dominando as câmeras do local e invadindo um punhado de sistemas de segurança; mas, se tudo der errado, meta bala em todo mundo e o problema está resolvido.
É uma sensação estranha: apesar de o forte mote de guerra tecnológica do jogo, pouquíssimas são as missões finalizadas só na ponta do fuzil. Como não há muita penalidade para quem escolhe usar uma arma de fogo em vez de tentar uma abordagem discreta e estratégica de invasão. O próprio game mata qualquer propósito de tentar resolver a missão através do uso da tecnologia mágica do smartphone do protagonista.
Vídeo mostra o mapa da Chicago virtual do game:
Jogar Watch Dogs me lembrou muito quando pus as mãos no primeiro Assassin’s Creed, outra série de ação da mesma Ubisoft. Lançado em meados de 2007, aquele game foi feito para aproveitar a empolgação da estreia do PlayStation 3. Apesar de mostrar todos os conceitos bacanas que elevaram a franquia ao estrelado, o jogo só brilhou e ganhou destaque nas continuações da série, que vieram anos depois.
Acredito que Watch Dogs vá seguir o mesmo caminho trilhado pela série-irmã. A possibilidade de hackear os sistemas de toda uma cidade é uma promessa fantástica, mas que infelizmente só fica mesmo no campo das ideias. Se num próximo jogo o protagonista for mais profundo que um pires, e deixarem que o cenário seja aproveitado sem frescuras, Watch Dogs pode facilmente se tornar uma das franquias mais importantes da nova geração de videogames.
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